quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

OSCAR WILDE - Brilhante, polêmico e arrogante


16/10/1854 , Dublin, Irlanda - 30/11/1900, Paris, França


Escritor dotado de grande talento, usa como tema central de seus livros, o ambiente social em que vivia. Fala do efêmero, dos prazeres mundanos, da aristocracia decadente, do belo, do fútil, dos gastos desmedidos com festas e saraus, e da volúpia. Era um *dândi (*Janota, almofadinha), usava longos cabelos, roupas espalhafatosas com paletós ornados de flores.Oriundo de família de classe média alta, desde cedo teve acesso à cultura e a companhia de artistas e intelectuais. Ao chegar em Londres, conhece Constance Mary Holland, de família tradicional irlandesa, moderna, culta, poliglota, que além desses atributos, também era rica o que o levou a casar-se em 1884, por interesse . Tiveram dois filhos, Cyrill (1885) e Vyvyan (1886), nesse ano, resolve assumir abertamente sua relação homossexual com Robert Ross, seu hóspede. Esse seu comportamento libertino em plena era Vitoriana, custou-lhe muito caro.
Com os constantes escândalos sobre sua vida de luxúria, homossexualidade e libidinagem, perde a tutela dos filhos e tem seus bens penhorados para pagamento das custas processuais. Vê tudo ruir à sua volta, sua credibilidade, sua imagem de escritor, esposo e pai. Seu declínio profissional e moral, culminaram com o abandono e a solidão que o acompanharam até sua morte aos 46 anos, num hotel barato de Paris, contaminado pela sífilis, o alcoolismo e a meningite, resultado da vida orgiástica que vivia.
Foi enterrado em uma sepultura simples paga por seu ex-amante Lord Alfred Douglas, e em 1909 seus restos foram transferidos para o cemitério de Père Lachaise.




Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde, um dos maiores escritores de língua inglesa do século 19, tornou-se célebre pela sua obra e pela sua personalidade. Sofisticado, inteligente, adepto do esteticismo (da "arte pela arte"), escreveu contos ("O Crime de Lord Arthur Saville"), teatro ("O Leque de Lady Windermere"), ensaios ("A alma do homem sob o socialismo"), e romances ("O Retrato de Dorian Gray").Oscar Wilde era filho de um médico, Sir William Wilde e de uma escritora, Jane Francesca Elgee, defensora do movimento da Independência Irlandesa. Desde criança Oscar Wilde esteve sempre rodeado por grandes intelectuais. Criado no protestantismo, destacou-se nos estudos das obras clássicas gregas e no conhecimento dos idiomas.Em 1882, foi convidado para ir aos Estados Unidos para falar sobre o seu recém criado Movimento Estético, com as idéias de renovação moral. Defendia o "belo" como única solução contra tudo o que considerava denegrir a sociedade.



Esse movimento visava transformar o tradicionalismo na época Vitoriana, dando um tom de vanguarda às artes.No ano seguinte foi para Paris, e, n contato com o mundo literário francês, seu movimento acabou por enfraquecer-se. Em seguida, retornou para a Inglaterra, onde se casou com Constance Lloyd e foi morar em Chelsea, um bairro de artistas. O casal teve dois filhos, mas mesmo após o casamento, Oscar continuou freqüentando todas as rodas literárias, espalhando glamour e comentários nos eventos sociais em que comparecia, sempre elegante e extravagante.Em 1880 lançou "Vera", um texto teatral bem sucedido. Chegou a ter três peças em cartaz simultaneamente nos teatros ingleses.Em seguida publicou uma coletânea de poemas. Em 1887 e 1888, seu período mais produtivo, lançou vários contos e novelas, como "O Príncipe Feliz", "O Fantasma de Canterville" e outras histórias.Em 1891, lançou sua obra prima, "O Retrato de Dorian Gray", que retrata a decadência moral humana. No entanto, no seu apogeu literário, começaram a surgir os problemas pessoais. O que antes eram boatos quanto a uma suposta vida irregular, passaram a se concretizar, dando início á decadência pessoal do escritor.

Apareceram rumores sobre seu homossexualismo, (severamente condenado por lei na Inglaterra), que não puderam mais serem negados. Oscar se envolveu com Lord Alfred Douglas (ou Bosie), filho do Marquês de Queensberry, que sabendo do relacionamento, enviou uma carta a Oscar Wilde, no Albermale Club, onde o ofendia e recriminava já no sobrescrito: "A Oscar Wilde, conhecido Sodomita".O escritor decidiu processar o Marquês por difamação. Depois tentou desistir do processo, mas era tarde demais e as provas da sua vida sexual desregrada começam a aparecer. Um novo processo contra ele foi instaurado. Sua fama começou a desmoronar. Suas obras e livros foram recolhidos e suas comédias retiradas de cartaz. O que lhe restava foi leiloado para as despesas do processo judicial. Acabou passando dois anos na prisão, que lhe renderam obras comoventes como "A Balada do Cárcere de Reading" (1898) e "De Profundis", uma longa carta ao Lord Douglas. Ao sair da prisão, retirou-se para Paris, onde adotou o pseudônimo de Sebastian Melmouth e onde passou o resto dos seus dias, em hotéis baratos, embriagando-se com absinto.Após seu envolvimento com Bosie e sua prisão, suas obras são recolhidas das livrarias e suas peças retiradas de cartaz. Os bens que lhe restam são leiloados para cobrir despesas do processo judicial. Neste momento, finda seu período literário mais produtivo, que ocorreu entre 1887 e 1895.



Entre os anos de 1887 e 1888, várias obras foram publicadas, entretanto, neste momento, apesar de trazem uma certa carga de amargura pessoal, suas obras foram consideradas excessivamente fantasiosas, sendo até mesmo comparadas com "contos de fadas". Até 1889, atua como editor no "The woman's world".
No entanto, ao mesmo tempo em que conquistou respeito e notoriedade literária, além de uma situação financeira confortável, também surgiram sérios problemas pessoais. Até aquele momento, Oscar era apenas uma personalidade audaciosa da sociedade aristocrática britânica. Havia diversos rumores sobre sua conduta pessoal, inclusive sobre uma suposta homossexualidade, envolvendo-se com garotos de programa, que era considerada crime e severamente punida pelos tribunais.

