domingo, 23 de agosto de 2009

EUCLIDES DA CUNHA

Em agosto de 2009 comemora-se 100 anos da morte de Euclides da Cunha - militar, escritor, sociólogo, repórter jornalístico, historiador, geógrafo e engenheiro. Por sua trajetória inigualável, todos os anos, na cidade de São José do Rio Pardo, entre 09 e 15 de agosto, realiza-se a "Semana Euclidiana", porque ali ele vivia quando escreveu sua obra-prima Os Sertões, e tornou-se uma cidade turística conhecida como "O berço de Os Sertões".


Euclides Rodrigues da Cunha nasceu em Cantagalo, 20 de janeiro de 1866. Foi escritor, sociólogo, repórter jornalístico, historiador e engenheiro brasileiro. Órfão de mãe desde os três anos de idade, foi educado pelas tias. Freqüentou conceituados colégios fluminenses e, quando precisou prosseguir seus estudos, ingressou na Escola Politécnica e, um ano depois, na Escola Militar da Praia Vermelha.

Cadete republicano - Contagiado pelo ardor republicano dos cadetes e de Benjamin Constant, professor da Escola Militar, atirou durante revista às tropas sua espada aos pés do Ministro da Guerra Tomás Coelho. Euclides foi submetido ao Conselho de Disciplina e, em 1888, saiu do Exército. Participou ativamente da propaganda republicana no jornal O Estado de S. Paulo.
Proclamada a República, foi reintegrado ao Exército com promoção. Ingressou na Escola Superior de Guerra e conseguiu ser primeiro-tenente e bacharel em Matemáticas, Ciências Físicas e Naturais
.




Euclides casou-se com Ana Emília Ribeiro, filha do major Frederico Solon de Sampaio Ribeiro, um dos líderes da República.



Ciclo de CanudosEm 1891, deixou a Escola de Guerra e foi designado coadjuvante de ensino na Escola Militar. Em 1893, praticou na Estrada de Ferro Central do Brasil. Quando surgiu a insurreição de Canudos, em 1897, Euclides escreveu dois artigos pioneiros intitulados "A nossa Vendéia" que lhe valeram um convite d'O Estado de S. Paulo para presenciar o final do conflito. Isso porque ele considerava, como muitos republicanos à época, que o movimento de Antonio Conselheiro tinha a pretensão de restaurar a monarquia e era apoiado pelos monarquistas residentes no País e no exterior.


"Tragédia da Piedade"Morreu em 1909. Ao saber que sua esposa, mais conhecida como Ana de Assis, o abandonara pelo jovem tenente Dilermando de Assis, que aparentemente já tinha sido ou era seu amante há tempos - e a quem Euclides atribuía a paternidade de um dos filhos de Ana, "a espiga de milho no meio do cafezal" (querendo dizer que era o único louro numa família de tez morena) -, saiu armado na direção da casa do militar, disposto a matar ou morrer. Dilermando era campeão de tiro e matou-o. Tudo indica que o matou lealmente, tanto que foi absolvido na Justiça Militar. Ana casou-se com ele.

O corpo de Euclides foi examinado pelo médico e escritor Afrânio Peixoto, que também assinou o laudo e viria mais tarde a ocupar a sua cadeira na Academia Brasileira de Letras.

CRONOLOGIA

1866

Em 20 de janeiro nasce Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, na Fazenda Saudade, no arraial de Santa Rita do Rio Negro (hoje denominado Euclidelândia), município de Cantagalo (RJ). Filho de Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha e Eudóxia Moreira da Cunha. É batizado em 24 de novembro.

1869

Com apenas 3 anos perde a mãe. Passa a ser criado com a irmã mais nova, Adélia. A orfandade materna influencia o temperamento de Euclides, sendo ele considerado uma criança tristonha e introspectiva.

1870

Em companhia da irmã muda-se para Teresópolis, para viver com os tios Rosinda e Urbano Gouveia.Vive uma nova perda com a morte da tia Rosinda, que vinha exercendo o papel de segunda mãe.

1871-73

Euclides e Adélia são entregues aos cuidados de outra tia, Laura Moreira Garcez, casada com o coronel Magalhães Garcez, e vão morar em São Fidélis.

1874

Ao ingressar na vida escolar é matriculado no Colégio Caldeira, famoso no município. O colégio era dirigido pelo português exilado Francisco José Caldeira, pedagogo de idéias revolucionárias.

1877-78

O pai de Euclides muda-se para o Rio de Janeiro e passa a viver com os avós maternos, em Salvador, Bahia. É transferido para o colégio Carneiro Ribeiro.

1879

Volta a viver no Rio de Janeiro, desta vez com o tio paterno Antonio Pimenta da Cunha. Os estudos continuam no Colégio Anglo-Americano.

1880-82

Considerado um adolescente instável, mudou de estabelecimento de ensino por mais duas vezes, passando pelos colégios Vitório da Costa e Menezes Vieira.

1883-84

Transfere-se para o Externato Aquino, dirigido por um grande educador, João Pedro de Aquino. Presta exames de geografia, francês, retórica e história.Em conjunto com sete colegas, funda o jornal O Democrata e em 4 de abril de 1884 publica o primeiro artigo, no qual defendia a natureza e o equilíbrio ecológico.

1884-85

Começa a escrever versos em uma caderneta intitulada "As Ondas".Presta exames e é admitido na Escola Politécnica onde, por falta de recursos, estuda apenas um ano.

1886

Em 20 de fevereiro é transferido para a Escola Militar da Praia Vermelha, gratuita, sendo designado cadete número 308. A escola era tida como um dos principais centros intelectuais do País, ao lado das faculdades de Direito de São Paulo e Recife. Reencontra o professor Benjamin Constant e ingressa no movimento republicano.

1887


Registra em seu diário e demonstra com sua poesia uma crise íntima. Escreve para a "Revista da Família Acadêmica da Sociedade Literária da Família Acadêmica".

1888

Em 4 de novembro protagoniza o "Episódio da baioneta" ou "Episódio do sabre". Durante desfile em homenagem ao então ministro da guerra, o conselheiro Tomás Coelho, em protesto contra a monarquia, Euclides sai da fila de cadetes e tenta quebrar sua baioneta (pequena espada colocada na ponta do fuzil), jogando-a depois aos pés do ministro. É levado à enfermaria e tem diagnosticado um esgotamento nervoso por excesso de estudo. Porém, Euclides recusa-se a se considerar doente e ao ser submetido ao conselho disciplinar, reafirma suas convicções republicanas.

Apesar de ser perdoado por D. Pedro II, sua matrícula é cancelada e ele deixa o Exército em 14 de dezembro. Em menos de uma semana parte para São Paulo, cidade considerada o quartel general das lutas republicanas, onde é bem recebido.

Em 22 de dezembro escreve "A Pátria e a Dinastia", seu primeiro artigo para a Província de S. Paulo (hoje O Estado de S. Paulo), assinando apenas com suas iniciais. Dia 29 de dezembro passa a colaborar permanentemente na seção do jornal "Questões Sociais", sob pseudônimo de Proudhon, nome do filósofo francês teórico do Socialismo.

1889

No início do ano volta para o Rio de Janeiro.
Em 6 e 7 de maio presta exames para a Escola Politécnica.
Com a Proclamação da República, Euclides é chamado de volta ao Exército e em seguida promovido a alferes-aluno.
Deixa de escrever para a Província de S. Paulo e passa a colaborar com a Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro.

1890

Em 8 de janeiro matricula-se na Escola Superior de Guerra. No mês seguinte completa o curso de artilharia. É promovido a Segundo Tenente em 14 de abril.
Em de 10 de setembro casa-se com Ana Ribeiro, filha do general Solon Ribeiro, militar de destaque na proclamação da República.

1891

Realiza os cursos de Estado Maior e Engenharia Militar e vai para a Escola Superior de Guerra, torna-se Adjunto de Ensino na Escola Militar.

1892

Em 9 de janeiro é promovido a 1º Tenente.Obtém o título de Bacharel em Matemática, Ciências Físicas e Naturais.Inicia sua colaboração para O Estado de S. Paulo.

1893

O então presidente Floriano Peixoto convoca Euclides para uma entrevista e dá a ele a oportunidade de escolher o cargo que queria ocupar na nova administração do país. O engenheiro responde o que previa a lei para os recém-formados: um ano de prática na Estrada de Ferro Central do Brasil. Em 16 de agosto recebe a nomeação para trabalhar na estrada como engenheiro.

