quinta-feira, 25 de junho de 2009

Os Tudors: um século de poder




Os Tudor conseguiram dar fim a uma guerra civil, criaram uma nova religião e colocaram a Inglaterra no caminho para se tornar uma potência. Isso tudo em apenas 100 anos.

Por Vinícius Rodrigues




Elizabeth I

Aos 69 anos, Elizabeth I estava cansada, velha demais para os padrões da época e solitária. A "rainha virgem" passou seus últimos meses de vida na cama, recusando qualquer atendimento médico. No leito, a monarca recebeu a visita do arcebispo John Whigtift. Ele tomou suas mãos e lhe falou sobre o paraíso. Elizabeth respondeu retribuindo o aperto de mãos, contente pelo que ia encontrar nos céus. Morreu nas últimas horas de 24 de março de 1603, no palácio de Richmond, no condado de Surrey. "Foi com tristeza que a notícia da morte percorreu Londres na manhã seguinte. A rainha governara o reino por quase 45 anos e não havia deixado descendentes diretos", diz Heather Thomas, historiadora galesa especializada na história de Elizabeth I. Com o fim do reinado, a dinastia Tudor, após 118 anos, chegava ao fim. Os Tudor assumiram a coroa inglesa em 1485. Henrique VII deu início à linhagem que teve como sucessores Henrique VIII, Eduardo VI, Mary I e Elizabeth I. Durante a dinastia, houve o rompimento com a Igreja Católica e a fundação da Igreja Anglicana e a Inglaterra atingiu alto nível de desenvolvimento político, econômico e cultural. “É sob os Tudor que se tem o período mais florescente da expansão e consolidação do poderio britânico, na política européia, no comércio e nas finanças, na expansão ultramarina e na independência religiosa”, afirma Estevão Martins, professor de História na Universidade de Brasília.
MANOBRAS PELO TRONO




Henrique Tudor

Henrique Tudor nasceu em 1457 no País de Gales, filho de Edmund Tudor, o conde de Richmond, e Margarida Beaufort, trineta de Eduardo III, rei da Inglaterra entre 1327 e 1377. Embora tivesse direito ao trono, Henrique não pertencia à linha de sucessão direta. Por 30 anos, até então, o poder se alternava entre os Lancaster e os York. Mas, em 1455, quando Ricardo, duque de York e aspirante ao trono, prendeu Henrique VI, rei da Inglaterra e da família rival, deflagrou-se a Guerra das Duas Rosas (a flor era símbolo das duas casas reais). Em 1471, quando Eduardo IV de York subiu ao trono, Henrique Tudor fugiu das famílias em disputa, para a Bretanha.


Papa Inocêncio VIII


Em 1483, com a morte de Eduardo IV, a história mudou. O herdeiro direto seria seu filho Eduardo V, então com 12 anos. Mas seu tio, Ricardo de York, duque de Gloucester, usurpou o trono e acabou coroado Ricardo III. Com a manobra, a família Lancaster passou a apoiar as intenções de Henrique Tudor de virar rei. E, em 1485, Henrique marchou para a Inglaterra. Na batalha de Bosworth Field, matou Ricardo II e se proclamou rei Henrique VII. Para pacificar as famílias, casou-se com Elizabeth de York. E convenceu o papa Inocêncio VIII a criar a Bula da Excomunhão, para punir os que tentassem tomar o trono.

Catarina de Aragão


Do casamento do rei com Elizabeth de York nasceram Arthur, Henrique, Margaret e Mary. Para estreitar laços com os países vizinhos, o monarca casou Margaret com James IV da Escócia e Mary com Luís XII da França. O primogênito, Arthur, ele uniu à princesa espanhola Catarina de Aragão. A cerimônia ocorreu em 1501, quando os noivos tinham 15 e 16 anos. Em 1502, o príncipe morreu de malária e a viúva de Arthur foi obrigada a ficar na corte. O rei não havia recebido parte do dote da princesa e, por isso, não dera a ela todas as rendas previstas no contrato nupcial. Assim, os pais de Catarina não lhe permitiram voltar à Espanha.


TUDO POR UM TUDOR



Henrique VIII


Henrique VII morreu em abril de 1509, aos 59 anos. Sucedeu-o Henrique VIII, nascido em 1491. Com 17 anos, em 1509, casou-se com Catarina de Aragão. No mesmo dia, os noivos foram coroados, na Abadia de Westminster, rei e rainha da Inglaterra. Henrique era culto, atlético e falava vários idiomas. Aumentou a frota de cinco para 53 navios. Mas não era pacífico. Seu reinado foi o que teve mais execuções na história da Inglaterra: 330 mortes, entre 1532 e 1540.



Ana Bolena



O rei não conseguiu um herdeiro com Catarina de Aragão. Apenas uma filha vingou, a futura rainha Mary. Entregar a coroa a uma mulher poderia fragilizar o trono e, por isso, Henrique VIII precisava de um herdeiro homem. Nesse meio-tempo, apaixonou-se por Ana Bolena, dama de honra da rainha. “Seu magnetismo sexual e a forma como ela cativou aqueles ao seu redor é bem documentada.




Clemente VII



Foi essa ‘diferença’, bem como sua sagacidade, inteligência e efervescência, que atraíram o rei”, escreveu Richard Bevan, jornalista que trabalha em um roteiro sobre Ana. Henrique quis convencer o papa a anular seu casamento, sob o argumento de que ele era ilegal, por Catarina ter sido mulher de seu irmão. Clemente VII recusou-se, mas, mesmo assim, em 1533, o rei se casou com Ana Bolena. A anulação do casamento com Catarina seria anunciada um mês depois. O papa excomungou o rei, que respondeu rompendo com a Igreja Católica. Criou a Igreja Anglicana, que não obedece a Roma, é chefiada pelo rei e permite o divórcio. A decisão tornou-se oficial em 1534, no Decreto de Supremacia (Act of Supremacy).



Jane Seymour


"A separação da Inglaterra da Igreja Católica foi subproduto da obsessão por um herdeiro", diz Heather Thomas. Acontece que Ana também teve uma filha mulher, Elizabeth. O rei envolveu-se então com outra dama da corte, Jane Seymour. Para se livrar da segunda esposa, acusou-a de bruxaria e traição."Eram 8 horas da manhã de 19 de maio de 1536. Vestida com roupão preto coberto por um manto branco, Ana Bolena encaminhou-se para a execução. Não negou as acusações e elogiou seu marido, dizendo que o amava. Foi vendada e esperou poucos segundos até o carrasco lhe cortar o delicado pescoço", afirma Bevan.



Eduardo VI

Em 1537, finalmente, nasceu o varão de Henrique, Eduardo. A mãe, Jane, morreu 12 dias depois, por problemas no parto. O rei ainda casou outras três vezes, até morrer em 1547. Considerado o primeiro rei anglicano da Inglaterra, Eduardo VI foi coroado aos 9 anos e governou com um Conselho de Regência. Com ele, a religião ganhou força: em 1549, foi introduzido no país o Livro de Oração Comum (de preces anglicanas), em inglês, língua que se tornou oficial.


BLOODY MARY




Em seu leito de morte, o rei foi influenciado por um de seus tutores, John Dudley, a escolher como sucessora Jane Gray, casada com seu filho Guilford Dudley. Perto de fazer 17 anos, o rei morreu de tuberculose e Jane Gray assumiu em seu lugar. A população, no entanto, não aprovou a rainha e exigiu Mary I no trono. Assim, após nove dias, a primeira filha de Henrique VIII assumiu o poder.




Mary I e Filipe II


Sua primeira ação foi revalidar o casamento de Henrique VIII com sua mãe, Catarina de Aragão. Filha de uma católica, restaurou o catolicismo e o crime de heresia: opositores seriam mortos, por traição à Santa Sé. Cerca de 300 anglicanos foram queimados como hereges em três anos. Foi chamada de Queen Bloody Mary (Rainha Sanguinária), nome que anos depois batizou um drinque de suco de tomate e vodca. Para piorar sua imagem, casou-se com Filipe II da Espanha. Isso revoltou o povo: significava ameaça à independência e risco de subordinação. Quando ela e o marido formaram uma aliança para lutar contra a França, o descontentamento aumentou, principalmente porque os franceses conquistaram Calais, última possessão britânica na França. Sem filhos, Mary deixou o trono para sua meia-irmã Elizabeth I, em 1558, ao morrer do que dizem ter sido um tumor.



Elizabeth I - "A Rainha Virgem"


Em novembro daquele ano, começava um dos governos mais populares e importantes da monarquia britânica: o de Elizabeth, filha de Henrique VIII e Ana Bolena. "Seu reinado é apontado como a Idade do Ouro da história inglesa. Ela se tornou uma lenda em seu próprio tempo de vida, famosa por suas notáveis habilidades e realizações", diz Heather Thomas. A rainha era astuta. Nomeou ministros de confiança para apoiá-la, e as questões mais críticas levou ao debate no Parlamento. Também restaurou a religião anglicana.

