Cyril Holland, filho de Oscar Wilde, e sua mãe Constance Holland


Oscar era o preso C-33 no presídio de Reading. Na madrugada de 3 de fevereiro de 1896, no período que estava cumprindo a sentença, alegou ter tido uma visão de sua mãe. "Eu a convidei para sentar, mas ela só balançou a cabeça", disse o escritor. Na manhã seguinte, recebe a notícia do falecimento de sua mãe.
Após ser libertado em 19 de maio de 1897, vai para a França e adota o pseudônimo Sebastian Melmouth. Este nome foi utilizado para abrir o registro no Hotel d’Alsace, local onde passou a maior parte de seus últimos dias. Ainda, mantém um contato distante com Lord Alfred Douglas. Porém, a mãe do Lord ameaça interromper sua mesada caso não afastasse-se do autor. Lord Alfred aceita sob a condição de que sua mãe continue enviando dinheiro a Oscar.
Após esse período conturbando, envolvendo as acusações, processos jurídicos, condenação e declínio moral e financeiro, Oscar conhece a face mais rude da pobreza. Passa a maior parte do tempo em quartos de hotéis baratos destruindo-se através do absinto. Envergonhados pelo destino do pai, os filhos de Oscar, os quais nunca mais os veria, chegam a trocar de nome. Sua esposa morre em 1899.



Sepultura de Wilde no cemitério Père Lachaise

Na manhã do dia 30 de novembro de 1900, às 9h50, em um quarto chulo de um hotel parisiense, falece vítima de um ataque de meningite (agravado pelo álcool e pela sífilis) e de uma infecção no ouvido conhecida por cholesteotoma. Inicialmente, seu corpo foi sepultado num pequeno cemitério de Bagneux. Em seu enterro, compareceram apenas o amigo pessoal Robert Boss, que chegou a fazer divulgação dos manuscritos do autor, e Lord Alfred Douglas, que arcou com as despesas do funeral. Posteriormente, o corpo de Oscar Wilde foi transferido para o cemitério Père Lachaise, onde repousa até hoje.

Após a morte de Oscar, Lord Alfred Douglas aparentou muito sofrimento, mas converteu-se ao catolicismo e casou-se. Este matrimônio, apesar de render um filho, não durou muito tempo e, devido à vida pregressa com Oscar, Alfred não pôde manter a guarda dos filhos. Em seu livro de memórias, Without Apology (Sem desculpas), escrito em 1938, fica evidente que Lord não esqueceu do escritor. Em 1945, falece Lord Alfred Douglas. Neste mesmo ano, O Retrato de Doryan Gray, ganha uma versão cinematográfica nos Estados Unidos, sob a direção de Albert Lewin. Amado por uns e repudiado por outros, a figura e a obra de Oscar Wilde são realmente dignas de admiração. Durante sua vida, rumores criados em torno da suposta vida irregular, atribuiu à sua imagem um encantamento e atração ainda maiores. Até mesmo a data de seu nascimento é alvo de controvérsia. Há historiadores que afirmam que o dia do nascimento seria realmente em 15 de outubro de 1855 ou 1856. De qualquer forma, a data do nascimento de Oscar Wilde é irrelevante perante sua obra.
Pode-se supor que a má fama prejudicou sua carreira literária. Mas seus admiradores afirmam o contrário: Oscar Wilde trazia a perfeita combinação de petulância e doçura. Em seus 46 anos de vida, o escritor rompeu as fronteiras do óbvio e tornou-se uma das maiores referências da literatura e do intelectualismo do século XIX. Autor de célebres aforismos e dono de pensamentos além de seu tempo, Oscar chegou a ter três peças em cartaz simultaneamente nos teatros ingleses; fato raro até os dias de hoje.
Além da inteligência, seu destaque também era obtido devido à personalidade forte, altiva, por vezes arrogante e anticonvencional; considerando-se, principalmente, o rigor da conduta moral da sociedade do século XIX.

Mesmo condenado, Wilde não abaixaria sua cabeça e declararia á todos que quisessem ouvir, o que se passava dentro de si:
"O amor que não ousa dizer o nome' nesse século é a grande afeição de um homem mais velho por um homem mais jovem como aquela que houve entre Davi e Jonatas, é aquele amor que Platão tornou a base de sua filosofia, é o amor que você pode achar nos sonetos de Michelangelo e Shakespeare. É aquela afeição profunda, espiritual que é tão pura quanto perfeita. Ele dita e preenche grandes obras de arte como as de Shakespeare e Michelangelo, e aquelas minhas duas cartas, tal como são. Esse amor é mal entendido nesse século, tão mal entendido que pode ser descrito como o `Amor que não ousa dizer o nome' e por causa disso estou onde estou agora. Ele é bonito, é bom, é a mais nobre forma de afeição. Não há nada que não seja natural nele. Ele é intelectual e repetidamente existe entre um homem mais velho e um homem mais novo, quando o mais velho tem o intelecto e o mais jovem tem toda a alegria, a esperança e o brilho da vida à sua frente. Que as coisas deveriam ser assim o mundo não entende. O mundo zomba desse amor e às vezes expõe alguém ao ridículo por causa dele."

Essas foram as palavras do literato em seu primeiro julgamento, em 26 de abril de 1895.

"O egoísmo não consiste em vivermos conforme os nossos desejos, mas sim em exigirmos que os outros vivam da forma que nós gostaríamos. O altruísmo consiste em deixarmos todo o mundo viver do jeito que bem quiser."

"A felicidade de um homem casado depende das mulheres com as quais não se casou."

"O maior castigo que o destino aplica ao homem casado é ver que sua mulher sempre acaba por se parecer com sua sogra."

"Para entendermos os outros, precisamos fortalecer a nossa própria personalidade."

"A única coisa de que podemos ter certeza acerca da natureza humana é que ela muda."