Cuida das obras de fortificação das trincheiras de Saúde, no Morro da Conceição.Em dezembro passa a fazer parte da Diretoria Geral de Obras Militares.

1894

Escreve duas cartas para a Gazeta de Notícias, com o título "A Dinamite", nas quais defende a democracia e a não violência. Eram respostas ao senador cearense João Cordeiro, que pedia o fuzilamento dos manifestantes antiflorianistas presos depois da Revolta da Armada.
Em conseqüência de sua atitude, é designado para servir em Campanha, cidade de Minas Gerais a fim de realizar refomas em um quartel, onde conhece João Luís Alves, que se torna seu grande amigo.

1895

Recebe a visita do pai, em fevereiro e com ele deixa Campanha, mudando-se para Belém do Descalvado (atualmente Descalvado), em São Paulo.Em 28 de junho é agregado ao Corpo do Estado Maior.

1896

Deixa o Exército em 13 de julho, por estar desencantado com a República e por divergir do governo Floriano Peixoto quanto ao tratamento dado a prisioneiros políticos. É reformado como 1º Tenente.

Em 18 de setembro assume o cargo de engenheiro-ajudante da Superintendente de Obras Públicas do Estado de São Paulo. Passa a viajar pelo interior de São Paulo para a construção de pontes, edifícios públicos, restauração de obras e demarcação de limites.

1897

Escreve para O Estado de S. Paulo dois artigos sobre a campanha de Canudos, publicados respectivamente em 14 de março e 17 de julho. No primeiro deles, intitulado "A nossa Vendéia", compara a primeira batalha de Canudos com a luta ocorrida na França entre republicanos e camponeses defensores da monarquia.

A convite de Júlio de Mesquita é enviado como correspondente de guerra do O Estado de S. Paulo e segue em 4 de agosto para os sertões da Bahia junto da comitiva militar do ministro da guerra, Marechal Carlos Machado Bittencourt.

Passa vários dias em Salvador, observando as tropas que chegam à Bahia e partem para os sertões, e envia os primeiros artigos.

Em 1º de setembro chega em Queimadas, estação ferroviária e "porta" para os sertões de Canudos.

Deixa a cidade em 4 de setembro e passa por Tanquinho, Cansação, Quirinquinquá, até chegar a Monte Santo, dia 7. No dia seguinte, descreve em seu diário de guerra o calvário de Monte Santo, e parte para Canudos.

Em 16 de setembro chega ao palco da guerra. Continua a enviar artigos com as observações colhidas durante o conflito e faz diversas anotações, que posteriormente seriam utilizadas no livro Os Sertões.

Com o massacre dos seguidores de Antonio Conselheiro e o conseqüente fim da guerra, Euclides volta a Salvador, onde permanece por alguns dias, retornando ao Rio de Janeiro em 17 de outubro.

Em 26 de outubro, de volta a São Paulo, publica em O Estado de S. Paulo o último artigo da série "Diário de uma expedição", intitulado "O Batalhão de São Paulo".
Depois vai para Belém do Descalvado para descansar na fazenda do pai.


1898

Publica no O Estado de S. Paulo, em 19 de janeiro, as primeiras amostras de Os Sertões, no artigo "Excerto de um livro inédito".

É incumbido da reconstrução da ponte sobre o Rio Pardo, que desabara na cidade de São José do Rio Pardo.

Reside com a família no sobrado da Rua 13 de Maio, esquina com Marechal Floriano, local onde hoje se situa a Casa de Cultura Euclides da Cunha, a Casa Euclidiana.

No barraco de zinco próximo à ponte, enquanto supervisionava a reconstrução , Euclides começa a redigir Os Sertões.

Francisco Escobar, intendente municipal e homem de grande cultura, estimula o escritor, fornecendo livros e reunindo um grupo de intelectuais para a leitura dos primeiros capítulos.

1900

Escreve para o jornal O Rio Pardo um artigo intitulado "O 4º Centenário do Brasil".
Em maio termina a redação de Os Sertões e Francisco Escobar contrata o sargento de polícia José Augusto Pereira Pimenta para transcrever em boa caligrafia os originais.


Novamente é chamado para colaborar em O Estado de S. Paulo, desta vez para fazer uma análise dos cem últimos anos das atividades humanas no País. O artigo "O Brasil no século XIX" é publicado em 31 de dezembro de 1900.

1901

É promovido a Chefe de Distrito de Obras.Em 31 de janeiro nasce o terceiro filho de Euclides, Manoel Afonso, registrado apenas como Manoel mas conhecido como Afonsinho.

A ponte sobre o Rio Pardo é inaugurada em 18 de maio com grande festa.

Muda-se para São Carlos do Pinhal (atual São Carlos), São Paulo, para acompanhar a construção do edifício do fórum da cidade.

Em seguida fixa residência em Guaratinguetá, SP. É transferido para o Segundo Distrito de Obras.

1902

Garcia Redondo, amigo de São Paulo, apresenta Euclides a Lúcio de Mendonça, que o encaminha ao Sr. Massow, da Editora Laemmert, que se propõe a editar o livro financiado pelo autor.
Recebe as primeiras páginas impressas do livro em maio. Antes da publicação Euclides vai ao Rio de Janeiro e corrige em cada volume os 80 erros que verificara.


Escreve, por recomendação da Superintendência de Obras, Relatório sobre a Ilha de Búzios.
É transferido para Lorena no Vale do Paraíba.


A Livraria Laemmert lança no Rio de Janeiro Os Sertões. O livro é sucesso de crítica e de vendas, sendo que todos os volumes da 1ª edição se esgotam em dois meses.

1903

A segunda edição de Os Sertões é publicada em julho.
Em 21 de setembro é eleito para a cadeira número sete da Academia Brasileira de Letras, antes ocupada por Valentim Magalhães.


Em 20 de novembro toma posse no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Demite-se da Superintendência de Obras Públicas de São Paulo.

1904

É nomeado engenheiro-fiscal da Comissão de Saneamento de Santos em 15 de janeiro. Muda-se para o Guarujá e percorre ambas as cidades do litoral paulista.

Prepara a pedido de Dr. Cardoso de Almeida relatório sobre Os Reparos nos Fortes de Bertioga.
Em 24 de abril demite-se do cargo depois de incidente com o chefe da comissão.


Desempregado, Oliveira Lima e José Veríssimo apresentam ao Barão do Rio Branco o nome de Euclides da Cunha para um cargo na Comissão de Reconhecimento do Alto Purus. Rio Branco o entrevista e o nomeia em agosto Chefe da Comissão.

Em 13 de dezembro parte para o Amazonas.

1905

Reside em Manaus, aguardando instruções.

Chega à foz do Chandless em 25 de maio.

Em 3 de julho participa de banquete em Curanjá e discursa, lamentando a ausência da bandeira nacional no local.

Volta a Manaus em 23 de outubro. Encerra os trabalhos da Comissão em 16 de dezembro.

1906

Retorna ao Rio de Janeiro e fica adido ao gabinete do Barão do Rio Branco. Apresenta ao Barão do Rio Branco o relatório da Comissão do Alto Purus.Em julho nasce o filho Mauro, que vive apenas sete dias.

Em 18 de dezembro toma posse na Academia Brasileira de Letras recebido por Silvio Romero, em cerimônia com a presença do Presidente Afonso Pena.

Contrastes e Confrontos, uma reunião de artigos é publicado pela Editora Literária Tipográfia do Porto (Portugal).

1907

Continua adido ao gabinete do Barão do Rio Branco, em situação precária, à procura de estabilidade, mas atraído pela figura do Barão.Nasce Luís, registrado como filho de Euclides.
Em setembro lança "Peru Versus Bolívia", pela Livraria Francisco Alves.


Convidado pelo Centro 11 de Agosto dos alunos da Faculdade de Direito de São Paulo, pronuncia a conferência "Castro Alves e Seu Tempo".

1908

Ainda no Itamaraty, trabalhando com o Barão do Rio Branco é envolvido no incidente do telegrama número 9, promovido pelo Ministro das Relações Exteriores da Argentina Estanislau Zeballos, comprometendo as relações com o Brasil. Responde ao Chanceler argentino de forma enérgica, sem contestação.

Prefacia o livro Poemas e Canções de Vicente de Carvalho.