Armada espanhola / Jaime I






Tudo ia bem, até a rainha se desentender com Filipe II, seu cunhado. A Espanha era a maior potência da época e Filipe sonhava ser monarca britânico. Católico, pretendia restaurar sua fé na Inglaterra. Quando navios espanhóis foram saqueados por piratas ingleses, prática incentivada pela rainha, Filipe, em 1588, enviou uma frota de 130 navios para tomar o reino. Elizabeth I, então, discursou à tropa: "Sei que tenho o corpo de uma mulher fraca e frágil, mas tenho também o coração e o estômago de um rei " e de um rei da Inglaterra!" Resultado: venceu a Armada espanhola. Em 1600, criou a Companhia das Índias Ocidentais e iniciou a expansão marítima. "Quando ela subiu ao trono, em 1558, a Inglaterra era um país empobrecido, dilacerado por questões religiosas. Quando morreu, era um dos mais poderosos países do mundo", afirma Heather Thomas. Elizabeth não se casou. Foi assim que ganhou o apelido de "rainha virgem". Após sua morte, em 1603, de acordo com o testamento de Henrique VIII, assumiu o descendente de Mary, irmã mais nova de Elizabeth. Jaime VI, rei da Escócia, tornou-se Jaime I da Inglaterra, iniciando a era dos Stuart.


Fonte: Aventuras na História
Autor: Vinícius Rodrigues
Imagens: Internet

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Homem borgiano espreitando o lobo


Ronaldo Correia de Brito


Rasga-mortalha

A lua é cheia no céu. Os lajedos refletem a claridade branca, mas já não se avistam frestas acesas nas portas e janelas das casas. Cães uivam assombrados. A rasga-mortalha cantou sete vezes, os olhos vermelhos em fogo. Nos currais, silenciaram os chocalhos. De algum espojadouro, o vento sopra o cheiro nauseante de suor de cavalos. Em sonho, visito uma paisagem de cemitérios e desperto assombrado com o repique de sinos.



Meu corpo pálido, transparente sob a lua, em breve não se conterá nas amarras que o prendem. Os sinais dessa meia noite de quinta para sexta-feira tecerão um zodíaco de casas em cujas portas me precipitarei. Começará os tremores, o fogacho, o estranhamento do mundo e a força desconhecida que me fará sentir o Outro. Depois, o que ainda me espera? O impulso de buscar um terreno molhado pelo suor dos cavalos, que as narinas mal suportam e, ali, desconhecido de mim mesmo, rolar-me três vezes da direita para a esquerda. Em seguida, já transformado, nada mais saberei do que faço ou penso.


Licaon

Dizem que o culpado de tudo foi Licaon, meu primeiro ancestral. Ofereceu carne humana a um deus, que comia em sua mesa. Teve por castigo de carregar a horrível forma até a morte. Dele nós herdamos a penosa sina. Cumprimos um ciclo de luz e trevas: o sol nos restitui a feição humana, pálida e melancólica; a noite nos precipita na loucura do animal, voraz e sedento de vida. Entre luz e trevas não há um só tempo em que os dois seres repousem juntos, acalmados. É esse o grande castigo do deus. Se o animal dorme, o homem vela. Ou o seu contrário. Só em sonhos um aparece ao outro.




Num dia em que me deitei cansado de uma noite de intermináveis carreiras, adormeci e sonhei. Homens enfurecidos me perseguiam. Seus cães me acuavam. A luz amarela dos fachos que eles carregavam, feria meus olhos habituados à penumbra. O que eu havia feito? Seduzira uma jovem adolescente. Por vingança, eles queriam conhecer o meu verdadeiro rosto, para só em seguida me matarem. Acordei sobressaltado. O corpo doía, o sonho me inquietava. O que procuram em mim que eu próprio não enxergo? Vejo apenas o que o espelho reflete: um rosto magro, pálido, fino, de profundas olheiras e nariz afilado. O Outro, os espelhos nunca me revelaram um instante sequer. Sou capaz de sentir suas orelhas compridas, os grossos pelos do corpo, as unhas afiadas, as presas pontudas, mas nunca contemplá-lo. Sei que o homem briga com o lobo e que uma vez é vencedor e noutra, derrotado. Mesmo sabendo que sou Um por castigo, desconheço minha legítima face.



É verdade que minha mãe prevaricou com o próprio irmão. É também verdade que sou o sétimo filho homem. Mas será justo que por essa razão eu carregue a forma plural? Que no escuro ou no claro eu tenha sempre um rosto escondido? Busco a difícil resposta. Receio a dor, mas só alcançarei a paz de que necessito e me escondo se for ferido no corpo por um homem que não sente medo. Meu salvador será odiado por mim. Conheço ardis e tentarei matá-lo de alguma maneira. Ele sabe os riscos a que está sujeito. Não poderá ferir-me de longe, com uma arma de fogo. A bala é quente e cauteriza o sangue enquanto penetra na carne. Meu redentor deverá ferir-me com um punhal, que é frio e exige a proximidade física do algoz. Ele me olhará nos olhos, sentirá minha respiração, arriscando-se ao contágio do meu sangue. Sucumbir ao mesmo vício é o preço elevado para quem me espiona e persegue. Mais uma vez meu destino se contradiz: desejo o sossego de uma noite dormida sem suores, mas evito o encontro em que meu sangue será derramado para minha redenção.


Apesar do asco e da vergonha que O Outro me inspira, sou escravo do prazer que só ele experimenta.



A lua é cheia no céu. Já adormeceram as camas, as portas das casas, os currais de gado. A claridade se espalhou e a terra é um imenso algodoal. Só os cães continuam vigiando na noite fria. Um doloroso abandono me invade. Tudo começa a partir-se. O tronco quebra-se da raiz, estremecem os galhos. Estiram-se os dedos, esquentam-se as veias, a garganta incha. Mal consigo contemplar a lua e os lajedos banhados por ela. A razão vai me deixando aos poucos e em breve não pensarei em mais nada. Correrei por cidades, cemitérios, encruzilhadas, lugares desconhecidos e longínquos. À deriva, sem rumo. Desesperadamente procurando.

A noite me reserva a emboscada que já nem temo?




Ronaldo Correia de Brito nasceu em Saboeiro no Ceará e mora em Recife. É médico formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Desenvolveu pesquisas e escreveu diversos textos sobre literatura oral e brinquedos de tradição popular, além de ter sido escritor residente da Universidade da Califórnia, em Berkeley, no ano de 2007. Escreveu os livros de contos As Noites e os Dias (1997), editado pela Bagaço, Faca (2003), Livro dos Homens (2005), e a novela infanto-juvenil O Pavão Misterioso (2004), todos publicados pela Cosac Naify. Dramaturgo, é autor das peças Baile do Menino Deus, Bandeira de São João, Arlequim, e o romance Galiléia pela Alfaguara. Escreveu durante sete anos para a coluna Entremez, da revista Continente Multicultural, e atualmente assina uma coluna semanal na revista Terra Magazine.

Fonte: Terra Magazine
Imagens:
Internet

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A Arca da Aliança: O último mistério

Construída para guardar os Dez Mandamentos, a Arca da Aliança estaria desaparecida há pelo menos 2 500 anos. Enquanto arqueólogos tentam encontrá-la, há quem diga estar com a relíquia em seu poder.

Tiago Cordeiro


(Moisés recebendo as tábuas (Decálogo) das mãos de Deus)

"Assim falou Javé a Moisés: ‘Farás uma arca com madeira de acácia: seu comprimento será de dois côvados e meio; sua largura, de um côvado e meio; sua altura, também de um côvado e meio. Tu a revestirás com ouro puro, recobrindo-a por dentro e por fora; e farás ao seu redor um friso de ouro. Fundirás para ela quatro argolas de ouro, que porás nos seus quatro cantos; duas argolas num lado e duas argolas no outro lado. Farás também varais de madeira de acácia, revestindo-os de ouro. E os introduzirás nas argolas que estão nos lados da arca a fim de que esta, por meio deles, possa ser transportada. Dentro da arca guardarás o Testemunho que eu vou te dar’.”



(Arca da Aliança)


Segundo a Torá, o livro sagrado dos judeus (e que, grosso modo, corresponde aos cinco primeiros livros da Bíblia cristã), foi assim, com instruções precisas, que Javé – Deus, em pessoa – instruiu Moisés na construção de um dos objetos mais misteriosos da história. Dentro dessa caixa de 1,11 metro de comprimento por 66,6 centímetros de largura e altura, o líder dos hebreus deveria guardar duas placas de pedra, gravadas a fogo por Javé. As inscrições traziam as normas de conduta que os fiéis deveriam seguir para justificar sua condição de povo eleito por Deus, e que qualquer criança conhece como os Dez Mandamentos. Por conter a prova desse acordo, um contrato entre o mundo divino e o mundo terreno, o baú ganhou o nome de Arca da Aliança. A Torá conta que Moisés levou o objeto sagrado pelo meio do deserto até as margens do rio Jordão, onde morreu. Seus sucessores guardaram a Arca, que se tornou um dos símbolos mais sagrados dos hebreus e, por herança, dos cristãos.