Resumo de O Retrato de Dorian Gray

Dorian Gray era um jovem de 20 anos pertencente à alta burguesia inglesa, de uma beleza física inimaginável, e foi retratado pelo pintor Basil Hallward, que se apaixonou pelo rapaz. Lorde Wotton era um homem extremamente inteligente, perspicaz, irônico e com grande vivência nos relacionamentos humanos, capaz de exercer forte influência sobre as demais pessoas. Este era amigo de Basil e tornou-se muito próximo de Dorian, passando a instigá-lo e a estudá-lo em suas reações e atitudes. Quando Dorian Gray deparou-se com a obra pronta (seu retrato) disse: "Que tristeza!" murmurou Dorian. "Que tristeza!" repetiu, com os olhos cravados na sua efígie. "Eu irei ficando velho, feio horrível. Mas este retrato se conservará eternamente jovem. Nele, nunca serei mais idoso do que neste dia de junho... se fosse o contrário! Se eu pudesse ser sempre moço, se o quadro envelhecesse!... Por isso, por esse milagre eu daria tudo! Sim, não há no mundo o que eu não estivesse pronto a dar a troca. Daria até a alma!". A partir daí, temos o desenrolar da história. Dorian apaixona-se por uma jovem artista, Sibyl Vane, que se apresentava num pequeno teatro. Então lhe fala em casamento. A moça, muito humilde, fica lisonjeada. Sua mãe e irmão, que estaria ingressando na Marinha, ficam preocupados. Dorian convida seus dois amigos, Basil e Lorde Wotton, para assistir a uma das apresentações da moça. Nessa noite, a moça representa muito mal. Dorian fica consternado. Seus amigos vão embora dando-lhe palavras de estímulo, enaltecendo a beleza da moça. Dorian vai até o camarim. Sibyl está feliz, e diz-lhe que, de agora em diante só viverá para o amor de Dorian. Toda a energia vital de Sibyl estava dirigida ao representar; assim que se apaixonou, sua energia foi dirigida para o objeto amado e apresentou-se como uma artista medíocre. Isto levou Dorian a desapaixonar-se. Então, ele a humilhou e desprezou. Virou lhe as costas para nunca mais voltar. Ao chegar a casa, Dorian, dirigiu-se a seu quarto e, ao olhar seu retrato, quase ensandeceu, ao perceber que o quadro havia se alterado. Seu sorriso não era mais o mesmo. Caracteriza-se pelo cinismo e maldade. Refletiu e percebeu que o quadro refletia sua alma. Portanto, deveria desculpar-se com Sibyl, assim o quadro voltaria ao normal. Entretanto, era tarde demais, Sibyl havia cometido suicídio. A partir de então, Dorian passou a viver tudo que lhe era ou não permitido. Passou a ter uma conduta fria e interesseira com todos à sua volta. Induziu pessoas a atos vulgares e criminosos, sempre impune. Assassinou seu amigo Basil, à facadas, quando este descobre o que está acontecendo. Leva outro amigo, um químico, ao suicídio após induzi-lo a desfazer-se do cadáver de Basil. Apenas o quadro se alterava, transformando-se numa figura monstruosa sendo que das mãos da imagem gotejava sangue. Dorian já contava com 40 anos, quando pensou em curar sua alma. Pensou em levar uma vida pura, sem magoar quem quer que fosse. E por isso não se aproveitou de uma camponesa. Ele se dá conta de que sua soberba o levou a esta vida de pecados. Amaldiçoou sua beleza e mocidade e pensou que sem elas sua vida seria pura. O que mais lhe doía era a morte, em vida, da sua alma. Dorian havia escondido o quadro num quarto desocupado, que fora de seu avô. Sobe até o quarto, olha o quadro e grita de terror. Apesar de suas boas ações, o quadro não se alterara para melhor como supunha, continuava a gotejar sangue ainda mais vivo e estava mais horrendo. Então Dorian percebe claramente a verdade: por vaidade, ele poupara a camponesa e a hipocrisia pusera-lhe no rosto a máscara da bondade. A única prova de seu mau caráter, de sua consciência, era o quadro. Então, resolveu destruí-lo. E, com a mesma faca com que matou Basil, trespassou o retrato. Ouviu-se um grito. Os criados acudiram. E, quando conseguiram adentrar ao quarto, viram na parede o magnífico retrato, e, no chão, jazia o corpo de Dorian, com a faca cravada no peito, que só pôde ser reconhecido pelos anéis em seus dedos.

http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u528.jhtm
http://www.spectrumgothic.com.br/literatura/autores/wilde.htm
http://www.paralerepensar.com.br/o_wilde.htm http://luceliaaziza.blogspot.com/2008_11_01_archive.html

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

OS TRÊS REIS MAGOS



Reis Magos, santos esquecidos dentro das tradições do Natal.
Das figuras bíblicas mais intimamente ligadas à tradição religiosa do povo destacam-se os Reis Magos, ou melhor, os Santos Reis uma vez que a hagiologia romana considera-os bem aventurados.
O simbolismo dos Reis Magos é amplo e emprestam-lhes os exegetas as mais diversas interpretações. Estão ligados intimamente às festas do Natal e deles nasceu, praticamente, a tradição do Papai Noel, pois os presentes dados nessa ocasião reproduzem que os magos do Oriente, depois de cumprida a rota que lhes indicava a estrela de Belém, prestaram a Jesus na gruta onde ele nascera.




As referências bíblicas são vagas e o episódio quase passa despercebido dos evangelistas, mas as contribuições da tradição patriática são muitas e, como elas têm força de fé e verdade, nelas devemos buscar grande parte das coisas que se contam dos santos Belchior, Gaspar e Baltazar já referidos pelos profetas do Velho Testamento, que vaticinavam a homenagem dos Reis ao humilde filho de Davi que deveria nascer em Belém.
De onde vieram e o que buscavam, pouca gente sabe. Vinham do Oriente e Baltazar, o mago negro talvez viesse de Sabá (terra misteriosa que seria o sul da Península Arábica ou, como querem os etíopes, a Abissínia). Simbolizam também as três unicas raças bíblicas, isso é, os semitas, jafetitas e camitas. Uma homenagem, pois, de todos os homens da Terra ao Rei dos Reis.




