segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

D. João teve bastarda com sangue azul
(Notas Arqueológicas)



por Cláudia de Castro Lima

D. João VI


Dom João, o príncipe regente de Portugal que fugiu das tropas napoleônicas de mala e cuia para o Brasil, teve alguns filhos bastardos. E daí? Carlota Joaquina, sua mulher, também (desconfia-se que cinco de seus nove filhos não eram do marido). O que torna a filha do título – que, a propósito, chamava-se Eugênia Maria do Rosário – tão especial a ponto de ganhar um livro, O Segredo da Bastarda. [...]



Marquês de Marialva

A resposta encontra-se na mãe de Eugênia Maria, Eugênia de Meneses. Nobre, filha do marquês de Marialva, ela era dama de companhia de Carlota Joaquina, muito respeitada e estudada. Por isso, a princesa sentiu que a bastarda poderia, de alguma forma, representar uma ameaça à sucessão do trono.

Da. Carlota Joaquina

O relacionamento de Eugênia com a Coroa, para quem o pai trabalhava, era próximo. Ela era amiga da princesa desde que esta tinha 10 anos – quando saiu da Espanha para se casar com o príncipe João. Da amizade de infância ao convite para virar dama de companhia foi uma questão de tempo. Culta, divertida, bonita e dona de um belo par de olhos azuis, Eugênia logo despertou a atenção do príncipe regente, que fez diversas visitas secretas ao quarto dela – até que a engravidou.

De acordo com a escritora Cristina Norton, que pesquisou a vida de Eugênia por cinco anos para escrever O Segredo da Bastarda, quando Carlota ficou sabendo do que ocorrera mandou matar Eugênia. Ela foi obrigada a se afastar da família e a se esconder para o resto da vida em conventos – onde a filha nasceu e vi
veu até os 15 anos. Leia abaixo trechos da entrevista exclusiva que Cristina deu a História.



Entrevista


Cristina Norton


História – Como você descobriu a história de Eugênia e sua filha?


Cristina Norton – Li no livro A Última Corte Absolutista em Portugal uma menção ao fato de o rei só ter amado uma vez, e sua paixão ter sido Eugênia de Meneses. Nunca tinha ouvido isso e fiquei curiosa.


Um rei ter uma amante nunca foi novidade. Por que o caso de Eugênia desperta atenção?


D. João VI teve outros filhos bastardos. Um deles trabalhava nos jardins reais e, por chacota, era chamado de príncipe pelos colegas. Mas ele era filho de uma camponesa, não representava perigo para Carlota Joaquina. Já Eugênia era diferente. Ela pertencia à família mais importante de Portugal. Era uma rival para a princesa.

Eugênia se apaixonou por dom João?


Não. Me intrigou o fato de não ter achado nenhuma paixão dela. Antes de engravidar ela já havia decidido que nunca se casaria.


Como foi a vida da filha bastarda depois da morte da mãe?


Eugênia viveu com a filha num convento até ela ter 15 anos, quando morreu. Dom João, que mandava dinheiro todo mês para ela, pediu que um médico de sua confiança tirasse a menina do convento e a levasse para morar com ele, como se fosse sua filha. Só que Eugênia Maria se apaixonou pelo filho do médico. Pediu autorização do rei para casar-se com ele, mas não a obteve – se isso ocorresse, seria a prova de que eles não eram irmãos. Por isso, ela foi obrigada a casar-se com o bastardo do rei da Inglaterra, que era cônsul de Lisboa.

Fonte: "Aventuras na História"
Imagens: Internet