Prefacia o livro Inferno Verde de seu grande amigo e companheiro na Escola Militar Alberto Rangel.

Termina o livro À Margem da História, com estudos sobre a Amazônia, que seria publicado depois de sua morte pela Livraria Chardron, de Portugal.

1909

Inscreve-se no concurso de lógica no Colégio Nacional, hoje Colégio Pedro II, com outros quatorze candidatos, ficando Farias Brito em primeiro lugar e Euclides da Cunha em segundo. A legislação da época facultava o Presidente da Repúlica escolher entre os dois primeiros colocados, e Euclides é nomeado professor. Ministrou a primeira aula em 21 de julho.

Na manhã de 15 de agosto Euclides vai armado ao subúrbio carioca da Piedade, na residência de Dilermando de Assis. O escritor e o cadete Dilermando trocam tiros. Euclides é assassinado e o episódio fica conhecido como "A Tragédia da Piedade".

O corpo é velado no Salão da Academia Brasileira de Letras no Silogeu Brasileiro e é sepultado na sepultura 3026 no Cemitério São João Batista.

http://www.euclidesdacunha.org.br/

A GUERRA DE CANUDOS

História da Guerra de Canudos, o líder Antônio Conselheiro, o messianismo no Nordeste do início da República, conflitos sociais na História do Brasil

A situação do Nordeste brasileiro, no final do século XIX, era muito precária. Fome, seca, miséria, violência e abandono político afetavam os nordestinos, principalmente a população mais carente. Toda essa situação, em conjunto com o fanatismo religioso, desencadeou um grave problema social. Em novembro de 1896, no sertão da Bahia, foi iniciado este conflito civil. Esta durou por quase um ano, até 05 de outubro de 1897, e, devido à força adquirida, o governo da Bahia pediu o apoio da República para conter este movimento formado por fanáticos, jagunços e sertanejos sem emprego.

O beato Conselheiro, homem que passou a ser conhecido logo depois da Proclamação da República, era quem liderava este movimento. Ele acreditava que havia sido enviado por Deus para acabar com as diferenças sociais e também com os pecados republicanos, entre estes, estavam o casamento civil e a cobrança de impostos. Com estas idéias em mente, ele conseguiu reunir um grande número de adeptos que acreditavam que seu líder realmente poderia libertá-los da situação de extrema pobreza na qual se encontravam.

Com o passar do tempo, as idéias iniciais difundiram-se de tal forma que jagunços passaram a utilizar-se das mesmas para justificar seus roubos e suas atitudes que em nada condiziam com nenhum tipo de ensinamento religioso; este fato tirou por completo a tranqüilidade na qual os sertanejos daquela região estavam acostumados a viver.

Devido a enorme proporção que este movimento adquiriu, o governo da Bahia não conseguiu por si só segurar a grande revolta que acontecia em seu Estado, por esta razão, pediu a interferência da República. Esta, por sua vez, também encontrou muitas dificuldades para conter os fanáticos. Somente no quarto combate, onde as forças da República já estavam mais bem equipadas e organizadas, os incansáveis guerreiros foram vencidos pelo cerco que os impediam de sair do local no qual se encontravam para buscar qualquer tipo de alimento e muitos morreram de fome. O massacre foi tamanho que não escaparam idosos, mulheres e crianças.

Pode-se dizer que este acontecimento histórico representou a luta pela libertação dos pobres que viviam na zona rural, e, também, que a resistência mostrada durante todas as batalhas ressaltou o potencial do sertanejo na luta por seus ideais. Euclides da Cunha, em seu livro Os Sertões, eternizou este movimento que evidenciou a importância da luta social na história de nosso país.

Conclusão : Esta revolta, ocorrida nos primeiros tempos da República, mostra o descaso dos governantes com relação aos grandes problemas sociais do Brasil. Assim como as greves, as revoltas que reivindicavam melhores condições de vida ( mais empregos, justiça social, liberdade, educação etc), foram tratadas como "casos de polícia" pelo governo republicano. A violência oficial foi usada, muitas vezes em exagero, na tentativa de calar aqueles que lutavam por direitos sociais e melhores condições de vida.

http://www.historiadobrasil.net/guerracanudos/


Os Sertões


O romance Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, surgiu de uma reportagem encomendada pelo jornal O Estado de S. Paulo. Encarregado de cobrir a Guerra de Canudos (1896-1897), Euclides encontrou nos confrontos entre o Exército brasileiro e um grupo de fanáticos religiosos liderados por Antonio Conselheiro matéria para descrever a geografia e a população do sertão baiano. Vistos como uma ameaça à jovem República brasileira, os seguidores de Conselheiro foram dizimados. "Aquela campanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciêmo-lo", afirma o escritor na nota preliminar do livro.

Dividido em três partes - A Terra, O Homem e A Luta -, o livro concentra diversas influências de seu tempo. Teóricos europeus, declaradamente ou não, alicerçam o autor na definição do sertanejo, depreciado pelo embasamento em correntes deterministas - hoje ultrapassadas. A obra, publicada no limiar do século 20, em 1902, de certa forma teria uma estreita ligação com o Naturalismo que a precede, mas apontava para o Modernismo que adviria duas décadas depois: o estudo do homem brasileiro seria um dos seus objetivos. Nascido na cidade de Cantagalo (RJ) em 1866, Euclides estudou engenharia na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, o que lhe forneceu os instrumentos para a análise e o exame feitos no livro. Seria impreciso enquadrar a obra em um único gênero. Não se trata apenas de um relato científico ou jornalístico. O entrecruzamento dessas formas com o emprego do lirismo, de complexas figuras de linguagem e do tom de "ataque franco", segundo o próprio Euclides, resultou na "bíblia da nacionalidade" - para tomar emprestada a definição do célebre abolicionista Joaquim Nabuco sobre o romance. Para a literatura brasileira, a grandeza de Os Sertões está obviamente no trabalho de linguagem operado pelo autor, que, sob o primeiro plano da objetividade científica, deixa-se tomar pela indignação e pelo espanto ante o que testemunha. Euclides via a República de maneira desiludida, identificava as "sub-raças" e prenunciava a sua extinção. Mas a natureza o surpreende quando o período é o das chuvas: "E o sertão é um paraíso... Ressurge ao mesmo tempo a fauna resistente das caatingas (...). (...) segue o campeiro pelos arrastadores, tangendo a boiada farta, e entoando a cantiga predileta... Assim se vão os dias. Passam-se um, dois, seis meses venturosos, derivados da exuberância da terra (...)". Esse deslumbramento alterna-se com o retrato da seca, o "martírio secular da terra". A proliferação de antíteses se dá também em outros níveis da obra, uma das razões que levam os críticos a ver um “barroco científico” moldando a narrativa. É de um Euclides observador preciso e rigoroso e plenamente hábil na construção de imagens que José Lins do Rego e Graciliano poderão herdar, cada um a sua maneira, as bases de um regionalismo maduro. Até sua morte no Rio de Janeiro, em 1909 - morto em um duelo com o amante da mulher -, Euclides ainda publicou o livro Contrastes e Confrontos (1907). À Margem da História (1909) foi lançado postumamente. Um livro em três partes Na divisão do relato, o esforço para sistematizar a vida sertaneja e compreender o destino de uma região.





A TERRA: O cenário do conflito. Aqui, a geologia e a geografia tratam de pormenores do solo, do relevo, da flora e do clima, impiedoso no período da seca. O relato científico, nestas páginas descritivas que antecedem o conflito, é talvez o mais belo do livro, sobretudo quando trata da vegetação. Os mandacarus, os cactos, os xiquexiques, as favelas - planta típica da região que daria nome a uma elevação local e teria outros significados anos mais tarde -, a catanduva, tudo é catalogado por uma poética científica.

O HOMEM: O antropólogo, o sociólogo e o etnólogo tomam a voz para desenhar a gênese do sertanejo, um Hércules-Quasímodo: "O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário." Traça-se a biografia de Antonio Conselheiro - "um gnóstico bronco", "o anacoreta sombrio" -, dos infortúnios da vida pessoal à transformação em líder religioso no crescente arraial de Canudos.