Eram magos, isto é, astrólogos e não feiticeiros. Naquele tempo a palavra mago tinha esse sentido, confundindo-se também com os termos sábio e filósofo. Eles prescrutavam o firmamento e sentiram-se chocados com a presença de um novo astro e, cada um deles, deixando suas terras depois de consultar seus pergaminhos e papiros cheios de palavras mágicas e fórmulas secretas, teve a revelação de que havia nascido o novo Rei de Judá e, que ele, como soberano, deveria, também, prestar seu preito ao menino que seria o monarca de todos os povos, embora o seu Reino não fosse deste mundo.


O simbolismo dos presentes



Conta ainda a tradição que, ao chegar a Canaã, indagaram os Magos onde havia nascido o novo Rei de Judá. Essa pergunta preocupou Herodes, o Grande, que hoje seria considerado um profissional a serviço dos romanos, e que reinava na Judéia.
Os representantes do Império preocupavam-se com o aparecimento de um novo lider do povo de Israel. A revolta dos macabeus ainda não fora esquecida e o povo oprimido esperava, ansioso, pela vinda do Messias que iria libertar o Povo de Deus e cumprir a palavra do salmista:
"Disse o Senhor ao meu Senhor — senta-te à minha direita até que ponho os teus amigos como escarbelo aos teus pés".
Os magos procuram — conforme conselho de Herodes — o novo Rei para render-lhe homenagem e para informar o representante romano do lugar onde nascera o Messias a fim de, com falso preito, sequestrá-lo.
No presépio encontramos apenas os animais e os pastores e, inspirados pelo Espírito Santo, curvaram-se diante do filho do carpinteiro de Nazaré e depositaram, ao pé da mangedoura que lhe servia de berço, os presentes: ouro, incenso e mirra, isto é prendas que simbolizavam a realeza, a divindade e a imortalidade do novo Rei, e grão de areia que cresceria e derrubaria o ídolo de pés de barro (simbolo das grandes potências que se sucederam no domínio do mundo), do sonho de Nabucodonosor decifrado pelo profeta Daniel.


Símbolos da humildade



Na tradição cristã os três Reis Magos simbolizavam os poderosos que deveriam curvar-se diante dos humildes na repetição real do canto da Virgem Maria à sua prima Isabel, e "Magnificat", pois sua alma rejubilava-se no Senhor, que exaltaria os pequenos de Israel e humilharia os poderosos.
A igreja cultua os Reis Magos dentro desse simbolismo. Representam os tronos, os potentados, os senhores da Terra que se curvara diante de Cristo, reconhecendo-lhe a divina realeza. É a busca dos poderosos que vêem em Belchior, Gaspar e Baltazar o exemplo de submissão aos designios de Deus e que devem, como os magos, despojar-se de seus bens e depositá-los aos pés dos demais seres humanos, partilhando sua fortuna como dignos despenseiros de Deus.
Os presentes de Natal também têm esse sentido. São as ofertas dos adultos à criança que com a sua pureza representa Jesus. Alguns, dão a essas festas um sentido mitológico pagão, buscando nas cerimônias dos druidas, dos germânicos ou saturnais romanas a pompa das festas natalinas que culminam com a Epifania.


A Bifana

A palavra epifania, usada também como nome de mulher, deu origem a uma corruptela dialetal do sul da Itália, levada depois a Portugal e Espanha, a Bifana. A Bifana, segundo a lenda, era uma velha que, no dia de Reis, saía pelas ruas da cidades a entregar presentes aos meninos que tivessem sido bons durante o ano que findara. Estava intimamente ligada às tradições dos povos mediterrâneos e mais próxima do significado litúrgico das festas natalícias. Os presentes eram somente dados no dia 6 de janeiro e nunca antes. Tanto assim é, que nós mesmos, no Brasil, na nossa infância, recebíamos os presentes nesse dia. Depois, com a influência francesa e inglesa em nossas tradições a Epifania ou Bifana foi substituída pelo Papai Noel, a quem muitos estudiosos atribuem uma origem pagã e outros, para disfarçar o sentido comercial da sua presença no dia de Natal, confundem com São Nicolau.
Hoje, o Santos Reis já não são lembrados. O presépio praticamente não existe e só neles é que podemos ver os Magos de Oriente apresentados. A árvore de Natal, pinheiro que os druidas e os feutos enfeitavam para agradar o terrível deus do inverno Hell, substituíria a representação do nascimento de Jesus, introduzida no costume dos povos por São Francisco de Assis. A festa da Epifania, dia de guarda no calendário litúrgico, já não mais é respeitada e com ela desaparecerem outras tradições da nossa gente, trazidas da Peninsula Ibérica pelos nossos antepassados, como a folia de Reis, Reizados e tantos outros autos folclóricos, cultuados em poucas regiões do país.


Gimenez, Armando. "Reis Magos, santos esquecidos dentro das tradições do Natal". Diário de São Paulo, São Paulo, 5 de janeiro 1958

Assista ao vídeo dos Reis Magos: http://video.msn.com/?mkt=pt-br&vid=60284425-8f41-440f-9741-dd45250c5408&playlist=videoByTag:tag:natal:ns:public:mk:pt-br:sf:ActiveStartDate:sd:-1:vs:0&from=PTBR_DiscoveryChannel&tab=s1222456332560

HERODES, O GRANDE


Herodes, o Grande

A maior parte do que conhecemos sobre sua vida nos é narrada pelo historiador judeu Flávio Josefo (historiador e apologista judaico-romano) que nos diz que, por ser um idumeu, a legitimidade de seu reinado era contestada pelos judeus. Numa tentativa de obter essa legitimidade, ele casou-se com Mariana, uma hasmoniana filha do alto sacerdote do Templo. Ainda assim, ele vivia temeroso de uma revolta popular, razão pela qual teria construído, como refúgio, afortaleza de Masada. Rei da Judéia e de toda a Palestina na altura do nascimento de Jesus. Era o segundo filho do edomeu Antipater, e assim um descendente dos antigos edomitas, mas era judeu de cidadania e profissão religiosa. Herodes foi um grande construtor e fundador de várias cidades magníficas, que foram construídas no estilo helenístico e esplendor. Estas incluíam duas cidades nomeadas em homenagem ao imperador Augusto: Samaria, à qual ele chamou Sebaste (grego que significa "Augusta"), e a Cesaréia em homenagem a César, que mais tarde se tornou a sua capital. Outras cidades ou fortalezas construídas por ele eram Masada, perto da margem ocidental do Mar Morto, Gaba na Galiléia , e Esbon (antiga Hesbon) na Pereia.