(A Bíblia e a Torá)



No entanto, fora dos textos religiosos, a história da Arca permanece um mistério. “Ela é um desses objetos míticos, como o Graal ou o túmulo de Jesus, que nenhum arqueólogo sério gosta de dizer que está procurando”, afirma a arqueóloga canadense Anne Michaels, professora da Universidade de York, em Toronto. “E que, vira e mexe, alguém diz que encontrou, faz um documentário, escreve um livro e consegue 50 minutos de atenção. Mas são objetos mais míticos que reais”, diz Anne.



Mas, diferentemente do Graal ou do túmulo de Jesus, que ninguém sabe como seriam, a Arca tem forma definida.“Não temos motivos para duvidar que a Arca tenha existido, mas é pouco provável que esteja inteira até hoje”, diz o historiador e teó­logo Hans Borger, do Centro de Cultura Judaica de São Paulo. Outros especialistas são mais cautelosos. “Não existem evidências concretas a respeito dela. A Arca mal chega a ser objeto da arqueologia. É assunto para historiadores bíblicos”, afirma o arqueólogo israelense Israel Finkelstein, autor de A Bíblia Desenterrada. “Ela fascina as pessoas por causa de seu intenso poder como mito, concreto ainda hoje.”
As principais referências sobre a Arca estão na Torá e na Bíblia, obras que trazem ricas informações sobre a Antiguidade, mas sem rigor histórico. Alguns pesquisadores vêm tentando comprovar trechos dos textos sagrados. O problema é que a influência das escrituras pode desvirtuar os estudos. “Muitos arqueólogos procuram evidências que justifiquem sua própria fé. Qualquer vestígio é analisado com o desejo de encaixá-lo nos relatos bíblicos”, diz o historiador André Chevitarese, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Essa ansiedade por novas descobertas é ainda mais verdadeira no caso da Arca. Se, para os arqueólogos, encontrá-la seria um achado incrível, para os fiéis seria a prova da existência de Deus.


PEGADAS NO DESERTO



(Rota do Êxodo Hebreu)

Os eventos narrados pelo livro do Êxodo, quando a Arca é citada pela primeira vez, teriam ocorrido aproximadamente em 1300 a.C. O cálculo é baseado em registros históricos do antigo Egito, onde os hebreus teriam sido mantidos como escravos. Segundo as escrituras, eles teriam fugido e, liderados por Moisés, partido em busca de Canaã, a Terra Prometida. A Arca teria sido feita dois anos depois da saída do Egito, quando os hebreus estavam perto do monte Sinai. “Há pouquíssima, para não dizer nenhuma evidência arqueológica sobre esse período”, afirma Finkelstein. Um dos pontos mais polêmicos é a localização exata do monte. Há quem diga que ele fica na península do Sinai, no leste do Egito. O físico britânico Colin Humphreys, da Universidade de Cambridge, que pesquisa a história bíblica há 30 anos, defende que o monte Bedr, na atual Arábia Saudita, é o verdadeiro Sinai.

Que as referências ao período do Êxodo são mais míticas que documentais, praticamente todo mundo concorda. Esse livro, como toda a Torá, foi elaborado provavelmente entre os séculos 7 e 5 a.C., muito tempo depois dos eventos narrados. “Ele foi escrito numa época em que os hebreus estavam exilados na Babilônia”, diz Chevitarese. “Os autores queriam garantir a coe­são do grupo e reforçar preceitos religiosos e de comportamento para que a identidade da nação não se perdesse.”

O texto sagrado dá conta de que, durante os 40 anos de peregrinação pelo deserto até a Terra Prometida, a Arca manifestou poderes mágicos. Os responsáveis por ela eram sacerdotes conhecidos como levitas. Diante deles, no alto da Arca, entre os dois querubins de ouro, Javé apareceria pessoalmente para se comunicar com os hebreus e orientá-los em sua jornada. “A descrição da Arca e de seus poderes faz sentido com o misticismo dos povos nômades daquela região e época, quando era comum a adoração a objetos e ídolos”, diz Anne Michaels. “E mesmo o surgimento do deus único dos hebreus, que substitui os ídolos, manteve paradoxalmente uma representação de seu poder, a Arca, que não deixava de ser um objeto a ser adorado.”

'BELELÉU'

No momento em que os hebreus encontraram a Terra Prometida, de acordo com o fim da Torá, Moisés morreu – aos 120 anos, ele deixava seu povo no destino indicado por Javé. Mas, se a terra tinha sido prometida aos hebreus, esqueceram-se de avisar os outros povos que moravam no que hoje é Israel e a Palestina. Por volta do século 13 a.C., a região era uma colcha de retalhos, onde o poder era exercido por cidades-estados que guerreavam entre si. Os hebreus eram apenas mais um punhado de tribos que lutavam para se manter por lá. A Bíblia menciona que, nessa época, a Arca acompanhava os hebreus nos confrontos contra cidades como Jericó, Maceda e Hebron. Era usada como estandarte de batalha – para os hebreus, ela era o motivo de suas sucessivas vitórias militares.

Segundo a Bíblia, nas décadas de luta por Canaã, pelo menos uma vez o objeto sagrado foi tomado por outro povo. De acordo com o livro de Samuel, que narra fatos que teriam acontecido perto de 1200 a.C., os filisteus capturaram a Arca e a levaram para três cidades diferentes: Asdobe, Ecrom e Bete-Semes. Em todas, ela teria provocado acontecimentos estranhos: estátuas amanheciam com as cabeças decepadas, ratos atacavam as casas com violência e, como se não bastasse, pessoas tinham surtos de hemorróidas. Quem encostasse na Arca morria na hora. Assustados, os filisteus devolveram o objeto a seus donos.


(Tabernáculo)


O hebreus esconderam a Arca na cidade de Quiriate-Jearim. Ela teria sido levada para Jerusalém quando o lendário Davi se tornou rei, por volta de 1000 a.C. De acordo com a tradição, ele projetou um templo grandioso para abrigá-la. A obra coube a seu filho, Salomão, que teria reinado do rio Eufrates (no atual Iraque) ao Egito, entre 970 a.C. e 931 a.C. O primeiro Templo de Jerusalém é descrito com 26,6 metros de comprimento, 8,88 metros de largura e 13,3 metros de altura. Era feito de pedra e, do lado de dentro, revestido com cedro coberto de ouro. No centro do edifício, concluído em 965 a.C., uma área isolada, chamada Sagrado dos Sagrados, foi construída só para abrigar a Arca. Era um quarto em forma de cubo, com 8,88 metros de lado, revestido de ouro puro. A Arca ficaria depositada sobre um altar de madeira recoberto por ouro. Apenas iniciados, como levitas e profetas, podiam entrar lá.

(Samuel ungindo Davi)

Se não há registro de que Moisés tenha existido de fato, Davi e Salomão parecem mesmo ter reinado entre os hebreus. O que se discute é se pai e filho foram tão grandiosos como diz a tradição. “Ambos unificaram o povo hebreu, que desde os tempos de servidão no Egito vivia disperso em 12 grupos diferentes, chamados tribos de Judá”, diz o historiador Hans Borger. “Mas tudo indica que Salomão foi um rei bem mais modesto, e que o templo que ele construiu não era tão extraordinário quanto diz a tradição. Não existem registros arqueológicos dessas obras grandiosas descritas pela Bíblia.”


Depois da morte de Salomão, as 12 tribos de Judá (cujos membros ficaram conhecidos como judeus) se dividiram em dois grupos, com dez delas ao norte e duas ao sul. A nova estrutura política dos hebreus se sustentaria até o ano 721 a.C., quando os assírios dominaram o norte do reino. O sul, incluindo Jerusalém, cairia cerca de um século e meio depois, em 586 a.C., diante da invasão dos babilônicos liderados por Nabucodonosor II, que arrasaram o Templo. Esse evento marca o desaparecimento da Arca dos relatos bíblicos. A última referência a ela está no capítulo 2 do segundo livro dos Macabeus. Prevendo a invasão dos babilônicos, o profeta Jeremias teria retirado a Arca do Sagrado dos Sagrados e escondido-a no monte Nebo – o mesmo local, às margens do mar Morto, onde se acredita que Moisés foi enterrado.

O monte Nebo fica na atual Jordânia, a 10 quilômetros de uma cidade chamada Madaba. A Bíblia afirma que a Arca foi escondida numa gruta, cuja entrada foi obstruída por Jeremias. Arqueólogos já reviraram o local de cima a baixo e não acharam nada parecido com um baú dourado. Se a Arca ficou mesmo lá, não é difícil acreditar que nos últimos 2500 anos alguém a tenha encontrado antes dos pesquisadores. Mas, como costuma acontecer, a Bíblia talvez não possa ser interpretada ao pé da letra quando se refere ao destino da Arca.

