quinta-feira, 31 de maio de 2012

O CORVO - GÊNESE, REFERÊNCIAS E TRADUÇÕES DO POEMA DE EDGAR ALLAN POE


Por Luíz Horácio Rodrigues



Traduzir é uma arte, uma arte exigente, uma arte sutil. Claudio Abramo em O corvo - Gênese, referências e traduções do poema de Edgar Allan Poe deixa a sutileza de lado e apresenta seu indispensável trabalho, de critica e análise, sobre a tradução. A regra vigente no Brasil e, segundo sua experiência e estudo, como deveriam trabalhar nossos tradutores. Ou melhor, ele também analisa traduções de estrangeiros.



Caricatura de Poe escrevendo O Corvo

O objeto do trabalho de Claudio é o poema "The Raven", apresentado no original, e em várias traduções. De Machado de Assis, passando por uma tradução em prosa de Abramo e traduções de Baudelaire e Mallarmé.


A tradução é um campo que ainda não recebeu a devida atenção. O corvo - Gênese, referências…. é obra indispensável aos cursos de tradução em nossas universidades. Tradução, essa terra de ninguém, campo onde aventureiros, escudados nas máximas"traduzir é trair", “transcriação e as liberdades daí advindas” ou "traduzir é rescrever" conseguem desfigurar completamente uma obra. Este aprendiz, também no ofício de traduzir, entende que no centro desse debate se encontram a tradução, as várias formas, e o original. O grau de equivalência do texto de chegada em relação ao texto de partida. Equivalência quer dizer sonoridade? Para alguns sim. Priorizar sons e ritmos, deixar a semântica em segundo plano, esse o modus operandis da maioria tradutora brasileira.

Claudio Abramo não se alia a tal corrente. Entende que ao agir dessa forma a tradução despreza o que há de mais importante no poema.

Edgar Allan Poe

O trabalho de Claudio Abramo é de uma riqueza rara em livros de critica literária. Aqui, além das questões técnicas estão bastante evidentes o estudo entusiasmado (só para não dizer apaixonado) e a coragem em com que expõem sua insatisfação aos rumos tomados pela tradução no Brasil. O autor rema contra a corrente e, como não sou de ficar em cima do muro, pulo para o interior de seu barco.


Claudio W. Abramo
Coragem pois aponta equívocos no trabalho do, para muitos - não me incluo - intocável, Machado de Assis. E a coisa se torna ainda mais grave, Claudio revela a origem de tais problemas. Nada mais nada menos que a tradução de Baudelaire. Pois é, Machado de Assis não teria usado o original "The Raven", trabalhou a partir de "Le Corbeau", a tradução assinada por Baudelaire e repetiu os erros do poeta francês.

Claudio Abramo aponta os erros, diz como seria o correto e justifica lançando mão de notas e observações. Sobre a tradução de Fernando Pessoa, por exemplo:

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,

Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.

Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,

Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,

Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,

Foi, pousou, e nada mais.

A seguir Abramo esclarece:

Os tempos ancestrais não são “bons” no original, mas “santos”. Mais adiante na 12 estrofe, Pessoa coloca “maus tempos ancestrais”um jogo de contrários que de modo algum está presente no original. Pessoa identifica Palas a Atena, uma imprecisão comum.

Dentro da imensa gama de teorias da tradução, escopo, equivalência (em seus intermináveis tipos) você, caro tradutor, com certeza encontrará ao menos uma que preencha suas expectativas ou limitações.

Tem para todos os gostos. Pobre leitor monoglota. Engolirá cada coisa!

A tradução não é uma terra de ninguém, tampouco um laboratório a produzir clones, mas deixar nítida sua origem, a paternidade se é que me faço entender.

Luíz Horácio Rodrigues -    Natural de Quaraí, pequeno município gaúcho na fronteira com o Uruguai, é formado em Letras e Mestre na mesma área. Viveu sua juventude na terra natal e em Porto Alegre, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em Letras e passou cerca de vinte anos ali, escrevendo e colaborando com páginas literárias de várias publicações. Atualmente reside em Porto Alegre (RS). Sua principal obra é a denominada Trilogia Alada, inaugurada com Perciliana e o pássaro com alma de cão, seguida de Nenhum pássaro no céu, e encerrada agora com Pássaros grandes não cantam.

Imagens: Internet