Cesaréia



Templo de Herodes-Jerusalém

A cidade de Jerusalém também recebeu a sua atenção. Começando em c. 20 B.C. ele reconstruiu o templo de Zorobabel, que estava praticamente em ruinas, e começou a erigir edificios magníficos dentro e à volta do templo. Construiu também um palácio real em Jerusalém, uma torre do qual ainda é parcialmente visível na secção inferior da denominada "Torre de David" na citadela. Herodes construiu também um teatro e um anfiteatro. Os judeus odiavam-no porque ele era edomeu e amigo dos romanos, e devido à sua vida privada escandalosa. Eles guardavam rancor da sua extrema crueldade e da sua imposição de impostos pesados a fim de suportar as suas construções.


O massacre dos inocentes (ilust.: Gustave Doré)

Herodes o Grande aparece na Bíblia no Novo Testamento como referência à data da altura em Lc 1:5, e na narrativa dos "homens sábios do oriente" relatado em Mt 2:1-18. Depois de ter ouvido que um descendente de David tinha nascido em Belém de acordo com uma profecia antiga, o rei deu ordens para matar todas as crianças daquela cidade. Este ato cruel não está registado na história secular. Herodes morreu no seu 34º ano de reinado com a idade de 69 anos em 4/3 D.C. muito provavelmente na primavera de 4 D.C.

Fontes: Enciclopédia Bíblica
Cortesia do site Jangada Brasil - www.jangadabrasil.com.br
http://pt.wikipedia.org/wiki/Folia_de_Reis

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

São Nicolau e a lenda de Papai Noel

Da mesma forma que milhões de crianças no mundo todo, eu adorava a chegada do Natal para poder ganhar presentes e ver Papai Noel. Sempre moramos no subúrbio do Rio, e nessa época, vivíamos em Cascadura, e minha mãe nos levava (eu, meu irmão e minha irmã) para Madureira ou para o Méier para vermos o "bom velhinho". Ele me pegava no colo, perguntava o que eu queria de presente e me dava balas deliciosas embrulhadas em papel vermelho, que não me saem da lembrança.
Ontem, li na internet um artigo de um amigo, no qual ele falava do seu desencanto em não sentir mais entusiasmo ao lembrar do Natal, que foi substituído pelo consumismo exacerbado, e a falta de solidariedade. Senti grande tristeza por ele.
Por ter consciência das imperfeições dos seres humanos, da maldade, das loucuras e da violência que nos cerca, é que quando estou triste, penso no espírito natalino com todas as coisas boas que ele me traz. Procuro pensar no meu tempo de infância e resgatar as coisas mágicas, bucólicas, ingênuas e dessa forma recarregar o ânimo e a disposição para seguir adiante.
Sou admiradora do Papai Noel, que está associado a São Nicolau, e que todos teimam em dizem não existir. Ele existe sim! Assim como Santo Agostinho, São Nicolau também era bispo e vivia na da cidade de Patara, na Turquia, humilde, bondoso em extremo e adorado por todos.

Conheçam um pouco mais da história desse santo surpreendente e bem-aventurado.



São Nicolau *Taumaturgo (*aquele que faz milagres) da cidade de Mira, da província de Lícia, é um santo especialmente querido pelos ortodoxos, e em particular, pelos russos. Ele ajuda ràpidamente em diversas calamidades da vida e perigos das viagens. Ele nasceu na Ásia Menor no final do séc. III. E desde a sua infância, demonstrou a sua profunda religiosidade e aproximou-se do seu tio, bispo da cidade de Patara e ainda jovem foi ordenado sacerdote.
Após a morte dos seus pais, São Niolau herdou uma grande fortuna a que começou a distribuir entre os pobres. Ele se empenhou em ajudar secretamente, para que ninguém pudesse agradecer-lhe. O seguinte caso mostra, como ele ajudava aos infelizes:
Havia na cidade de Patara um rico comerciante com 3 filhas. Quando as suas filhas chegaram à maturidade, as transações comerciais do pai delas fracassaram e ele chegou à completa falência. Daí ele teve uma idéia criminosa de usar a beleza das filhas para conseguir meios de sobrevivência. São Nicolau ficou ao par do seu plano e decidiu salvar a ele junto com as filhas de tal pecado e vergonha. Aproximando-se durante a noite à casa do comerciante falido ele jogou na janela aberta um saquinho com moedas de ouro. O comerciante, achando o ouro, com grande alegria preparou o enxoval da filha mais velha e arranjou-lhe um bom casamento. Passado um pouco de tempo, São Nicolau novamente jogou na janela um saquinho com ouro, o suficiente para o enxoval e o casamento da segunda filha. Quando o São Nicolau jogou o terceiro saquinho com ouro para a filha mais nova, o comerciante já estava à espera dele. Prostrando-se diante do Santo, agradeceu com lágrimas pela salvação da sua família de um horrível pecado e vergonha. Após o casamento das três filhas, o comerciante conseguiu recuperar os seus negócios e começou a ajudar aos próximos, imitando o seu benfeitor.
São Nicolau desejou visitar os lugares santos e embarcou num barco de Patara para a Palestina. O mar era calmo, mas ao Santo foi revelado que em breve haveria uma tempestade e ele avisou aos outros viajantes. E realmente, veio uma tremenda tempestade e o barco virou um brinquedo indefeso das ondas violentas. Como todos sabiam que São Nicolau era padre, todos pediram a ele rezar pela salvação. Após a oração do Santo, o vento se acalmou e veio uma grande calmaria. Depois disto, um dos barqueiros foi derrubado pelo vento do mastre ao convés e morreu. São Nicolau ressuscitou ele com suas orações.
Após a sua peregrinação a lugares santos, São Nicolau queria se isolar num deserto e passar a sua vida inteira longe dos homens. Mas não era esta a vontade de Deus. Deus escolheu o Santo a ser o bom pastor dos homens. São Nicolau ouviu uma voz, ordenando a ele voltar à sua pátria e servir aos homens.
Não querendo morar na cidade onde foi tão bem conhecido, São Nicolau foi a uma cidade vizinha, Mira. Esta era a capital da província de Lícia e aqui era estabelecida a sé episcopal. O Santo se estabeleceu lá como um pobre. Como ele amava a igreja, ele ía para lá diariamente , logo que se abriam as portas dela.
Nesta época o bispo de Mira faleceu e os bispos vizinhos se reuniram para eleger o seu sucessor.Como eles não conseguiam chegar à unanimidade na escolha, um deles aconselhou: "O Senhor deve Ele mesmo nos indicar a pessoa certa. Assim, irmãos, vamos rezar, jejuar e esperar pelo escolhido de Deus." E ao mais velho dos bispos Deus revelou,que a primeira pessoa a entrar na igreja após a abertura da porta deve ser eleito o bispo. Ele contou o seu sonho aos outros bispos e antes da missa da manhã, ficou vigiando a porta e esperando pelo eleito de Deus. São Nicolau, conforme o seu costume, chegou primeiro para rezar. Vendo o Santo, o bispo perguntou a ele: "Como é seu nome?" São Nicolau humildemente respondeu.
"Me siga, meu filho"- disse o bispo, pegou na mão dele, conduziu-o até a igreja e avisou, que ele será ordenado bispo de Mira.São Nicolau tinha medo de aceitar o cargo tão alto, mas teve que ceder à vontade dos bispos e do povo.