Segundo o arqueólogo israelense Dan Barat, dizer que algo foi para o monte Nebo significa, na cultura judaica, que a coisa foi esquecida – mais ou menos como quando dizemos, no Brasil, que algo “foi para o beleléu”. “Quando o texto bíblico diz que a arca foi deixada no monte Nebo, na verdade está afirmando que ela jamais será vista novamente”, afirma. A tese de Barat, que já foi consultor do Vaticano para a história de Jerusalém, faz sentido se comparada às referências a um texto apócrifo (não reconhecido pela Igreja) atribuído a Jeremias e já desaparecido. Segundo ele, a Arca teria sumido na destruição do Templo.
Se Jeremias não tirou a Arca do Templo, ela pode ter sido capturada pelos babilônicos. Essa possibilidade é defendida por alguns estudiosos, mas esbarra em algumas evidências. A lista de objetos levadas de Jerusalém para a Babilônia é conhecida, e nela não consta a Arca. A menos que os saqueadores tenham deliberadamente mantido o roubo em segredo, o objeto não chegou a ir para a Babilônia.


Mas a Arca pode ter sido escondida em Jerusalém mesmo, bem antes da chegada dos babilônicos. Essa versão também está na Bíblia, embora entre em contradição com o relato sobre Jeremias no livro dos Macabeus (que, é bom lembrar, não faz parte das Bíblias protestantes). Por volta de 626 a.C., o rei Josias teria colocado a Arca em um buraco sob o Templo de Salomão. O Talmude, tradicional compilação de leis e textos judaicos, sustenta essa versão e afirma que, no local onde havia o Templo, existe uma passagem secreta que leva a esse esconderijo. Mas, se Josias ocultou a arca em Jerusalém, fez isso tão bem que nem seu povo conseguiu encontrá-la.

Com a invasão babilônica, os judeus foram obrigados a ficar longe de Jerusalém até 539 a.C., quando a Pérsia conquistou a cidade e permitiu que eles voltassem. Em 515 a.C., no mesmo lugar do primeiro, foi erguido o segundo Templo de Jerusalém. Dentro dele, foi reconstruído o Sagrado dos Sagrados. Mas, dessa vez, o cômodo já não guardava mais a Arca. Pelo menos foi o que disse o general romano Pompeu, que invadiu a cidade quatro séculos depois, em 63 a.C., e exigiu entrar lá. Ao sair, afirmou não entender por que os judeus davam tanta importância a um quarto vazio. Os romanos levavam a sério os saques, uma das principais atividades econômicas do grande Império. Acostumados a listar as riquezas tomadas dos outros, os romanos também não fizeram menção à Arca.

O Império Romano expulsou os ju­deus da região de Jerusalém. Mas os cristãos acabaram sendo expulsos também, por muçulmanos. Até a época das Cruzadas (o esforço de reconquista da Terra Santa pelos cristãos), a Arca pemaneceu esquecida. Por volta do ano 1118, surgiram boatos de que a Ordem dos Cavaleiros Templários, um grupo de cristãos que pretendia defender os peregrinos nas Cruzadas, teria resgatado a Arca na Palestina. O objeto teria ficado nas mãos do monge francês Bernard de Clairvaux para, depois, sumir novamente. “Como tudo o que envolve os Templários, esses boatos são difíceis, senão impossíveis de averiguar”, diz o historiador Hans Borger.


( Igreja Sta.Maria do Sião- Vilarejo de Axum-Etiópia-suposto local onde hoje se encontra a Arca da Aliança)

Em meio a tanta incerteza, existe um grupo que afirma saber onde está a Arca. Os monges cristãos da Igreja Santa Maria de Sião, instalada no vilarejo Axum, na Etiópia, se dizem guardiães do objeto. A Arca teria sido levada para lá por volta de 950 a.C., pelas mãos de Menelik, filho do hebreu Salomão com Makeda, conhecida como a rainha de Sabá. Sabe-se que esse reino ocupou o que hoje são a Etiópia e parte da Eritréia e do Iêmen até ser dominado durante a expansão do Islã, no século 7. Há indícios de que a rainha de Sabá existiu, mas nenhum dado concreto sustenta que Makeda tenha tido um filho com Salomão. Apesar disso, a dinastia que governou a Etiópia até 1947 se dizia descendente direta de Menelik.

(Salomão e Makeda: Rainha de Sabá)


De acordo com os monges etíopes, a Arca está num templo perto do lago Zway, acessível apenas por um sacerdote guardião. Todos os anos, arqueólogos pedem acesso ao local para comprovar a história. Nenhum jamais foi autorizado a entrar. O argumento para tanto segredo é simples: apenas o guardião, nomeado pelos monges, pode olhar para o objeto sem morrer. O jornalista escocês Graham Hancock, ex-correspondente da revista britânica The Economist na África, escreveu um livro – Em Busca da Arca da Aliança – dizendo que os monges falam a verdade. Mas nem ele pôde entrar na caverna para conferir.

Atualmente, apesar do que dizem os monges da Etiópia, as buscas se concentram em Jerusalém, onde todas as escavações esbarram em intrincadas disputas políticas, religiosas e militares. Em 1982, por exemplo, o rabino israelense Yehuda Getz organizava pesquisas em uma caverna sob o local em que teria existido o primeiro Templo. A poucos metros de chegar ao fim dos trabalhos, teve de interrompê-los por causa dos protestos da comunidade árabe.


Mesmo que nunca seja achada, a Arca ainda é referência para os cristãos e, principalmente, para os judeus. Toda sinagoga tem, até hoje, uma área chamada Sagrado dos Sagrados, dedicada à aliança de Deus com os homens. “Graças à Arca, nossa história faz todo sentido”, diz o rabino americano Barry Kornblau, do Centro da Torá de Hillcrest, em Nova York. “Acredito que ela continuará desaparecida por bastante tempo. Quando reaparecer, representará uma renovação para a humanidade.”

A ciência tenta explicar a Bíblia




(Moisés, o faraó e a serpente)



(Moisés e a sarça ardente)

A arqueologia não está sozinha no desafio de desvendar as escrituras
O que é mito e o que é realidade nos relatos bíblicos? Responder a essa pergunta é uma das principais missões dos pesquisadores que vasculham as milenares camadas de construções que recobrem Israel e arredores. E, de tempos em tempos, um achado arqueológico parece confirmar as palavras da Bíblia. Em 1993, pesquisadores israelenses encontraram em Tel Dan, no norte do país, uma pedra de basalto datada do século 9 a.C. com uma inscrição em aramaico dizendo “Casa de Davi”. Pode ser uma coincidência, é verdade. Mas pode ser um sinal de que o rei e seu palácio existiram mesmo. A parte da Bíblia que mais desperta a curiosidade dos pesquisadores é o Êxodo. Para explicar alguns detalhes da fuga de Moisés do Egito, a arqueologia ganha a companhia de ciências como a física e a biologia. Um exemplo é o caso da Sarça Ardente, o galho de árvore que, segundo as escrituras, queimava sem nunca se consumir. Segundo os cientistas, a planta incandescente estaria localizada em uma área de grande atividade vulcânica e um jato de gás subterrâneo explicaria o fogo constante. As pragas divinas que teriam assolado os egípcios também seriam fenômenos naturais – o rio Nilo transformado em sangue, por exemplo, seria resultado do excesso de algas vermelhas na água.


Caminho sagrado

Veja por onde teria passado a Arca


A Bíblia afirma que a Arca da Aliança surgiu durante o Êxodo, a ida dos hebreus à Terra Prometida, e desapareceu nove séculos depois, na época da invasão de Jerusalém pelos babilônicos. Este mapa é uma tentativa de reconstituir, passo a passo, o caminho que teria sido percorrido pela Arca. Para isso, a descrição bíblica foi unida ao conhecimento arqueológico sobre antigas cidades e povos do Oriente Médio.

Primeira parte do êxodo (APROXIMADAMENTE 1300 A.C.)

Fugindo da escravidão no Egito, os hebreus teriam partido de uma cidade chamada Ramsés e, dois anos depois, chegado ao monte Sinai. A rota do Êxodo ao lado foi proposta pelo cientista inglês Colin Humphreys em 2003.

1. Caixa de Deus

Dois anos depois de sair do Egito, o líder Moisés recebe os Dez Mandamentos no monte Sinai (que seria o monte Bedr, na atual Arábia Saudita). Para guardá-los, o hebreu Beseleel constrói a Arca da Aliança.

2. Promessa cumprida

Os hebreus chegam à região conhecida como Canaã, a Terra Prometida, 40 anos após deixar o Egito. Depois de sobreviver a várias batalhas, a Arca é mantida na cidade de Siló, sob a proteção do sacerdote Eli.

3. Crime e castigo

Por volta de 1050 a.C., os filisteus atacam os hebreus e levam a Arca consigo. O objeto sagrado passa a causar mortes e doenças e acaba sendo devolvido aos donos, que o levam para Quiriate-Jearim.

4. Casa própria

O rei hebreu Davi decide levar a Arca para Jerusalém, cidade conquistada por ele em torno do ano 1000 a.C. Seu filho, Salomão, constrói um templo para guardar a Arca, que fica pronto em 965 a.C.

5. Esconderijo finalEm 586 a.C., os babilônicos invadem Jerusalém e destroem o templo. Mas, antes disso, o profeta Jeremias retirou a Arca da cidade, escondendo-a numa caverna no monte Nebo, na atual Jordânia.

A longa lista de suspeitos
Muitos povos passaram por Jerusalém após o sumiço da Arca

Nada de monte Nebo, Etiópia ou Babilônia: há quem diga que a Arca continuou em Jerusalém mesmo após a destruição do templo em que ficava. O problema é que, nos últimos 2500 anos, vários povos conquistaram e reconquistaram a cidade. E todos eles podem ter encontrado a Arca.

