sábado, 22 de novembro de 2008

Gibran Khalil Gibran
( جبران خليل جبران ) nasceu em 6 de dezembro de 1883, na cidade de Bisharri, no sopé da Montanha do Cedro, no norte do Líbano. O pai, um coletor de impostos, bebia e jogava, mas vinha de uma linhagem de intelectuais e de religiosos maronitas pelo lado da mãe. Khalil não teve uma educação formal, mas aprendeu inglês, francês e árabe ao mesmo tempo, além de revelar-se uma promessa precoce como artista, desenvolvendo uma paixão por Leonardo da Vinci aos seis anos de idade. Aos onze anos, toda a família, com exceção do pai, emigrou para a América e estabeleceu-se em uma comunidade de imigrantes libaneses no bairro chinês de Boston. A mãe trabalhava como costureira, e o irmão mais velho, Boutros, abriu um armazém. Gibran freqüentou a escola, onde seu nome começou a ser escrito como Khalil. Foi mandado para aulas de desenho e em seguida foi apresentado ao fotógrafo Fred Holland Day, que o usou como modelo e lhe encomendava desenhos.
Em 1898, Gibran foi mandado para casa para freqüentar a escola Al Hikma, em Beirute. Estudou literatura francesa romântica e árabe. Em 1902, voltou para a família via Paris. Uma das irmãs, Sultana, morreu de tuberculose antes da sua chegada, e foi logo seguida pelo irmão, Boutros. Dentro de apenas algumas semanas, a mãe morreu de câncer, deixando-o com a irmã caçula, Mariama. Gibran vendeu o armazém e passou a ganhar a vida como pintor. Mais tarde, teve um romance com a jornalista Josephine Peabody, que o apresentou a Mary Haskell, uma professora que viria a ser sua patrocinadora e colaboradora. Sua carreira como escritor estabeleceu-se quando começou a escrever para o jornal Mohajer, de emigrantes árabes.
Em 1905, o primeiro livro, AI-Musiqah, foi publicado. Seguiram-se mais artigos e livros, a maioria criticando o Estado e a Igreja e, em 1908, seu livro de poemas em prosa, Ai-Arwah ai Mutamarridah, foi proibido pelo governo sírio e ele foi excomungado pela Igreja Sida. Mary Haskell patrocinou-lhe então uma estada de dois anos em Paris, onde Gibran estudou pintura na École des Beaux-Arts e na Académie Julien, onde fez uma exposição em 1910.
De volta aos Estados Unidos, depois de Mary Haskell ter recusado seu pedido de casamento, mudou-se para Nova lorque e trabalhou como pintor de retratos. Fazia exposições regularmente, e um livro com seus desenhos foi publicado. Em 1912, a publicação de sua novela Broken Wings rendeu-lhe uma correspondência permanente com May Ziadah, uma jovem libanesa que vivia no Cairo. Mary Haskell encorajou-o a escrever em inglês e, em 1915, apareceu um poema, Pie Perfect World, seguido do primeiro livro em inglês, Pie Madman, em 1918. Durante este tempo, continuou a escrever em árabe e a trabalhar como artista.
Em 1920, Gibran tomou-se um dos fundadores de uma sociedade literária chamada Arrabitali ou O Laço da Pena. Sua carreira como pintor e escritor florescia, mas estava com problemas cardíacos e começou a beber muito para mitigar as dores no coração. Era convidado com frequência a discursar para congregações de igrejas liberais.
Em 1922, foi inaugurada uma exposição de seus desenhos a bico de pena e aquarelas e, em 1923, foi publicada sua obra-prima, O Profeta. Foi um sucesso imediato e as vendas nunca caíram. Publicou vários outros trabalhos em inglês e em árabe, sendo o mais notável Jesus, Filho do Homem (1928), antes de morrer, em Nova York, de insuficiência hepática e tuberculose incipiente em 10 de abril de 1931. Gibran nunca perdeu a paixão pelo Líbano, sua terra natal, onde foi enterrado e onde é considerado uma lenda.


ALGUNS TRECHOS DE SUA VASTA OBRA

A PRECE

"Vós orais na aflição e na necessidade; também devieis orar na alegria e nos tempos de abundância.
Pois o que é a oração senão a expansão de vós no ar vivo?
E se vos dá consolo largar vossa escuridão no espaço, também vos deve dar felicidade lançar o vosso coração à aurora.
E se só conseguirdes chorar quando a vossa alma vos chamar à oração, ela vos estimulará até que, ainda a chorar, vos comeceis a rir.
Quando rezais encontrais no ar aqueles que rezam à mesma hora e que, se não fosse na oração, nunca encontrarieis.
Por isso deixai que a vossa visita a esse templo invisível não seja senão para o êxtase e doce comunhão.
Pois não deveis entrar no templo com outro objectivo que não seja o de pedir aquilo que não recebereis:
E se lá entrardes com humildade assim permanecereis:
Ou mesmo se lá entrardes para pedir favores para os outros não sereis ouvidos.