Após a sua ordenação, São Nicolau resolveu: "Até agora eu pude viver para mim mesmo e para a salvação da minha alma, mas daqui em diante todo o momento da minha vida deve ser dedicado aos outros." E esquecendo a si mesmo, o Santo abriu a porta de sua casa a todos e tornou-se o verdadeiro pai dos órfãos e pobres, defensor dos oprimidos e benfeitor a todos. Conforme o testemunho dos seus contemporâneos, ele era humile, pacífico, se vestia mais simplesmente possível, comeu só o estritamente necessário e ainda só uma vez por dia, à noite.
Quando, no reinado do imperador Diocleciano (284-305) começou a perseguição da Igreja, São Nicolau foi encarcerado. E lá na prisão ele também esqueceu a si e com as suas palavras e seu exemplo apoiava os cristãos, que estavam sofrendo junto com ele. Mas não era a vontade de Deus para que ele morresse como mártir. O novo imperador Constantino era benévolo aos cristãos e deu à eles o direito de abertamente confessar a sua fé e suas convicções religiosas.
E São Nicolau pode voltar ao seu povo. É quase impossível de enumerar todos os casos da ajuda dele e seus milagres. Aconteceu, que na Lícia começou fome. São Nicolau apareceu em sonho a um comerciante, que na Itália estava carregando seus barcos com trigo, deu a ele moedas de ouro e mandou-lhe navegar para a cidade de Mira na Lícia. Ao acordar, o comerciante achou na sua mão moedas de ouro, e possuido de um grande temor, não ousou desobedecer à ordem do Santo. Ele trouxe o seu trigo para a Lícia e contou aos habitantes o seu milagroso sonho, graças ao qual ele chegou lá.
Naquele tempo, em muitas igrejas começou uma forte agitação a respeito da heresia de Aria que negava a Divindade do Senhor Jesus Cristo. Para apaziguar a Igreja, o imperador Constantino o Grande convocou o Primeiro Concílio na cidade de Nicéia, em 325. Entre os bispos do Concílio estava também o São Nicolau. O Concílio condenou a heresia de Aria e elaborou o Credo, onde com palavras bem definidas ficou expressa a fé ortodoxa em Senhor Jesus Cristo, como Filho Unigênito, com a mesma essência do Pai. Durante os debates, São Nicolau, ouvindo a blasfemia do Aria, ficou tão indignado, que perante todo mundo bateu no rosto dele. Pela indisciplina, o Concílio desapossou São Nicolau da dignidade de bispo. Mas, logo após este incidente, alguns bispos tiveram uma visão em que Senhor Jesus Cristo entregou à São Nicolau Evangelho e Nossa Senhora colocou nele o Seu manto. Os bispos entenderam, como é contrária à Deus a heresia de Aria e reintegraram o São Nicolau no seu bispado.
Da hagiografia de São Nicolau sabemos, que uma vez o imperador condenou à morte 3 dos seus chefes. Estes se lembraram dos milagres de S. Nicolau e mandaram-lhe um pedido de ajuda. O Santo rezou e no sonho apareceu ao imperador e ordenou à ele libertar os seus fieis servos, ameaçando, que no caso contrário, o imperador será castigado. "Quem és tu - perguntou o imperador- que ousas mandar aqui?" "Eu sou Nicolau, arcebispo de Mira" , respondeu o Santo. Não ousando desrespeitar a ordem, o imperador reviu com atenção o caso dos seus chefes e libertou-os com as devidas honras.
Aconteceu, que saiu do Egito para a Líbia um barco. No mar começou uma horrível tempestade e o barco estava afundando. Algumas pessoas se lembraram do São Nicolau e começaram a rezar a ele. E viram claramente, como o Santo estava correndo à eles por cima das ondas enfurecidas, entrou no barco e pegou o leme com as suas mãos. A tempestade acalmou e o barco chegou ao porto ileso.
São Nicolau morreu muito velho em meados do século IV, mas com a morte dele, a sua ajuda não cessou. Durante mais de 1500 anos ele dá a sua rápida ajuda a todos, que rezam à ele. Os testemunhos da ajuda dele constituem uma vasta literatura e o amor da gente ortodoxa aumenta a cada dia.
Quando, em 1087 a provincia de Lícia foi devastada, o Santo apareceu no sonho a um padre em Bari, na Itália e mandou trasladar as suas relíquias para esta cidade. Esta ordem do Santo foi rapidamente cumprida e desde aquela época, o Santo repousa na igreja de Bari. As suas relíquias vertem bálsamo, que cura os doentes. Este acontecimento é comemorado em 22 de maio (9 de maio no estilo velho).