537 a.C.
Os persas derrotam os babilônicos e seu rei, Ciro, devolve Jerusalém aos judeus. As obras do novo Templo são concluídas em 515 a.C.

332 a.C.
O líder macedônio Alexandre, o Grande, derrota o rei persa Dario e conquista a Palestina. Rumo à Ásia, passa por Jerusalém.

320 a.C.
Três anos após a morte de Alexandre, Jerusalém é capturada pelo faraó egípcio Ptolomeu I.

198 a.C.
Os selêucidas tomam a Palestina e saqueiam o Templo. Mas, liderados por Judas Macabeu, os judeus recuperam a cidade sagrada.


63 a.C.
A Palestina é anexada ao Império Romano. No ano 70, após uma revolta em Jerusalém, o Segundo Templo é arrasado pelo imperador Tito. Em 135 o imperador Adriano refunda a cidade com o nome de Aelia Capitolina. Expulsos de lá, os judeus só retornariam em 438.

614
A Pérsia toma Jerusalém do Império Bizantino. Quinze anos depois, os bizantinos retornam e exigem que os judeus se convertam ao cristianismo.

638
Seis anos depois da morte do profeta Maomé, fundador do Islã, o califa Omar toma Jerusalém e permite o retorno dos judeus.


1099
Liderados por Godfrey de Bouillon, os cavaleiros cristãos da Primeira Cruzada capturam Jerusalém e expulsam judeus e muçulmanos.

1187
A cidade é retomada pelos muçulmanos, liderados pelo general curdo Saladino.

(Saladino)

1244

A dinastia muçulmana Ayyubid anexa Jerusalém. Em 1260, um grupo de ex-escravos dos Ayyubid, os mamelucos, se rebela e conquista a cidade.

1517

Os turcos otomanos do sultão Selim I chegam a Jerusalém e a ocupam pacificamente, sem resistência dos mamelucos.


1917

Durante a Primeira Guerra, os ingleses conquistam a Palestina. Três décadas depois, após o fim da Segunda Guerra, aceitam sair de lá.
1948O Estado de Israel declara independência e fica com Jerusalém Ocidental. O lado oriental, mais antigo, é controlado pela Jordânia. Em 1967, os israelenses derrotam os árabes e dominam toda a cidade.

Lá ou cá


Fora do roteiro bíblico, há dois destinos que podem abrigar a Arca hoje em dia.

Conexão africana


(Menelik, suposto filho de Salomão com a Rainha de Sabá)

Entre as supostas amantes de Salomão está Makeda, a rainha de Sabá (um antigo reino africano). Menelik, filho dos dois, teria nascido no século 10 a.C. Após ir a Jerusalém conhecer o pai, teria levado a Arca embora. Hoje em dia, em Axum, na Etiópia, monges juram guardar a relíquia num templo.
Butim babilônicoHá versões que afirmam que a Arca não foi retirada do Templo de Jerusalém antes da invasão babilônica, em 586 a.C. Dessa forma, o baú teria ficado à mercê das tropas de Nabucodonosor II, que poderiam tê-la levado para a Babilônia (no atual Iraque), mesmo sem listá-la entre os objetos confiscados.


"A arca está em Jerusalém"


Mas o pesquisador que afirma isso acha que ela nunca será encontrada
O arqueólogo israelense de origem polonesa
Dan Barat, de 69 anos, é um dos maiores especialistas na história de Jerusalém. Depois de passar 40 anos pesquisando os subterrâneos da cidade, Barat não tem dúvidas: a Arca da Aliança ainda está no local onde Salomão fez um templo para guardá-la.

História - Por que, depois de Salomão, a arca praticamente desaparece da Bíblia?

Quando Salomão trouxe a Arca para o Templo, seu valor como sinal da aliança com Javé terminou. A partir daí, todo o Templo passou a ter essa função. É por isso que não ouvimos mais falar dela até os dias do profeta Jeremias.

Que escondeu a Arca antes que os babilônicos destruíssem o Templo, em 586 a.C., certo?
O livro dos Macabeus afirma que Jeremias a escondeu no monte Nebo. Mas, na cultura judaica, o monte Nebo costuma ser mencionado como sinônimo de “esquecimento”. Quando a Bíblia cita o monte Nebo, está afirmando que a Arca jamais será vista de novo.

A Arca foi destruída, então?

Não, ela está inteira, e em Jerusalém. O Talmude diz que, depois dos babilônicos, a Arca continuava no Templo.

O senhor quer encontrá-la?
Não estou procurando pela Arca. Nem acredito que ela vá ser encontrada.
Mas achá-la não seria espetacular?Sim, é o sonho de todo arqueólogo. Mas a Arca já cumpriu sua missão e não vamos conseguir resgatá-la tão cedo. Ela ressurgirá no momento certo.

Saiba mais
Livros

Bíblia Hebraica, Seffer, 2006
O relato bíblico dos judeus é considerado pela maioria dos especialistas o mais confiável para entender a Arca.
Os Milagres do Êxodo, Colin J. Humphreys, Imago, 2003
O renomado físico britânico explica a fuga dos hebreus do Egito à luz do conhecimento científico atual.

Texto: Tiago Cordeiro

Fonte: Aventuras na História

Imagens: Internet

quinta-feira, 4 de junho de 2009

FRANCISCO DE ASSIS - O frade de Deus


Giovanni di Pietro di Bernardone, São Francisco de Assis, místico e pregador italiano, foi o fundador das ordens franciscanas. Em 1205, começou a exercer a caridade entre os leprosos e a pregar, provocando a renovação da espiritualidade cristã do século XIII. Reuniu 12 discípulos e fundou a "Primeira Ordem". Em 1212, recebeu uma freira, Santa Clara, que instituiu a ordem das damas pobres, as Clarissas, depois chamada "Segunda Ordem". Francisco de Assis viajou à Terra Santa e, na volta, encontrou oposição entre seus frades. Renunciou como superior e fundou a Terceira Ordem franciscana, os "terciários". Em 1210, o papa Inocêncio III reconheceu a ordem e, em 1215, o IV Concílio de Latrão reconheceu canonicamente a irmandade fundada por São Francisco. Durante o cerco de Damieta pelos Cruzados, Francisco de Assis foi ao Egito e fez um sermão tão apaixonado para o sultão que este permitiu que São Francisco visitasse os lugares santos, vetados aos cristãos. Em 1224, ocorreu o milagre da estigmatização. Isto é, nos pés e mãos de São Francisco surgiram chagas, iguais às de Cristo. Foi canonizado dois anos após sua morte. Em seu Cântico das Escrituras, São Francisco de Assis chama de irmãos o Sol e toda a natureza. Em 1980, o papa João Paulo II proclamou-o "Padroeiro dos Ecologistas".


Francisco de Assis nascido, (Assis, junho/dezembro de 1181 ou 1182 —3 de outubro de 1226) foi um frade católico, fundador da "Ordem dos Frades Menores", mais conhecidos como Franciscanos. Foi canonizado em 1228 pela Igreja Católica.





Por seu apreço à natureza, é mundialmente conhecido como o santo patrono dos animais e do meio ambiente: as igrejas católicas costumam realizar cerimônias em honra aos animais próximas à data que o celebram, dia 4 de outubro.
São Francisco nasceu em 1181, filho de Pietro Bernadone dei Moriconi e da nobre Pica Bourlemont, em uma família da burguesia emergente da cidade de Assis que, graças as atividades de comercio em Provenza (França), conquistou riqueza e bem estar. Sua mãe o batizou com o nome de Giovanni (apóstolo Giovanni) na igreja construída em homenagem ao padroeiro da cidade, o mártir Rufino. De toda forma o pai decide de trocar o seu nome para Francisco, inovador para aquele tempo, em honra a França, a que ele atribui o sucesso de sua atividade comercial a qual lhe trouxe fortuna.

Segundo chamado Divino

Não logrou perceber figura alguma na estrada, o homem desaparecera misteriosamente.

Ano de 1206

Comparece ante o Bispo Dom Guido III, acusado pelo pai de furto, devolve ao genitor o que lhe pertence, até as roupas e se declara servo de Deus. Pede ao Bispo sua bênção e abandona a cidade em busca dos caminhos do Senhor. É o começo da sua vida religiosa. O Bispo vê nesse gesto o chamado do Altíssimo e se torna seu protetor pelo resto da vida.

São Francisco renuncia à todos os bens que o prendiam neste mundo, veste-se como eremita e começa a restaurar a Capela de São Damião e a cuidar dos leprosos. Sofre e luta da forma mais intensa; ele, que teve de tudo, abraça a pobreza, deve primeiramente vencer-se a si mesmo, para logo pedir esmolas. Ora e trabalha incessantemente.

Igreja de São Damião

São Francisco dizia: "O trabalho, embora humilde e simples, confere honra e respeito e sempre será um mérito ante Nosso Senhor".
Seis anos mais tarde, a capela restaurada será o lar das Damas Pobres de Santa Clara.