A LUTA: As sucessivas tentativas de invasão de Canudos pelo Exército. Somente a quarta expedição foi vitoriosa. No clímax do livro, a resistência da comunidade e os relatos das sangrentas batalhas. Euclides pormenoriza os embates entre os sertanejos e os soldados até o desfecho: “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao seu esgotamento completo”. O corpo de Antonio Conselheiro foi retirado de escombros e a cabeça foi cortada como prêmio: "Ali estavam (...) as linhas essenciais do crime e da loucura..."

http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/sertoes-401371.shtml

Domínio Público – Para baixar gratuitamente essa obra literária é só acessar:

http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/sertoes-401371.shtml

Obra – trechos

“Aquela campanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo.

E tanto quanto o permitir a firmeza do nosso espírito façamos jus ao admirável conceito de Taine sobre o narrador sincero que encara a história como ela o merece:
...” il s´irrite contre les démi-vérités que sont les démi-faussetés, contre les auteurs qui n´altèrent ni une date, ni une généalogie, mais dénaturent les sentiments et les moeurs, qui gardent le dessin des évenéments et en changent la couleur, qui copient les faits et défigurent l´âme: il veut sentir en barbare, parmi les barbares, et parmi les anciens, en ancien.” (Os Sertões, Nota Preliminar).


Terra ignota


Abordando-o, compreende-se que até hoje escasseiem sobre tão grande trato de território, que quase abarcaria a Holanda ( 9o 11-10o 20´de lat. E 4o- 3o de long. O R.J.), notícias exatas ou pormenorizadas. As nossas melhores cartas, enfeixando informes escassos, lá têm um claro expressivo, um hiato, Terra ignota, em que se aventura o rabisco de um ri problemático ou idealização de uma corda de serras.”(Os Sertões - A Terra ).

O sertanejo

O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.

A aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.

É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar-se de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre os estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o isqueiro, ou travar ligeira conversa com um amigo, cai logo - cai é o termo - de cócoras, atravessando largo tempo numa posição de equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica suspenso pelos dedos grandes dos pés, sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.”(Os Sertões – O Homem ).

Profecias

“Ora, esta identidade avulta, mais frisante, quando se comparam com as do passado as concepções absurdas do esmaniado apóstolo sertanejo. Como os montanhistas, ele surgia no epílogo da Terra... O mesmo milenarismo extravagante, o mesmo pavor do Anti-Cristo despontando na derrocada universal da vida. O fim do mundo próximo...

Que os fiéis abandonassem todos os haveres, tudo quanto os maculasse com um leve traço de vaidade. Todas as fortunas estavam a pique da catástrofe iminente e fora temeridade inútil conservá-las.

Que abdicassem as venturas mais fugazes e fizessem da vida um purgatório duro; e não a manchassem nunca com o sacrilégio de um sorriso. O Juízo final aproximava-se, inflexível.
Renunciavam-no anos sucessivos de desgraças :
“... Em 1896 hade (sic) rebanhos mil correr da praia para o certão (sic ); então o certão (sic ) virará praia e a praia virará certão (sic).


“Em 1897 haverá muito pasto e pouco rasto e um só rebanho e um só pastor.

“Em 1898 haverá muitos chapéus e poucas cabeças.

Em 1899 ficarão as águas em sangue e o planeta há de aparecer no nascente com o raio do sol que o ramo se confrontará na terra e a terra em algum lugar se confrontará no céu...

“Hade (sic) chover uma grande chuva de estrelas e aí será o fim do mundo. Em 1900 se apagarão as luzes. Deus disse no Evangelho: eu tenho um rebanho que anda fora deste aprisco e é preciso que se reunam porque há um só pastor e um só rebanho!”(Os Sertões - O homem)
“ Como quer que seja, para a Amazônia de agora devera restaurar-se integralmente, na definição da sua psicologia coletiva, o mesmo doloroso apotegma - ultra iquinotialem non peccavi - que Barleus engenhou para os desmandos da época colonial .


Os mesmos amazonenses, espirituosamente, o perceberam. À entrada de Manaus existe a belíssima ilha de Marapatá - e essa ilha tem uma função alarmante. É o mais original dos lazaretos - um lazareto de almas! Ali, dizem, o recém-vindo deixa a consciência... Meça-se o alcance deste prodígio da fantasia popular. A ilha que existe fronteira à boca do Purus, perdeu o antigo nome geográfico e chama-se a “ilha da Consciência”; e o mesmo acontece a uma outra, semelhante, na foz do Juruá. É uma preocupação: o homem, ao penetrar as duas portas que levam ao paraíso diabólico dos seringais, abdica as melhores qualidades nativas e fulmina-se a si próprio a rir, com aquela ironia formidável”.(“Terra sem história “, À Margem da história)
“A expansão imperialista das grandes potências é um fato de crescimento, o transbordar naturalíssimo de um excesso de vidas e de uma sobra de riquezas, em que a conquista dos povos se torna simples variante da conquista de mercados. As lutas armadas que daí resultam, perdido o encanto antigo, transformam-se, paradoxalmente, na feição ruidosa e acidental da energia pacífica e formidável das indústrias. Nada dos velhos atributos românticos do passado ou da preocupação retrógrada do heroísmo. As próprias vitórias perdem o significado antigo. São até dispensáveis.(...) Estão fora dos lanes o gênio dos generais felizes e do fortuito dos combates. Vagas humanas desencadeadas pelas forças acumuladas de longas culturas e do próprio gênio de raça, podem golpeá-las à vontade os adversários que as combatem e batem debatendo- se, e que se afogam. Não param. Não podem parar. Impele-as o fatalismo da própria força. Diante da fragilidade dos países fracos, ou das raças incompetentes, elas recordam, na história, aquele horror ao vácuo, com que os velhos naturalistas explicavam os movimentos irresistíveis da matéria.” ( Contrastes e confrontos).


“Os antigos mapas sul-americanos têm às vezes a eloquência de seus próprios erros.
Abraham Ortelius, Joan Martines, ou Thevet, sendo os mais falsos desenhadores do Novo Mundo, foram exatos cronistas de seus primeiros dias. A figura do continente deformado, quase retangular, com as suas cordilheiras de molde invariável, rios coleando nas mais regulares sinuosas e amplas terras uniformes, ermas de acidentes físicos, cheias de seres anormais e extravagantes - é, certo, incorretíssima. Mas tem rigorismos fotográficos no retratar uma época. Sem o quererem, os cartógrafos, tão absorvidos na pintura do novo typus orbis, desenhavam-lhe as sociedades nascentes; e os seus riscos incorretos, gizados à ventura, conforme lhos ditava a fantasia, tornaram-se linhas estranhamente descritivas. Num prodígio de síntese, valem livros.” (Peru versus Bolívia ).