FESTA DE SÃO NICOLAU DE BARI



Uma das festas religiosas mais comemoradas no sul da Itália é a de São Nicolau em Bari. São Nicolau é um dos santos mais populares do cristianismo, mas não só. A atual representação com roupa vermelha bordada de branca tem origem no poema “A Visit from St. Nicholas” de 1821 de Clement C. Moore, que o descreveu como um senhor alegre e fofinho, contribuindo para difundir a figura mítica, folclórica, do Papai Noel. Na Igreja ortodoxa russa São Nicolau é geralmente o terceiro ícone ao lado de Cristo e Maria com o menino Jesus.


Os restos do Santo foram conservados na cidade turca de Mira até a ocupação dos muçulmanos. Bari e Veneza, na época rivais no mar Adriático, entraram em disputa para ficar com os restos. Em 9 de maio de 1087 uma expedição de Bari com três navios, partiu da cidade em direção a Mira: os bareses se apossaram assim dos restos mortais de São Nicolau.

Oração de São Nicolau


Deus, Todo-Poderoso, atendei às nossas preces e aceitai que Vos adoremos, prestando homenagem a São Nicolau, Sede bendito e louvado, eternamente, pelos dons que concedestes a esse Vosso Santo, e por nos haver dado São Nicolau com nosso protetor.São Nicolau, protegei-me contra os perigos do mar.São Nicolau, guiai-me. São Nicolau, socorrei-me. (Rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria).

Assista um desenho e um Clip de Natal:

http://br.youtube.com/watch?v=-EDf3TSlP8s&feature=related (Turma da Mônica)

http://br.youtube.com/watch?v=lA0vzY8FwO8&feature=related (mensagem de Natal)

Fontes:

Papai Noel : Uma Biografia - Gerry Bowler- Ed. Planeta (Brasil)

http://www.fatheralexander.org/booklets/portuguese/st_nicolas_p.htm;

http://www.blogbelavida.com/post/216/festa-de-sao-nicolau-em-bari

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

ÁLVARO MARINS - "Páginas esquecidas:Uma antologia diferente de contos machadianos"






No meu reengresso no curso de graduação em Literatura, só me deparei com "feras", e Álvaro Marins é uma delas. Quando fala de literatura seus olhos brilham de paixão pelo tema; cada autor, cada obra abordada por ele, se transforma num tesouro inigualável:
Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Vinicius de Morais, Rubem Fonseca, Osman Lins, Murilo Rubião, Manuel Bandeira e tantos outros, que com seu entusiasmo, acabava nos contagiando a todos de tal forma, que nos encantávamos por tudo que aprendíamos a cada aula.
Eu, particularmente, recorria à biblioteca e à internet para saber mais e mais sobre cada obra e autor citados.



Em agosto, Álvaro lançou "Páginas esquecidas: Uma antologia diferente de contos machadianos", coletânea em que ele privilegiou os contos que não pertencessem a antologias de cunhos valorativos, mas contos que tratavam os temas recorrentes e obsessivos de Machado de Assis: ciúme-ambição-dinheiro-parasitismo social (os parasitas são muito importantes na obra de Machado)-hipocrisia; os narradores. Fala também, da crítica ácida que Machado fazia aos personagens românticos.







Resumo do livro:

Em 'Páginas esquecidas: uma antologia diferente de contos machadianos', de Machado de Assis, é possível saborear uma nova visão crítica da obra deste grandioso escritor, no ano que marca o centenário de sua morte. Organizada por Álvaro Marins, esta antologia, que integra a coleção Sal da Língua, apresenta 16 contos machadianos, com temas que se relacionam a partir de diferentes abordagens elaboradas pelo escritor. Nos temas, “o parasitismo decadente da classe patrimonial”, “a psicologia velhaca dos representantes do patrimonialismo” e até mesmo “o jogo de aparências e o teatro de futilidades de paixões muito mais encenadas do que vividas”, assim denominados pelo organizador, que afirma ainda ser possível observar, através desses textos, a trajetória estética de Machado e o amadurecimento do escritor sobre determinadas questões.

Livro de Álvaro Marins(org.)
Editora: Língua Geral
R$ 45,00

Onde comprar: em todas as livrarias e também no site : http://www.linguageral.com.br/

Leia o primeiro capítulo de "Páginas esquecidas:Uma antologia diferente de contos machadianos" : http://www.linguageral.com.br/site/downloads/titulos/69.pdf