Ano de 1208


Restaura a igreja de Sta. Maria de Anjos (porciúncula). (A pequena igreja, onde Francisco faleceu, ainda é preservada até os dias de hoje no interior da grande Basílica de Santa Maria dos Anjos. Foi nesta capela que o jovem Francisco, procurando descobrir a vontade do Senhor, escutou o Evangelho, pediu ao sacerdote que lho explicasse e, exultando de alegria, exclamou: “Isto mesmo eu quero, isto peço, isto anseio poder realizar com todo o coração”.
Restaura também a igreja de São Pedro.

Persuadido de que sua missão principal era a de restaurar e construir igrejas zelava ardentemente pelos lugares em que se celebravam os Santos Mistérios.
Um dia, na missa de São Matias
, escuta o Evangelho sobre a Missão Apostólica. Se sente tocado e passa então a caminhar pelos povoados pregando a palavra de Deus de maneira simples e passa a viver de esmolas.

Ano de 1209

Fundou em 16 de abril de 1209, com doze discípulos, a família dos doze irmãos menores, que viria a ser conhecida como a Ordem dos Frades Menores.
Os primeiros irmãos que recebe são:
Frei Bernardo de Quintavalle, que será mais tarde seu sucessor, homem de grande fortuna que abandona tudo para seguir São Francisco.
Frei Pedro Cattani, cônego e conselheiro legal de Assis, homem de esmerada cultura, instrução e dotado de grande inteligência.
E o
irmão Leão, que será sempre e em todas as horas fiel companheiro.

Ano de 1210

Com 11 irmãos vai a Roma, levando uma breve Regra (que se perdeu). O Papa Inocêncio III admirado, ouve sua exposição do programa de vida, mas com regras tão severas fica indeciso e decide esperar para aprová-las oficilmente. Assim, aprova as regras apenas verbalmente.


Conta-se que dias mais tarde, em sonhos, o Papa teve uma iluminação sobre a missão destinada por Deus à Francisco (e diz-se que este Papa foi enterrado com vestes Franciscanas).

Francisco instala-se com seus irmãos em Rivotorto, perto de Assis, num rancho abandonado, próximo de um leprosário. Esta mísera residência foi a primeira casa dos irmãos Franciscanos. Tiveram lá uma vida difícil, assinalada por duras provas.
Apesar do espírito de renúncia e sacrifício que deveria existir na vida de seus filhos espirituais, São Francisco pregava que um servo de Deus não podia manifestar tristeza, desânimo ou impaciência. Na alegria da vida, o Santo via a fortaleza da alma cristã, força que devia levar aos desamparados e todos àqueles que sofriam provocações. Irradia a luz Franciscana para toda a Itália. São enviados missionários à todo o Continente Europeu . Em muitos lugares são maltratados e sofrem todos os tipos de dificuldades, muitas vezes não sabem falar o idioma local.

São Francisco orava e trabalhava sem cessar, assistia as viúvas, às crianças famintas e a todos os excluídos, fosse no campo, nas cidades ou nos mosteiros. Orava intensamente pela conversão dos pecadores, proclamava a paz, pregando a salvação e a penitência para remissão dos pecados, resolvia conflitos, desavenças, estabelecendo sempre a harmonia em nome do Senhor.

Compreendia a dore o sofrimento, pelo amor a Deus. Considerava-se um pecador, o mais miserável dos homens, vivia em penitência e jejum, renunciava à toda comodidade. Era severíssimo consigo mesmo, mas aos seus filhos espirituais não permitia que fizessem demasiada penitência nem jejum, pedia sempre que imperasse a virtude da moderação, para assim poder melhor servirem a Deus.

Ano de 1212

Santa Clara e as Clarissas



Os
Clunicenses de Assis cederam-lhes um pouco de terreno, a porciúncula, e os Franciscanos construíram ali as suas choças.

Os Beneditinos oferecem-lhe a pequena igreja de Santa Maria dos Anjos, a Porciúncula, pois eram muitos os homens que atraídos pela vida de pureza do Santo, queriam ser acolhidos na Ordem.

Esta seria o berço da ordem Franciscana, os frades renovam solenemente seus votos: o Santo os chama de "Frades Menores" porque sempre serão pobres e humildes. Desejava que fossem puros e livres das coisas deste mundo e tivessem o coração e a mente dominados pelo desejo de Deus.

Trabalhavam com suas próprias mãos para alcançar os meios de subsistência e só em último caso pediam ajuda a outros. Jamais deveriam possuir bens de qualquer natureza, assim não teriam correntes que os prendessem à terra.
Adotaram como trajes o vestuário dos humildes: uma túnica grossa de
, amarrada por uma corda na cintura, e sandálias. Suas humildes túnicas amarradas por um simples cordão levam até hoje três nós que significam seus votos: Pobreza, Obediência e Castidade. A sua missão consistia em praticar e pregar simplicidade e amor a Deus e a caridade cristã.

Em 1212 recolhe junto de si Clara d'Offreducci, que viria a ser conhecida como Santa Clara. Com algumas companheiras que perseguiam o mesmo ideal de simplicidade fundam neste mesmo ano a Ordem das Pobres Damas, conhecida também como Ordem Segunda Franciscana ou Ordem das Clarissas, destinada às mulheres que desejassem deixar o mundo, numa dedicação exclusiva à Deus, para uma vida de oração e de pobreza.

Ano de 1213

O Conde Orlando de Chiusi oferece a São Francisco um monte chamado Alverne, para servir de eremitério, retiro e oração. É aqui que São Francisco receberá no fim da vida os sagrados estigmas.

Ano de 1215

Faz amizade com São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Pregadores. Por ocasião do Concílio de Latrão em 1215 encontram-se em Roma, Francisco e Domingos.

Ao sair de uma igreja Domingos viu Francisco, reconhecendo de imediato o homem predestinado por Deus para a restauração da Igreja Universal. Sentiram uma profunda atração e uma santa amizade uniu aquelas duas almas, que tanto bem deveriam fazer para a humanidade.

Os dois receberam do Papa Inocêncio III, em Roma, no ano de 1215 a incumbência de um trabalho gigantesco para a glória de Deus e salvação das almas.

Ano de 1216

Obtém do Papa Honório III, sucessor de Inocêncio III e a pedido do próprio São Francisco uma Indulgência para a Igrejinha de Santa Maria dos Anjos.
Ato bastante audacioso do Santo pois a Indulgência
só era dada aos peregrinos da Terra Santa e aos Cristãos que iam às Cruzadas.

Do Ano de 1217 a 1219

Francisco leva o Evangelho aos povos sarracenos. Efetuam-se grandes missões ao exterior. São Francisco visita o Santuário de Santiago de Compostela, na Espanha. Vai de navio a Marrocos, no Egito atravessa as linhas inimigas e vai ao acampamento do Sultão do Egito Melek el Kamel, guerreiro temido pela sua crueldade, que comandava as forças Muçulmanas nas Cruzadas contra os Cristãos. O Sultão fica surpreso com o audaz visitante, mantém longas conversas com ele e pede para que fique ali. São Francisco responde: "De bom grado fico se te convertes ao Cristianismo e pedes o mesmo ao teu povo".

Em Damieta, São Francisco se encontra com os Cristãos que faziam parte das Cruzadas e que tinham sido derrotados pelos Muçulmanos. Cuida dos feridos, prega a palavra de Deus, levando a todos conforto espiritual. Conta-se que nessa batalha morreram 6.000 cristãos.

Em Marrocos, 5 de seus missionários são mortos e decapitados, foram os primeiros mártires da família Franciscana, posteriormente, em 1481, são canonizados pelo Papa Sisto IV. Até hoje os Frades Menores encontra-se presentes em todo o Oriente, trabalhando pela Paz e a conversão.

Os Frades Menores ganharam a custódia do Santo Sepulcro em Jerusalém, obra que causa admiração aos cristãos do mundo inteiro, esta conquista se deve a suas Santas Missões, orações e obras de caridade.

Em sua volta do Oriente, por onde passa São Francisco estabelece a paz, converte os incrédulos e opera inúmeros milagres através da oração. Em todas as cidades lhe prestam homenagem, mas ele se mantém sempre humilde e em penitência, com uma vida cheia de amor, fé e obras. Em Bolonha instala seu primeiro hospital.

Santo Antônio de Pádua

Conhece
Santo Antônio de Pádua, que havia sido cônego de Santo Agostinho e se tornado um Frade Menor. Mais tarde, São Francisco lhe pede numa carta que ensine Teologia aos frades mas que não se apague o espírito da oração e devoção como mandava a Regra.

Santo Agostinho

Na sua humildade, buscava unir-se sempre mais a Deus, desejando a confraternização de todos os seres, sem distinção de raça, credo ou cor. Ele repetia:
"Todos os seres são iguais, pela sua origem, seus direitos naturais e divinos e seu objetivo final."

Pobres e ricos, poderosos e humildes, rudes e letrados entravam em grande quantidade para a Ordem.

Ano de 1221

Funda a Ordem Terceira, constituída por membros leigos (homens e mulheres), procurando criar um instrumento de concórdia e de bem estar social.