http://www.vidaslusofonas.pt/euclides_da_cunha.htm

OBRAS

1884
CUNHA, Euclides da. Em viagem: folhetim. O Democrata, Rio de Janeiro, 4 abr. 1884.
1887
A flor do cárcere. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1 (1): 10, nov.
1887.
1888
A Pátria e a Dinastia. A Província de São Paulo, 22 dez.
1888.
Críticos. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1(7): 209-213, maio 1888.
Estâncias. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1 (10): 366, out. 1888.
Fazendo versos. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1(3): 87-88, jan. 1888.
Heróis de ontem. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1(8): 227-8, jun. 1888.
Stella. Revista da Família Acadêmica, Rio de Janeiro, 1(9): 265, jul. 1888.
1889
Atos e palavras. A Província de São Paulo, 10-12, 15, 16, 18, 23, 24 jan.
1889.
Da corte. A Província de São Paulo, maio 1889.
Homens de hoje. A Província de São Paulo, 22 e 28 jun. 1889.
1890
Divagando. Democracia, Rio de Janeiro, 26 abr. 1890.
Divagando. Democracia, 24 maio 1890.
Divagando. Democracia, 2 jun. 1890.
O ex-imperador. Democracia, 3 mar. 1890.
Sejamos francos. Democracia, Rio de Janeiro, 18 mar. 1890.
1892
Da penumbra. O Estado de São Paulo, 15, 17 e 19 mar.
1892.
Dia a dia. O Estado de São Paulo, 29 e 31 mar. 1892.
Dia a dia. O Estado de São Paulo, 1-3, 5-8, 10, 13, 17, 20, 24 e 27 abr. 1892.
Dia a dia. O Estado de São Paulo, 1, 8, 11, 15, 18 e 22 maio 1892.
Dia a dia. O Estado de São Paulo, 5, 12, 22 e 29 jun. 1892.
Dia a dia. O Estado de São Paulo, 3 e 6 jul. 1892.
Instituto Politécnico. O Estado de São Paulo, 24 maio 1892.
Instituto Politécnico. O Estado de São Paulo, 1o. jun. 1892.
1894
A dinamite. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 20 fev. 1894.
1897
A nossa Vendéia. O Estado de São Paulo, 14 mar. 1897 e 17 jul. 1897.
Anchieta. O Estado de São Paulo, 9 jun. 1897.
Canudos: diário de uma expedição. O Estado de São Paulo, 18 e 22-29 ago. 1897.
Canudos: diário de uma expedição. O Estado de São Paulo, 1, 3, 9, 12, 14, 21, 26 e 27 set. 1897.
Canudos: diário de uma expedição. O Estado de São Paulo, 11-13, 20, 21 e 25 out. 1897.
Distribuição dos vegetais no Estado de São Paulo. O Estado de São Paulo, 4 mar. 1897.
Estudos de higiene: crítica ao livro do mesmo título do Doutor Torquato Tapajós. O Estado de S. Paulo, 4, 9 e 14 maio 1897.
O Argentaurum. O Estado de S. Paulo, 2 jul. 1897.
O batalhão de São Paulo. O Estado de S. Paulo, 26 out. 1897.
1898
O "Brasil mental". O Estado de S. Paulo, 10-12 jul. 1898.
Excerto de um livro inédito. O Estado de S. Paulo, 19 jan. 1898.
Fronteira sul do Amazonas. O Estado de S. Paulo, 14 nov. 1898.
1899
A guerra no sertão [fragmento]. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, 19 (92/93): 270-281, ago./set.
1899.
1900
As secas do Norte. O Estado de S. Paulo, 29, 30 out. 1900 e 1o. nov.
1900.
O IV Centenário do Brasil. O Rio Pardo, São José do Rio Pardo, 6 maio 1900
.
1901
O Brasil no século XIX. O Estado de S. Paulo, 31 jan. 1901.
1902
Os Sertões: campanha de Canudos. Rio de Janeiro: Laemmert, 1902. vii + 632 p. il.
Ao longo de uma estrada. O Estado de São Paulo, São Paulo, 18 jan. 1902.
Olhemos para os sertões. O Estado de São Paulo, São Paulo, 18 e 19 mar. 1902.
1903
Os Sertões: campanha de Canudos. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Laemmert,
1903. vii + 618 p. il.
Viajando… O Estado de São Paulo, São Paulo, 8 set. 1903.
À margem de um livro. O Estado de São Paulo, São Paulo, 6 e 7 nov. 1903.
Os batedores da Inconfidência. O Estado de São Paulo, São Paulo, 21 abr. 1903.
Posse no Instituto Histórico. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 66 (2): 288-93, 1903.
1904
A arcádia da Alemanha. O Estado de São Paulo, 6 ago. 1904.
Civilização. O Estado de São Paulo, 10 jul. 1904.
Conflito inevitável. O Estado de São Paulo, 14 maio 1904.
Contra os caucheiros. O Estado de São Paulo, 22 maio 1904.
Entre as ruínas. O Paiz, Rio de Janeiro, 15 ago. 1904.
Entre o Madeira e o Javari. O Estado de São Paulo, 29 maio 1904.
Heróis e bandidos. O Paiz, Rio de Janeiro, 11, jun. 1904.
O marechal de ferro. O Estado de São Paulo, 29 jun. 1904.
Um velho problema. O Estado de São Paulo, 1o. maio 1904.
Uma comédia histórica. O Estado de São Paulo, 25 jun. 1904.
Vida das estátuas. O Paiz, Rio de Janeiro, 21 jul. 1904.
1905
Os Sertões: campanha de Canudos. 3. ed. rev. Rio de Janeiro: Laemmert, 1905, vii + 618 p. il.
Rio abandonado: o Purus. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 68 (2): 337-89, 1905.
Os trabalhos da Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Purus [Entrevista]. Jornal do Commercio, Manaus, 29 out. 1905.
1906
Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Alto Purus: 1904-1905. notas do comissariado brasileiro. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1906. 76 p. mapas.
Da Independência à República. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 69 (2): 7-71, 1906.
Os nossos "autógrafos". Renascença, Rio de Janeiro, 3 (34): 276, dez. 1906.
1907
Contrastes e confrontos. Pref. José Pereira de Sampaio (Bruno). Porto: Empresa Literária e Tpográfica, 1907. 257 p.
Contrastes e confrontos. 2. ed. ampliada. Estudo de Araripe Júnior. Porto: Empresa Literária e Tpográfica, 1907. 384 p. il.
Peru 'versus' Bolívia. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1907. 201 p. il.
Castro Alves e seu tempo. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 3 dez. 1907.
Entre os seringais. Kosmos, Rio de Janeiro, 3 (1), jan. 1906.
O valor de um símbolo. O Estado de São Paulo, 23 dez. 1907.
1908
La cuestión de limites entre Bolívia y el Peru. trad. Eliosoro Vilazón. Buenos Aires: Cia Sud-Americana de Billetes de Banco, 1908.
Martín Garcia. Buenos Aires: Cori Hermanos, 1908. 113 p.
Numa volta do passado. Kosmos, Rio de Janeiro, 5 (10), out. 1908.
Parecer acerca dos trabalhos do Sr. Fernando A. Gorette. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 71 (2): 540-543, 1908.
A última visita. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 30 set. e 1o. out. 1908.
1909
Amazônia. Revista Americana, Rio de Janeiro, 1 (2): 178-188, nov.
1909.
A verdade e o erro: prova escrita do concurso de lógica do Ginásio Nacional [17 maio 1909]. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 2 jun. 1909.
Um atlas do Brasil: último trabalho do Dr. Euclides da Cunha. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 29 ago. 1909.
Obras póstumas
À margem da história''. Porto: Chardron, Lello, 1909. 390 p. il.
1975
Caderneta de campo. Introd., notas e coment. por Olímpio de Souza Andrade. São Paulo, Cultrix; Brasília, INL, 1975. xxxii, 197 p. il.
Canudos: diário de uma expedição. Introd. de Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: José Olympio, 1939. xxv, 186 p. il.
Ondas. Coleção de poesias escritas por Euclides da Cunha em 1883, publicadas em 1966, na "Obra Completa de Euclides da Cunha", pela Editora Aguilar, e em volume autônomo em 2005, pela Editora Martin Claret, com prefácio de Márcio José Lauria.

Imagens: Internet

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ronaldo Correia de Brito vence Prêmio São Paulo de Literatura 2009


Como admiradora da obra de Ronaldo Correia de Brito, fiquei exultante com mais essa premiação. Finalmente se fez justiça ao talento inquestionável desse brasileiro dedicado e competente, que sabe usar as palavras como ninguém escrevendo textos perfeitos, irretocáveis.
Parabéns Ronaldo, você fez por merecer!


Abaixo, leiam as reportagens sobre o Prêmio São Paulo de Literatura 2009, onde Galiléia foi escolhido como o melhor livro do ano.



O livro ‘Galiléia’ do cearense radicado em Pernambuco foi eleito o melhor do ano; o escritor Altair Martins, de Porto Alegre, ganhou na categoria melhor obra de autor estreante.
O médico, dramaturgo, roteirista de cinema e escritor radicado em Pernambuco, Ronaldo Correia de Brito, venceu na segunda-feira (3) o Prêmio São Paulo de Literatura 2009. Considerado o maior prêmio da literatura do país, o evento consagrou ‘Galiléia’, da editora Objetiva, como o melhor livro do ano. A cerimônia aconteceu no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.O escritor Altair Martins de Porto Alegre, foi o vencedor da categoria livro do ano de autor estreante, com ‘A parede no escuro’ (Record). O anúncio dos escritores premiados com R$ 200 mil cada foi feito pelo governador de São Paulo, José Serra, e pelo secretário de Cultura do estado, João Sayad. Altair Martins e Ronaldo Brito foram escolhidos por um júri de peso. Fizeram parte da comissão julgadora o escritor Cristóvão Tezza, o crítico literário Luis Antonio Giron, a professora Walnice Nogueira Galvão, o livreiro Aldo Bocchini e o leitor Claudiney Ferreira. O conselho curador foi formado por Antonio Dimas, Beth Brait, Julio Pimentel, Manuel da Costa Pinto e Marino Lobello.