É suficiente que entreis invisíveis no templo.
Não vos posso ensinar a orar por palavras.
Deus não ouve as vossas palavras a não ser quando ele próprio as murmura através dos vossos lábios.
E não vos posso ensinar a oração dos mares e das florestas e das montanhas.
Mas vós que nascestes nas montanhas e nas florestas e nos mares, encontrareis a oração nos vossos corações, e se escutardes na quietude da noite, ouvi-los-eis dizer em silêncio:
"Nosso Deus, que sois o nosso eu alado, é a vossa vontade em nós que quer.
E o vosso desejo em nós que é desejado.
É a vossa vontade para que tornemos as nossas noites que são vossas, em dias
que são igualmente vossos.
Não vos podemos pedir, pois conheceis os nossos desejos antes de nós
próprios nascermos, vós sois o nosso desejo, e em dar-nos mais de vós, dais-vos todo."
(Para ouvir o texto original, acesse:
http://www.youtube.com/watch?v=udvrO_Ef7ZE ).


A Tempestade

O Pássaro e o homem tem essências diferentes.
O homem vive à sombra de leis e tradições por ele inventadas;
o pássaro vive segundo a lei universal que faz girar os mundos.
Acreditar é uma coisa; viver conforme o que se acredita é outra.
Muitos falam como o mar, mas vivem como os pântanos.
Muitos levantam a cabeça acima dos montes;
mas sua alma jaz nas trevas das cavernas.
A civilização é uma arvore idosa e carcomida,
cujas flores são a cobiça e o engano e cujas frutas
são a infelicidade e o desassossego.
Deus criou os corpos para serem os templos das almas.
Devemos cuidar desses templos para que sejam
dignos da divindade que neles mora.
Procurei a solidão para fugir dos homens, de suas leis,
de suas tradições e de seu barulho.
Os endinheirados pensam que o sol e a lua e as estrelas se levantam
dos seus cofres e se deitam nos seus bolsos.
Os políticos enchem os olhos dos povos com poeira
dourada e seus ouvidos com falsas promessas.
Os sacerdotes aconselham os outros,
mas não aconselham a si mesmos,
e exigem dos outros o que não exigem de si mesmos.
Vã é a civilização. E tudo o que está nela é vão.
As descobertas e invenções nada são senão brinquedos
com a mente se diverte no seu tédio.
Cortar as distâncias, nivelar as montanhas,
vencer os mares, tudo isso não passa de
aparências enganadoras, que não alimentam o
coração e nem elevam a alma.
Quanto a esses quebra-cabeças, chamados ciências e artes,
nada são senão cadeias douradas com os quais o homem
se acorrenta, deslumbrados com seu brilho e tilintar.
São os fios da tela que o homem tece desde o inicio
do tempo sem saber que, quando terminar sua obra,
terá construído a prisão dentro da qual ficará preso.
Uma coisa só merece nosso amor e nossa dedicação, uma coisa só...
É o despertar de algo no fundo dos fundos da alma.
Quem o sente não o pode expressar em palavras.
E quem não o sente, não poderá nunca conhecê-lo através de palavras.
Faço votos para que aprendas a amar as tempestades em vez de fugir delas.



Entre as Colinas

Entre as colinas,quando vos sentardes à sombra frescados álamos brancos,partilhando da paz e da serenidade dos campose dos prados distantes,então que vosso coração diga em silêncio:"Deus repousa na Razão".E quando bramir a tempestade,e o vento poderoso sacudir a floresta,e o trovão e o relâmpago proclamarema majestade do céu,então que vosso coração digacom temor e respeito:"Deus age na Paixão".E já que sois um sopro na esfera de Deuse uma folha na floresta de Deus,também devereisdescansar na razão e agir na paixão.



TRECHO DO PROFETA

Sete vezes desprezei minha alma:
Quando a vi disfarçar-se com a humildade para alcançar a grandeza;
Quando a vi coxear na presença dos coxos;
Quanto lhe deram a escolher entre o fácil e o difícil, e escolheu o fácil;
Quando cometeu um mal e consolou-se com a idéia de que outros cometem o mal também;
Quando aceitou a humilhação por covardia e atribuiu sua paciência à fortaleza;
Quando desprezou a fealdade de uma face que não era, na realidade, senão uma de suas próprias máscaras;
Quando considerou uma virtude elogiar e glorificar.


Fontes:
http://www.paralerepensar.com.br/gibran.htm
http://www.vidaempoesia.com.br/gibrankhalilgibran.htm