Nesse mesmo ano é aprovada a terceira Regra, chamada de Regra Bulada (aprovada) que impera até hoje. O texto original conserva-se como relíquia no Sacro Colégio de Assis, outra cópia, com a aprovação Papal se encontra no Vaticano.

Ano de 1224

O Frei Elias fica sabendo em sonhos que São Francisco só terá mais dois anos de vida. Neste mesmo ano o Santo de Assis nomeia o próprio Frei Elias vigário, para suceder o Frei Pedro Cattani, falecido há pouco.

São Francisco inspirado por Deus junto com o Irmão Leão, seu fiel companheiro e confessor e outros Frades retira-se ao Monte Alverne já bastante doente, preparando-se para a quaresma de oração e jejum e a festa de São Miguel Arcanjo, vive em louvor a Deus passando noites e dias inteiros em oração, só um pedaço de pão e água que o irmão Leão lhe levava.

Conta-se que quando ia para o Eremitério, na longa caminhada de Assis ao monte Alverne, um pobre homem que levava Francisco em seu jumento, lastimava-se dolorosamente: "Estou morrendo de sede, se não beber água vou morrer!". O Santo compadecido e vendo o lugar tão árido, composto só de pedras e cascalho, desceu do jumento e ficou em fervorosa oração, logo disse ao homem: "Corre para trás daquela pedra, ali encontrarás água viva, que neste momento Cristo com sua força, misericórdia e poder fez nascer".

No monte Alverne falou aos irmãos: "Sinto aproximar-me da morte e desejo permanecer solitário, recolher-me com Deus para lamentar meus pecados".
O Frei Leão contava que muitas vezes viu São Francisco em êxtase
adorando a Deus em visões celestiais. Em uma oportunidade viu que São Francisco falava diante de uma resplandecente chama, outra vez disse que viu o Santo extrair algo de seu peito para oferecer a Deus.

O Frei Leão perguntou depois a São Francisco o que significava aquilo, e ele respondeu:

"Meu irmão, naquela chama que viste estava Deus, o qual daquela maneira me falava, como antigamente o fez com Moisés, e entre outras coisas me pediu para lhe oferecer três coisas, e eu lhe respondi: Senhor meu, Tu sabes bem que só tenho o hábito, o cordão e uma pobre veste e ainda estas três coisas são Tuas, que posso, pois Te oferecer Senhor?"
"Então Deus me disse: Procura no teu peito e oferece-me o que encontrares. Levei a mão ao coração e encontrei uma bola de
ouro e a ofereci a Deus e assim fiz por três vezes, segundo Deus me ordenara! Imediatamente pude compreender que aquelas três oferendas significavam: a Santa Obediência, a Altíssima pobreza e a Esplêndida Castidade".

Noutra ocasião o próprio São Francisco, ainda deslumbrado, contou a Frei Leão que viu-se cercado de inúmeros anjos, um deles tocava em delicado violino uma maravilhosa música e que se o anjo continuasse com os acordes da celeste melodia, ele certamente teria deixado a vida terrena, para participar das harmonias eternas. Na solidão em que desejou ficar o Santo também teve momentos de difíceis provações.
Nos estados contemplativos, eram-lhe revelados por Deus, não somente coisas do presente, mais também do futuro
, assim como, por exemplo, as dúvidas, os secretos desejos e pensamentos dos irmãos.

Frei Leão numa hora amarga quando sofria tentações, recebeu uma preciosa bênção para qualquer doença do espírito. Uma bênção assinada com um simples Tau, que representa o símbolo da cruz, o amor a Cristo, também é o signo dos que são amados por Deus, São Francisco tinha grande veneração por este símbolo e nas suas cartas assinava com ele. Tau é a transformação, o equilíbrio, o trabalho, a conversão interior que o homem deve sofrer para unir-se às coisas superiores.

São Francisco amava tanto o Cristo crucificado que pediu ardentemente duas graças: que antes de morrer pudesse ele mesmo sentir na alma e no corpo o amor e o sofrimento da paixão.


Estigmas

São Francisco de Assis recebe os estigmas em setembro de 1224 no monte Alverne, após uma visão do Cristo Crucificado, onde se encontrava em companhia de Leão e Rufino para um período de jejum. Os estigmas foram a confirmação de sua missão. Francisco terminou sua caminhada de imitação de Cristo. É o primeiro a receber os estigmas no cristianismo. Ele procura esconder seus estigmas com ataduras. Durante sua vida só duas pessoas viram seus estigmas, Frei Elias viu e Frei Rufino tocou. A dor de suas chagas, só fizeram aumentar sua fé e seu desejo de não possuir nada. Francisco não possui absolutamente nada, nem suas vestes eram dele. Tudo o que tinha era emprestado ou doado para na hora devida ser devolvida. Quando morreu, os que o cercavam precipitaram-se sobre seu corpo e o número dos que afirmavam ter visto os estigmas de Francisco não parou de crescer durante todo o século XIII.
A Legenda Trium Sociorum – Legenda dos três companheiros é a fonte que melhor explica este momento. Pois os três companheiros eram Leão, Rufino e Ângelo que era o único que não se encontrava no monte Alverne com Francisco. Sua vida foi cercada de amigos que mais tarde serviriam de testemunha durante as pesquisa para a realização de suas primeiras biografias.

O Santo de Assis alcançou essas duas graças. Ele pode ver no céu, um Serafim todo resplandecente de luz que se lhe aproximou e então recebeu os estigmas de Cristo, transpassando-lhe os pés e as mãos. Isto se deu em 14 de setembro de 1224.

Ano de 1225

São Francisco retorna a Sta. Maria dos Anjos, muito doente e quase cego, muitos foram os milagres realizados com seus estigmas. A corte papal envia-lhe médico para tratamento mas nada resolve. Sabendo-se próximo da morte, desde a planície lança uma bênção sobre Assis, compõe o "Cântico ao Sol" e dita seu testamento.
Francisco morre, rodeado de seus Filhos Espirituais. Fez ler o Evangelho e na Última Ceia abençoa seus filhos espirituais presentes e futuros. Foi sepultado na Igreja de São Jorge
na cidade de Assis.

Ano de 1228


Túmulo de São Francisco

A dois anos da sua morte é canonizado pelo próprio Papa Gregório IX no dia 16 de julho de 1228, que vai a Assis.

Conta-se que inicialmente o Papa Gregório IX duvidou da veracidade da chaga do lado de São Francisco. Conforme depois relatou, apareceu-lhe uma noite São Francisco e erguendo um pouco o braço direito, descobriu a ferida do lado e o Papa viu o sangue com água que saía da ferida, assim toda dúvida foi apagada.
Com a construção da nova Basílica
na cidade de Assis, que recebe seu nome como formas de homenagear o Santo nascido nesta cidade, suas relíquias foram transladadas para o altar deste templo sagrado.

São Francisco sempre foi um grande devoto da Santíssima Virgem Maria, prestou-lhe sempre homenagem. Foram os Franciscanos os promulgadores da devoção da Imaculada Conceição. O dogma foi promulgado em 1854. A virgem Maria representava para São Francisco as portas do céu, ela lhes oferecia o diurno auxílio na senda espiritual.

Sua contribuição

Após renunciar ao mundo em 1206, Francisco fez penitência durante dois anos e lançou-se a pregar em linguagem simples e ardorosa.

Francisco amava e respeitava todas as pessoas, ao mesmo tempo, que protegia animais e plantas aos quais chamava, carinhosamente, de irmãos. Para ele, também a chuva, o vento e o fogo deveriam ser reverenciados e respeitados como irmãos. São Francisco considerado o santo mais amigo dos animais, teve entretanto algumas uma citações sobre animais como se humanos fossem, inclusive exarcebando sua compreensão e paz. Certa vez disse ser um passarinho guloso, o Santo o amaldiçoou, disse que este pássaro morreu afogado, e não houve gato, ou qualquer outro animal que o quisesse comer. Esta foi a única citação de sem sua história. Santa Clara entretanto tinha uma gata, que inclusive chamavam de Irmã Gatinha e que acompanhava as Irmãs, inclusive ao coro. Tanto que a "Irmã Gatinha" teve a honra de ser citada no processo de canonização de Santa Clara.

São Francisco é respeitado por várias religiões pela sua mensagem de paz. Ficou famosa uma oração atribuída a ele que começa com os dizeres "Senhor, fazei-me instrumento de Vossa paz...". Embora não haja certeza de sua autoria, ela reflete mais que qualquer outra os ensinamentos e a vida desse grande homem, reconhecido como santo no mundo todo e adotado como patrono da ecologia e da paz.

O Santo de Assis aceitou os percalços e as vicissitudes da vida terrena, numa demonstração de coragem e de fé inabalável, sempre aceitou tudo se colocando dentro da virtude da humildade, e de todas as graças dadas pelo Espírito Santo, nenhuma é mais preciosa do que a da renúncia. O maior dom de Deus é o da vitória sobre o amor próprio. É feliz todo aquele que suporta todos os sofrimentos por amor a Deus.