'Galileia' vence Prêmio São Paulo de Literatura

Escritor cearense Ronaldo Correia de Brito ganha Livro do Ano de 2008, com romance publicado pela Alfaguara.
Ubiratan Brasil, de O Estado de S. Paulo - Agencia Estado
Leyni Andrade/AE


Ronaldo Correia de Brito (dir.) e o vencedor na categoria estreante, Altair Martins


SÃO PAULO - "Os paulistas vão ter de se esforçar mais." Com essa frase irônica, o governador José Serra encerrou a cerimônia de entrega do 2.º Prêmio São Paulo de Literatura, em cerimônia realizada no Museu da Língua Portuguesa. Afinal, o escritor cearense Ronaldo Correia de Brito foi o vencedor do Livro do Ano de 2008 com o romance Galiléia (Alfaguara). A láurea de melhor livro de autor estreante foi para A Parede no Escuro (Record), do gaúcho Altair Martins. Cada um recebeu um troféu e um cheque de R$ 200 mil. "Isso prova que o prêmio não é regional", disse ainda o governador, que esteve acompanhado do prefeito Gilberto Kassab e do secretário de Estado da Cultura, João Sayad, na noite de segunda, 3/8/09.

Trata-se do prêmio que melhor paga no Brasil, o que foi ressaltado pelos dois autores. "Agora, conseguirei quitar a minha casa e, quem sabe, diminuir um pouco as aulas que dou na universidade para me dedicar mais à literatura", disse Martins, considerado uma das melhores revelações da literatura do Rio Grande do Sul. "O escritor necessita de tranquilidade e isso deveria ser também observado por outros governos estaduais", disse Correia de Brito, que vive em Pernambuco. Neste ano, foram inscritos 217 romances, publicados por 75 editoras. Entre os estreantes, havia 13 autores. "Nossa intenção é, de fato, tornar o prêmio em algo escandaloso a fim de chamar a atenção para os livros e seus autores", disse Sayad, cuja secretaria promove o concurso desde o ano passado.

Neste ano, o concurso teve 217 romances de 75 editoras e 13 autores independentes inscritos, segundo informações da Secretaria da Cultura. A primeira edição foi realizada em 2008 e recebeu inscrições de 146 romances de 55 editoras e 19 autores independentes. No ano passado, o vencedor do prêmio de melhor livro foi Cristovão Tezza, por O Filho Eterno, e o melhor livro de autor estreante foi A Chave de Casa, de Tatiana Salem Levy.


Ronaldo Correia de Brito conquista Prêmio São Paulo de Literatura


SÃO PAULO – O escritor cearense Ronaldo Correia de Brito conquistou na noite desta segunda-feira (03) o Prêmio São Paulo de Literatura, concedido pelo governo paulista. Ele ganhou R$ 200 mil por "Galiléia", considerado o melhor livro do ano.

O prêmio de melhor autor estreante foi para o gaúcho Altair Martins, pelo livro "A Parede no Escuro". Ele também levou R$ 200 mil. Essa foi a segunda edição do Prêmio São Paulo de Literatura, entregue durante cerimônia no Museu da Língua Portuguesa. No ano passado, os ganhadores foram "O Filho Eterno", de Cristóvão Tezza (livro do ano) e "A Chave da Casa", de Tatiana Salem Levy (autor estreante).

Os R$ 200 mil são a maior premiação da literatura brasileira. "Galiléia" e "A Parede no Escuro" foram os vencedores entre mais de 200 inscritos. Na cerimônia, o governador José Serra afirmou que “como o prêmio não é regional, os paulistas terão de se esforçar”. Entre os vinte finalistas (dez em cada categoria) estavam autores destacados, como José Saramago ("A Viagem do Elefante"), Moacyr Scliar ("Manual da Paixão Solitária"), Milton Hatoum ("Órfãos do Eldorado") e João Gilberto Noll ("Acenos e Afagos").

"Galiléia" é o quarto livro e primeiro romance de Correia de Brito – os três trabalhos anteriores eram volumes de contos. A obra conta a história de três primos que atravessam o sertão cearense para visitar o avô e voltam às origens, reencontrando os casos que assombram a família. Já "A Parede no Escuro", de Altair Martins, acompanha os acontecimentos provocados pela morte de duas pessoas num acidente de trânsito.


Ronaldo das letras fatura R$ 200 mil

Cruzeiro On Line





"Finalmente, um Ronaldo conseguiu ganhar dinheiro no Brasil sem precisar jogar futebol", ironizava o escritor cearense Ronaldo Correia de Brito, na noite de segunda-feira (3), com um troféu em uma das mãos e um polpudo cheque na outra. Momentos antes, ele foi anunciado como autor do melhor livro do ano passado, Galileia (Alfaguara), tornando-se o principal vencedor do 2º Prêmio São Paulo de Literatura. Trata-se do melhor incentivo das letras nacionais, pagando R$ 200 mil como prêmio. Na mesma cerimônia, realizada no Museu da Língua Portuguesa, o gaúcho Altair Martins foi eleito o autor estreante de 2008, com o romance A Parede no Escuro (Record), faturando também um troféu e a mesma quantia.

Com uma coloração mais política que a premiação do ano passado - desta vez, o secretário de Estado da Cultura, João Sayad, não era o único membro do governo presente, pois ali também estavam o governador José Serra e o prefeito Gilberto Kassab -, o evento ganhou mais ares de mistério com a decisão de se anunciar previamente dez finalistas em cada categoria e não cinco, como no ano passado. "A nossa intenção é tornar o prêmio cada vez mais escandaloso", disse João Sayad, antes do anúncio dos ganhadores, provocando uma certa surpresa na plateia. "Quando digo ‘escandaloso’, é no sentido de chamar atenção para os escritores e também para incentivar a leitura."
O prêmio, de fato, cresceu em apenas um ano - dessa vez, foram 217 romances inscritos contra 146 em 2008. Também cresceu o número de editoras envolvidas, de 55 para 75. "É claro que o valor oferecido aumenta o interesse", comentou Correia de Brito que, em um primeiro momento, não sabia ainda como utilizar os R$ 200 mil. "Vou gastar em sushi", brincou. "Mas não importa apenas a quantia em si, mas a repercussão que ela provoca: por causa dela, mais autores vão se sentir motivados a escrever e mais editoras tendem a publicar. Finalmente, o vencedor conquista a chance de se dedicar um pouco mais à literatura."
Realmente, foi o que aconteceu com o catarinense Cristóvão Tezza que, no ano passado, graças a O Filho Eterno (Record), ganhou os principais prêmios literários do País, totalizando R$ 330 mil, incluídos os R$ 200 mil do São Paulo de Literatura. "Com isso, nós nos aproximamos dos escritores profissionais dos países mais ricos", completou Correia de Brito. O valor também foi comentado por Altair Martins, de 34 anos, que, depois de várias passagens pelo conto, chegou ao primeiro romance com A Parede no Escuro. "Espero, além de quitar a minha casa, poder diminuir minha carga horária como professor universitário", disse ele, que dá aulas de manhã à noite, na Federal do Rio Grande do Sul. A permanência de Martins no ambiente universitário, porém, não deverá diminuir.

Pois foi durante a preparação de sua tese de mestrado que ele escreveu A Parede no Escuro. "Eu comecei a rascunhar o romance mas não estava satisfeito, quando decidi continuar com a sua escrita ao mesmo tempo em que estudava o esfarelamento do narrador do romance contemporâneo", lembrou Martins, que precisou de 7 anos para dar o ponto final. A experiência foi tão produtiva que Martins pretende repetir a dose e preparar o próximo livro, agora de contos, ao mesmo tempo que faz pesquisa acadêmica.

Martins e Correia de Brito abraçaram-se efusivamente após o nome de cada um ser anunciado vencedor, derrubando concorrentes de grande porte como José Saramago, Milton Hatoum, João Gilberto Noll, Moacyr Scliar e Silviano Santiago. "Antes da cerimônia, fizemos uma brincadeira que o vencedor pagaria o jantar para o outro", comentou Correia de Brito. "Agora, cada um pode cuidar de si."(AE).