Em toda sua vida religiosa espalhou o amor universal, a caridade, a paz e a humildade, levando felicidade a muitas almas, quantas vezes no fim da sua vida, doente estigmatizado e quase cego visitava cidades e aldeias pregando as verdades evangélicas, atendia os pobres, os leprosos e necessitados, com seu coração cheio de santas consolações pedindo a paz, jamais dando por terminada sua missão terrena e desejando ainda servir a Deus.

Nunca consumia mais que o mínimo necessário para viver e incentivava a todas as pessoas a fazerem o mesmo. Tem-se dito, que, imitando a cavalaria, Francisco também teve a sua dama, Madonna Povertà, a Senhora Pobreza, que ele serviu e cantou com grande entusiasmo.

Corrigia com doces palavras, mas sabia ser enérgico quando necessário. Falava aos seus filhos espirituais para que se afastassem do orgulho, vaidade, egoísmo e avareza, que fossem sempre o exemplo da santa pobreza (como ela a chamava), humildade, caridade e trabalho. Sempre foi simples em tudo, severo consigo mesmo, mas benigno com os outros. Nos ensinamentos do Evangelho encontrava o apoio para aliviar a dor de aquelas almas que em desespero acudiam a ele, e através da sua fervorosa oração operou grandes milagres.

Ele dizia: "Tudo o que faço é Nosso Senhor que me guia". Sua alma pura e cristalina aparecia aureolada de luz e ao igual que o Apóstolo Paulo repetia: "Já não vivo eu, é Cristo que vive em mim". Suas orações e meditações, constantes e prolongadas por dias e noites eram elevadas ao Ser Divino, que ele tanto amava, eram de adoração, de louvor e de ação de graças, ardentes diálogos para poder servir melhor ao Senhor, outras para pedir pelos pobres, os doentes e desamparados, ou para implorar sem cessar a Deus por seus filhos espirituais, temendo a infidelidade de uns e a deserção de outros. Conta-se que estando ante uma visão divina, dizia humildemente:
"Senhor Deus, que será depois da minha morte, da tua pobre família, que por tua benignidade foi entregue a mim pecador? Quem a confortará? Quem a corrigirá? ou Quem rogará por ela?

Prometeu-lhe o Senhor que seus filhos espirituais não desapareceriam da face da terra, até o fim dos tempos, grandes graças do céu receberiam os religiosos da Ordem que permanecessem na prática do bem e na pureza da Regra. Os frades Franciscanos já existem há mais de 800 anos.

As Ordens Franciscanas

Três ordens se articulam a partir da orientação de São Francisco:
À Ordem primeira, dos Frades Menores, incumbia o apostolado de seguir os passos do nosso Senhor Jesus Cristo e de exemplo de obediência para a Igreja.

À Ordem Segunda, das Pobres Damas, cabia o sacrifício, a oração e zelar pelo amor a Deus no Claustro.

À Ordem Terceira, dos Irmãos da Penitência, conhecida atualmente como Ordem Franciscana Secular, destinaria a missão de reavivar nas consciências a honestidade dos costumes e os sentimentos Cristãos de paz e caridade. Esta ordem é composta por homens e mulheres leigos que buscam em seu cotidiano levar a todos estes sentimentos, almejando a perfeição de vida Cristã sem abandonar a própria família ou renunciar às suas propriedades.

"Carta aos Governantes dos Povos"

São Francisco escreveu:

A todos os podestás, cônsules, juizes e regentes no mundo inteiro, e a todos quantos receberem esta carta, Frei Francisco, mísero e pequenino servo no Senhor, deseja saúde e paz.

Considerai e vede que "se aproxima o dia da morte"(Gn 47,29). Peço-vos, pois, com todo o respeito de que sou capaz que, no meio dos cuidados e solicitudes que tendes neste século, não esqueçais o Senhor nem vos afasteis dos seus mandamentos. Pois todos aqueles que o deixam cair no esquecimento e "se afastam dos seus mandamentos" são amaldiçoados (Sl 118,21) e serão por Ele "entregues ao esquecimento" (Ez 33,13). E quando chegar o dia da morte, "tudo o que entendiam possuir ser-lhe-á tirado" (Lc 8,18). E quanto mais sábios e poderosos houverem sido neste mundo, tanto maiopulta "tormentos padecerão no inferno" (Sb 6,7).

Por isso aconselho-vos encarecidamente, meus senhores, que deixeis de lado todos os cuidados e solicitudes e recebais com amor o santíssimo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, por ocasião de sua santa memória. Diante do povo que vos foi confiado, prestai ao Senhor este testemunho público de veneração: todas as tardes mandai proclamar por um pregoeiro, ou anunciai por algum sinal, que todo povo deverá render graças e louvores ao Senhor Deus Todo-Poderoso. E se não o fizerdes, sabei que havei de dar conta perante vosso Senhor Jesus Cristo no dia do juízo.

Os que levarem consigo este escrito e o observarem saibam que serão abençoados por Deus nosso Senhor.

Textos de São Francisco

Canticum Fratris Solis, Cântico ao Irmão Sol.
Prece diante da Cruz, 1205.
Regula non bullata, a Regra Anterior, 1221.
Regula bullata, a Regra Posterior, 1223.
Testamento, 1226.
Admoestações

Cinema

A Vida de São Francisco de Assis inspirou vários cineastas ao longo de décadas. Em 1951, na Itália,Roberto Rosselini dirigiu "Francesco, arauto de Deus", com frades franciscanos autênticos.
Em 1961
, Holywood se rendeu a vida do santo em "São Francisco de Assis"/"Francis of Assis", EUA, dirigido por Michael Curtiz, com Bradford Dillman no papel do santo arauto de Assis.
A mais famosa versão da trajetória do santo levada as telas do cinema veio em
1972, da itália (em co-produção com Inglaterra), em forma de musical, e dirigida pelo conceituadíssimo Franco Zeffirelli, "Fratello Sole, Sorella Luna" ("Irmão Sol, Irmã Lua" ), que chegou a receber uma indicação para o Oscar, com Graham Faulkner interpretando o taumaturgo de Assis.
A renomada cineasta
Liliana Cavani dirigiu em 1989 a produção italiana "Francesco" ("Francesco - A história de São Francisco de Assis"), onde Mickey Rourke interpreta o papel do santo.

Cântico das Criaturas

Louvado seja Deus na natureza,
Mãe gloriosa e bela da Beleza,
E com todas as suas criaturas;
Pelo irmão Sol, o mais bondoso
E glorioso irmão pelas alturas,
O verdadeiro, o belo, que ilumina
Criando a pura glória - a luz do dia!

Louvado seja pelas irmãs Estrelas,
Pela irmã Lua que derrama o luar,
Belas, claras irmãs silenciosas
E luminosas, suspensas no ar.

Louvado seja pela irmã Nuvem que há-de
Dar-nos a fina chuva que consola;
Pelo Céu azul e pela Tempestade;
Pelo irmão Vento, que rebrama e rola.

Louvado seja pela preciosa,
Bondosa água, irmã útil e bela,
Que brota humilde. É casta e se oferece
A todo o que apetece o gosto dela.

Louvado seja pela maravilha
Que rebrilha no Lume, o irmão ardente,
Tão forte, que amanhece a noite escura,
E tão amável, que alumia a gente.

Louvado seja pelos seus amores,
Pela irmão madre Terra e seus primores,
Que nos ampara e oferta seus produtos,
Árvores, frutos, ervas, pão e flores.

Louvado seja pelos que passaram
Os tormentos do mundo dolorosos,
E, contentes, sorrindo, perdoaram;
Pela alegria dos que trabalham,
Pela morte serena dos bondosos.

Louvado seja Deus na mãe querida,
A natureza que fez bela e forte:
Louvado seja pela irmã Vida
Louvado seja pela irmã Morte.
Amém

Referências

Animais no Altar. Frei Clarêncio Neotti, OFM - Folhinha do Sagrado Coração de Jesus 2008 - Editora Vozes - Petrópolis - RJ, referente ao dia 14 de maio
Frade Elias, Epistola Encyclica de Transitu Sancti Francisci, 1226.
Papa Gregório IX, Bulla "Mira circa nos" para a canonização de São Francisco, 19 de
julho de 1228.
Frade
Tommaso da Celano: Vita Prima Sancti Francisci, 1228; Vita Secunda Sancti Francisci, 1246 – 1247; Tractatus de Miraculis Sancti Francisci, 1252 – 1253.
Frade
Julian of Speyer, Vita Sancti Francisci, 1232 – 1239.
São Bonaventure de Bagnoregio, Legenda Maior Sancti Francisci, 1260 – 1263.
Ugolino da Montegiorgio, Actus Beati Francisci et sociorum eius, 1327 – 1342.
Fioretti di San Francesco, do final do século 14
: versão italiana anônima dos Actus; é a fonte mais popular, mas por ser relativamente tardia não é considerada como o documento de maior autoridade.

Vídeos:

Irmão Sol, Irmã Lua: http://www.youtube.com/watch?v=qLcbm28WrKU&feature=related

Oração de São Francisco: http://www.youtube.com/watch?v=ZaHvMGclq5E&feature=related

Cántico de las Criaturas: http://www.youtube.com/watch?v=8SXBUwI0phE&feature=related

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Assis

Imagens: Internet