Anunciado vencedores do Prêmio São Paulo de Literatura



Ronaldo Correia de Brito vence concurso de Melhor Livro do Ano com obra “Galiléia”SÃO PAULO [ ABN NEWS ] - O Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura, anunciou o resultado do Prêmio São Paulo de Literatura 2009 nesta segunda-feira (3), no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. O júri escolheu como Melhor Livro do Ano de 2008 a obra "Galiléia", de Ronaldo Correia de Brito. Na categoria Melhor Livro do Ano - Autor Estreante, o título ficou com Altair Martins, autor de "A Parede no Escuro". Os ganhadores das duas categorias receberam, cada um, R$ 200 mil.O concurso teve 217 romances de 75 editoras e 13 autores independentes inscritos nesta edição. A primeira edição do Prêmio São Paulo de Literatura foi realizada em 2008 e recebeu inscrições de 146 romances de 55 editoras e 19 autores independentes. Naquela ocsião, o vencedor do prêmio de melhor livro foi Cristovão Tezza, por "O Filho Eterno", e o Melhor Livro de Autor Estreante foi "A Chave de Casa", de Tatiana Salem Levy.O governador de São Paulo, José Serra, participou da premiação e antecipou o anúncio da realização da 3ª edição do evento. "Este é um prêmio que veio para ficar. Três anos [em 2010] será tempo suficiente para fixá-lo como um marco. Em 2008, tivemos 146 romances registrados. Este ano, 217. É um aumento significativo", disse. Serra citou a frase "minha língua é minha pátria" do poeta Fernando Pessoa para ressaltar que o prêmio não tem limites regionais. "[O prêmio] ultrapassa os limites territoriais do Brasil. Pelos vencedores, vocês podem ver que é um prêmio nacional. Ganharam um gaúcho [Altair] e um cearense [Ronaldo] que mora em Pernambuco", completou.Durante seu discurso, o governador destacou outros programas de fomento à literatura promovidos no Estado de São Paulo. Serra citou o Festival da Mantiqueira, onde os finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura 2009 foram anunciados, o Viagem Literária, programa de incentivo à leitura que percorre o interior do Estado, e o projeto Biblioteca São Paulo, que será inaugurado em janeiro no Parque da Juventude e receberá investimentos de R$ 12 milhões. O governador salientou ainda a importância da Imprensa Oficial na publicação de livros que não têm apelo comercial.O secretário de Cultura, João Sayad, também esteve no evento e enfatizou a dimensão do prêmio. "Queremos que seja um prêmio escandaloso para que chame atenção para os livros, para os autores e, principalmente, para a leitura", afirmou. Também participaram da entrega do Prêmio São Paulo de Literatura 2009 o secretário de Educação, Paulo Renato Souza, o secretário de Relações Institucionais, José Henrique Reis Lobo, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o coordenador da Unidade de Fomento e Difusão de Produção Cultural, André Sturm.Os livros finalistas foram escolhidos após avaliação de júri formado pelos professores Ivan Marques e Marcos Moraes, pelos escritores Menalton Braff e Fernando Paixão, pelos livreiros Paula Fabrio e José Carlos Honório, pelos críticos literários Marcelo Pen e Josélia Aguiar e os leitores Márcia de Grandi e Mario Vitor Santos. Entre autores concorrentes, estavam nomes consagrados da literatura como José Saramago, Milton Hatoum, Moacyr Scliar e João Gilberto Noll. A avaliação final foi feita por um segundo grupo de jurados, que chegou aos dois vencedores.

http://www.abn.com.br/editorias1.php?id=51713 - Agência Brasileira de Notícias



Terra Magazine entrevista Ronaldo Correia de Brito


05/08/2009 por carmezim





Aproveitando o assunto do post anterior, indico texto e entrevista com Ronaldo Correia de Brito, no Terra Magazine, site do qual o escritor é colunista. Um aperitivo:

Como é para um médico ganhar um grande prêmio de literatura brasileira?


Para a pessoa única, porque não tem essa separação entre médico e escritor, é uma grande alegria. Passei oito anos trabalhando Galiléia, então é muito bom você ser reconhecido. Há uma projeção extremamente bem feita e delicada antes da entrega do prêmio. A solenidade toda é de uma classe impressionante. Todos os autores têm um tempo de fala, são filmados, falam de seu trabalho, leem um pedaço de seu livro. Isso é uma democratização muito grande. Tem que ter dois ganhadores, mas todos os autores foram mostrados, estão presentes. Deslumbrante foi levar todos os artistas para espaços diferentes de São Paulo para conversar com platéias das mais heterogêneas. Antes de premiá-los, durante meses, os artistas foram sendo apresentados. Isso é muito bom, é para ser imitado no Brasil todo.

http://carmezim.wordpress.com/2009/08/05/terra-magazine-entrevista-ronaldo-correia-de-brito/



Sertão de Ronaldo transpõe fronteiras

Publicado em 05.08.2009, às 09h53


Schneider Carpeggiani Do Caderno C/Jornal do Commercio

Prêmio São Paulo de Literatura ultrapassou o Portugal Telecom e é hoje o maior concedido no Brasil.

Ronaldo Correia de Brito estava em São Paulo, há um ano, para lançar o romance Galileia na Balada Literária. Dividia a mesa de debates com o escritor gaúcho Altair Martins. Os dois foram apresentados ao público pelo organizador do evento, Marcelino Freire, como “os futuros ganhadores do Prêmio São Paulo de Literatura”. “Ele falou pela boca de um anjo (risos)”, brincou Ronaldo Correia de Brito ontem pela manhã, horas depois de ter vencido o Prêmio São Paulo de Literatura, na categoria Livro do Ano, por Galiléia. Altair Martins ganhou como autor estreante com A parede no escuro. A cerimônia de entrega aconteceu no Museu da Língua Portuguesa.
O Prêmio São Paulo de Literatura ultrapassou o Portugal Telecom e é hoje o maior concedido no Brasil. São R$ 200 mil para cada uma das duas categorias. Ano passado, na primeira edição, os ganhadores foram O filho eterno, de Cristóvão Tezza (livro do ano), e A chave da casa, de Tatiana Salem Levy (autor estreante).

Mesmo em se tratando de autores tão distintos, as obras vencedoras guardam semelhanças: traumas familiares e a suspeita de que as entranhas do Brasil agora inspiram histórias que desmontam os clichês do regionalismo. E por falar em regionalismo e em desmonte, Ronaldo tem construído uma obra de demolição gradual da épica do Sertão. “Se você fala de regionalismo em termos de lugar, da linguagem, tudo bem. Mas se regionalismo tem a ver com a noção do Romance de 30, ah, isso não existe mais”. Para ele, a ideia de Sertão não aceita uso do singular, de clichês e das antigas teorias redutoras.

“O Sertão é um espaço geográfico que remete à memória de outros espaços como a Grécia, o deserto dos árabes e hebreus, a Península Ibérica moura e a Sicília, que possuem uma cultura marcadamente própria e longeva. O imaginário em torno do Sertão e do homem sertanejo serviu à produção de música, literatura, cinema, artes plásticas de boa e de má qualidade. Há diversos períodos nessa produção, com características próprias de linguagem. Há o sertão romântico, o realista, o naturalista, o mítico e por aí afora. O tema não se esgota, se transforma. É um perigo agarra-se ao ideário do que já não existe. Por exemplo, a Espanha ainda celebra a cultura andaluza, mas tem Almodóvar, Gaudí e Miró. No Brasil, felizmente, várias tendências artísticas caminham ao mesmo tempo”, aponta Ronaldo.

A excelente recepção do romance é o sintoma de um tempo, acredita Ronaldo, em que o sentimento de não pertencimento é corrosivo. Seus personagens abandonam o lar e tentam ensaiar o mito do retorno, quando já não é mais possível. Não há mais casa para onde voltar. Lançado no ano em que Vidas secas completou 70 anos, seria o romance de Ronaldo o atestado de que já não se pode mais falar de sertão, diante de todos os fetiches que vitimizaram a região?
“Pelo contrário. Ele é sobre novas possibilidades de falar do Sertão. É um olhar contemporâneo, com lentes diferentes daquelas por onde olharam os escritores que me antecederam. O Sertão para mim é a mera extensão das cidades, por mais que isso desagrade aos conservadores. Em 1997, num ensaio visionário sobre os meus contos, Alberto da Cunha Melo tinha chamado atenção para isso. Ele escreveu que as minhas personagens eram neuroticamente e complexamente urbanas. Alguém, depois dos versos proféticos de Fabião das Queimadas, precisava repetir que aquele sertão ‘já morreu, já se acabou e está fechada a questão’”.

“Temos de inventar linguagens novas, correr risco”, acredita Ronaldo, que voltará à demolição na sua próxima obra. Desta vez, um livro de contos – “Ele é terrível contra os homens, estou sendo ainda mais radical”. O autor tem outro romance em andamento, mas precisa de tempo para se livrar de Galileia, precisa se refugiar no universo fechado das histórias curtas, precisa de abrigo. “Galileia ainda está impregnado aqui dentro”, confessa o sertanejo Ronaldo.

http://jc.uol.com.br/canal/lazer-e-turismo/noticia/2009/08/05/sertao-de-ronaldo-transpoe-fronteiras-195637.php



Prêmio São Paulo de Literatura tem ganhadores

5/8/2009




Agência FAPESP – Galileia, de Ronaldo Correia de Brito, é o ganhador do Prêmio São Paulo de Literatura 2009, na categoria Melhor Livro do Ano de 2008. O anúncio foi feito pelo governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura, na segunda-feira (3/8), no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo.

Na categoria Melhor Livro do Ano - Autor Estreante, o escolhido foi Altair Martins, por A Parede no Escuro. Os ganhadores das duas categorias receberam, cada um, R$ 200 mil.


O concurso teve 217 romances de 75 editoras e 13 autores independentes inscritos nesta edição. A primeira edição do Prêmio São Paulo de Literatura foi realizada no ano passado, com as escolhas de Cristovão Tezza, por O Filho Eterno, como Melhor Livro do Ano, e de Tatiana Salem Levy, com A Chave de Casa, como Melhor Livro de Autor Estreante.


O governador de São Paulo, José Serra, participou da premiação e antecipou o anúncio da realização da 3ª edição do evento. “Este é um prêmio que veio para ficar. Três anos [em 2010] será tempo suficiente para fixá-lo como um marco. Em 2008, tivemos 146 romances registrados. Este ano, 217. É um aumento significativo”, disse.


Ao comentar que “minha língua é minha pátria”, Serra parafraseou o poeta português Fernando Pessoa ao ressaltar que o prêmio não tem limites regionais. “[Ele] ultrapassa os limites territoriais do Brasil. Pelos vencedores, vocês podem ver que é um prêmio nacional. Ganharam um gaúcho [Altair] e um cearense [Ronaldo] que mora em Pernambuco”, completou.


Durante seu discurso, o governador destacou outros programas de fomento à literatura promovidos no Estado de São Paulo. Serra citou o Festival da Mantiqueira, em que os finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura 2009 foram anunciados, o Viagem Literária, programa de incentivo à leitura que percorre o interior do Estado, e o projeto Biblioteca São Paulo, que será inaugurado em janeiro no Parque da Juventude e receberá investimentos de R$ 12 milhões. O governador salientou ainda a importância da Imprensa Oficial na publicação de livros que não têm apelo comercial.

O secretário de Cultura, João Sayad, também esteve no evento e enfatizou a dimensão do prêmio. “Queremos que seja um prêmio escandaloso para que chame atenção para os livros, para os autores e, principalmente, para a leitura”, afirmou.


Também participaram da entrega do Prêmio São Paulo de Literatura 2009 o secretário de Educação, Paulo Renato Souza, o secretário de Relações Institucionais, José Henrique Reis Lobo, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o coordenador da Unidade de Fomento e Difusão de Produção Cultural, André Sturm.


Os livros finalistas foram escolhidos após avaliação de júri formado pelos professores Ivan Marques e Marcos Moraes, pelos escritores Menalton Braff e Fernando Paixão, pelos livreiros Paula Fabrio e José Carlos Honório, pelos críticos literários Marcelo Pen e Josélia Aguiar, e pelos leitores Márcia de Grandi e Mario Vitor Santos.


Entre autores concorrentes estavam nomes consagrados da literatura como José Saramago, Milton Hatoum, Moacyr Scliar e João Gilberto Noll. A avaliação final foi feita por um segundo grupo de jurados, que chegou aos dois vencedores.


http://www.cultura.sp.gov.br/


Autor de 'Galiléia' vence Prêmio São Paulo de Literatura




Ronaldo Correia de Brito, autor de Galiléia, recebeu, nesta segunda-feira (3), o prêmio da categoria Melhor Livro do Prêmio São Paulo de Literatura. A cerimônia de premiação aconteceu no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.

O autor recebeu R$ 200 mil, menos os impostos, pela obra que conta a história de três primos que deixam o interior para conhecer o mundo dos grandes centros e acabam vivendo experiências que marcam suas vidas.

"O que eu tinha de fazer, eu já tinha feito me dedicando ao livro. Minha alma estava serena", disse o cearense vencedor."Eu não esperava vencer o Prêmio, mas queria muito ser reconhecido por este trabalho. Foram sete anos de dedicação", completou.

A categoria de melhor autor estreante ficou com Altair Martins, com A Parede no Escuro. A obra fala sobre duas famílias que perdem repentinamente a figura paterna.

O autor Cristóvão Tezza, o crítico literário Luis Antonio Giron, a professora Walnice Nogueira Galvão, o livreiro Aldo Bocchini e o leitor Claudiney Ferreira formaram o júri que avaliou os dez candidatos a cada categoria.

O anúncio dos escritores premiados foi feito pelo Governador do Estado de São Paulo, José Serra, e pelo Secretário de Estado da Cultura, João Sayad.

O prêmio é oferecido pela Secretária de Cultura de São Paulo e pela Unidade de Fomento e Difusão de Produção Cultural.

http://diversao.terra.com.br/interna/0,,OI3906826-EI3615,00.html



Trecho do primeiro capítulo de 'Galiléia'



Soubemos notícias do avô Raimundo Caetano bem antes da travessia dos Inhamuns. A saúde dele agravou-se e a festa de aniversário poderá não acontecer.


Penso em voltar para o Recife, obedecendo a pressentimentos de desgraça, receios que me invadem em todas as reuniões da família. Davi e Ismael consultam-me com os olhos; temem que eu desista da viagem. Não dependem de mim para continuar, mas sou eu que intervenho nas disputas entre eles, desde quando tocávamos rebanhos de carneiros e feri o calcanhar, numa tarde como essa.

Tudo se assemelha ao passado, até os caminhos repetidos e o silêncio dos mortos, fantasmas que andaram como ando, ansioso e de humor deprimido.

Há algum tempo dirijo o carro sozinho. Os primos subiram na carroceria da camioneta, expondo-se ao sol e à poeira do final de tarde, num mês de dezembro com prenúncios de chuva. Tamanha beleza é pura armadilha. Preciso de lentes para abstrair o azul do céu, as nuvens de cinema épico.

O calor me enfada. Ele vem das pedras que afl oram por todos os lados, como planta rasteira. Nada lembra mais o silêncio do que a pedra, matéria-prima do sertão que percorremos em alta velocidade.

De que maneira o primo Ismael arranjou dinheiro para comprar uma camioneta? É pergunta que ainda não fizemos. Deixamos para mais tarde os acertos de contas, afinal, nos juntamos depois de uma longa ausência. Durante muito tempo fomos apenas notícia.

Observo as carnaúbas, esguias como o corpo do primo Davi, e revejo a tarde dolorosa, ele fugindo nu, coberto apenas por uma camisa branca, o sexo à mostra, o sangue escorrendo entre as pernas. Sinto a náusea de sempre, o pavor de não compreender nada, mesmo depois de anos de psicanálise. Desejo voltar, acelero o carro, recuo na poltrona. Retorno mais uma vez ao passado, à tarde em que tudo aconteceu. Os olhos congelados nas imagens de uma câmera fixa, um trailer de quinze ou vinte minutos. Vou sair no meio do filme. Não quero prosseguir.


Ronaldo Correia de Brito nasceu em Saboeiro no Ceará e mora em Recife. É médico formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Desenvolveu pesquisas e escreveu diversos textos sobre literatura oral e brinquedos de tradição popular, além de ter sido escritor residente da Universidade da Califórnia, em Berkeley, no ano de 2007. Escreveu os livros de contos As Noites e os Dias (1997), editado pela Bagaço, Faca (2003), Livro dos Homens (2005), e a novela infanto-juvenil O Pavão Misterioso (2004), todos publicados pela Cosac Naify. Dramaturgo, é autor das peças Baile do Menino Deus, Bandeira de São João, Arlequim, e o romance Galiléia pela Alfaguara. Escreveu durante sete anos para a coluna Entremez, da revista Continente Multicultural, e atualmente assina uma coluna semanal na revista Terra Magazine.