MACHADO DE ASSIS - Vida e Obra


Joaquim Maria Machado de Assis nasceu dia 21 de junho de 1839, na cidade do Rio de Janeiro. O garoto pobre, filho de um operário mestiço chamado Francisco José de Assis e de Maria Leopoldina Machado de Assis, marcou a história da literatura brasileira. Ao contrário do que se imagina, a trajetória de Machado de Assis não o conduziu naturalmente para o mundo das letras. Ainda na infância o jovem “Machadinho”, como era carinhosamente chamado, perdeu sua mãe. Durante sua infância e adolescência foi criado por Maria Inês, sua madrasta. A falta de recursos financeiros o obrigou a dividir seu tempo entre os estudos e o trabalho de vendedor de doces. Ainda sobre condições não muito favoráveis, Machado de Assis demonstrava possuir grande facilidade de aprendizado. Segundo alguns relatos – no tempo em que morou em São Cristóvão – aprendeu a falar francês com a dona de uma padaria da região. Já aos 16 anos conseguiu publicar sua primeira obra literária na revista “Marmota Fluminense”, onde registrou as linhas do poema “Ela”. No ano seguinte, Machado conseguiu um cargo como tipógrafo na Imprensa Nacional e dividiu seu tempo com a criação de novos textos. Durante sua estadia na Imprensa Nacional, o escritor iniciante teve a oportunidade de conhecer Manuel Antônio de Almeida, diretor da instituição e autor do romance “Memórias de um sargento de milícias”. O contato com o diretor lhe concedeu novas oportunidades no campo da literatura e o alcance de outros postos de trabalho. Aos 19 anos de idade, Machado de Assis se tornou colaborador e revisor do Jornal Marmota Fluminense. Nesse período conheceu outros expressivos escritores de seu tempo, como José de Alencar, Gonçalves Dias, Manoel de Macedo e Manoel Antônio de Almeida. Nesse tempo ainda se dedicou à escrita de obras românticas e ao trabalho jornalístico. Entre 1859 e 1860, conseguiu emprego como colaborador e revisor de diferentes meios de comunicação da época. Entre outros jornais e revistas, Machado de Assis escreveu para o Correio Mercantil, Diário do Rio de Janeiro, O Espelho, A Semana Ilustrada e Jornal das Famílias. A primeira obra impressa de Machado de Assis foi o livro “Queda que as mulheres têm para os tolos”, onde aparece como tradutor. Na década de 1860, consolidou sua carreira profissional como revisor e editor. Na mesma época conheceu Faustino Xavier de Novais, diretor da revista “O futuro” e irmão de sua futura esposa. Seu casamento com Carolina foi bem sucedido e marcado pela afinidade que sua companheira também possuía com o mundo da literatura. Em 1867, Machado de Assis publicou seu primeiro livro de poesias, intitulado “Crisálidas”. O sucessoda carreira literária teve seqüência com a publicação do romance “Ressurreição”, de 1872. A vida de intelectual foi amparada por uma promissora carreira constituída no funcionalismo público. A conquista do cargo de primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas ofereceu uma razoável condição de vida. No ano de 1874, produziu o romance “A mão e a luva” em uma seqüência de publicações realizadas dentro do jornal O Globo, na época, mantido por Quintino Bocaiúva. O prestígio artístico de Machado de Assis o tornou um autor de grande popularidade. Durante as comemorações do tricentenário de Luís de Camões, produziu uma peça de teatro encenada no Imperial Teatro Dom Pedro II. Entre 1881 e 1897, o jornal Gazeta de Notícias abrigou grande parte daquelas que seriam consideradas suas melhores crônicas. O ano de 1881 foi marcante para a carreira artística e burocrática de Machado de Assis. Naquele mesmo ano, Machado tornou-se oficial de gabinete do ministério em que trabalhava e publicou o romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, considerado de suma importância para o realismo na literatura brasileira. A ampla rede de relações e amizades de Machado de Assis lhe abriu portas para um outro importante passo na história da literatura brasileira. Em reuniões com seu amigo, e também escritor, José Veríssimo confabulou as primeiras medidas para a criação da Academia Brasileira de Letras. Participando ativamente das reuniões de escritores que apoiavam tal projeto, Machado de Assis tornou-se o primeiro presidente da instituição. Com a sua morte, em 1908, foi sucedido por Rui Barbosa. A trajetória de Machado de Assis é alvo de interesse dos apreciadores da literatura e de vários pesquisadores. A sua obra conta com um leque temático e estilístico bastante variado, dificultando bastante o enquadramento de seu legado em um único gênero. O impacto da sua obra chegou a figurá-lo entre os principais nomes da literatura internacional.










Obras de Machado de Assis:

Romances:

"Ressurreição" (1872)
"A Mão e a Luva" (1874)
"Helena" (1876)
"Iaiá Garcia" (1878)
"Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
"Casa Velha" (1885)
"Quincas Borba" (1891)
"Dom Casmurro" (1899)
"Esaú e Jacó" (1904)
"Memorial de Aires" (1908)

Contos:

"Contos Fluminenses" (1870)
"Histórias da Meia-Noite" (1873)
"Papéis Avulsos" (1882)
"Histórias Sem Data" (1884)
"Várias Histórias" (1896)
"Páginas Recolhidas" (1899)
"Relíquias de Casa Velha" (1906)

Poesia:

"Crisálidas" (1864)
"Falenas" (1870)
"Americanas" (1875)
"Gazeta de Holanda" (1886-88)
"Ocidentais" (1901)
"O Almada" (1908)
"Dispersas" (1854-1939)
Crônicas:
"Comentários da Semana" (1861-1863)
"Crônicas do Dr. Semana" (1861-1864)
"Crônicas - O Futuro" (1862-1863)
"Ao Acaso" (1864-1865)
"Cartas Fluminenses" (1867)
"Badaladas" (1871-1873)
"História de Quinze Dias" (1876-1877)
"História dos Trinta Dias" (1878)
"Notas Semanais" (1878)
"Balas de Estalo" (1883-1886)
"Bons Dias!" (1888-1889)
"A Semana" (1892-1800)

Teatro:

"As Forças Caudinas" (1956)
"Hoje Avental, Amanhã Luva" (1860)
"Desencantos" (1861)
"O Caminho da Porta/O Protocolo" (1863)
"Quase Ministro" (1864)
"Os Deuses de Casaca" (1866)
"O Bote de Rapé" (1878)
"Tu, só Tu, Puro Amor" (1880)
"Não Consultes Médico" (1899)
"Lição de Botânica" (1906)



Álvaro Marins é doutor em Teoria Literária pela UFRJ e professor adjunto do Centro Universitário da Cidade. É autor de "Machado de Assis e Lima Barreto: da ironia à sátira" (Rio de Janeiro, Utópos, 2004) e organizador, junto com Fred Góes, do volume "Melhores poemas de Paulo Leminski" (São Paulo, Global Editora, 6a ed., 2003), "Páginas esquecidas: Uma antologia diferente dos contos machadianos" (Rio de Janeiro, Língua Geral, 2008).



Assista a entrevista de Álvaro Marins ao programa GloboNews Painel Literatura com Edney Silvestre - agosto de 2008: http://especiais.globonews.globo.com/machadodeassis/2008/09/18/livre-reune-as-obsessoes-de-machado-de-assis/

Fontes: http://www.brasilescola.com/literatura/biografia-machado-assis.htm

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

VISITEM OS BLOGS QUE EU ACOMPANHO

Ângela Lopes

Quem sou eu
Uma pessoa transparente, que gosta de ouvir e de ser ouvida, sincera, amiga, verdadeira, que é calma e às vezes nervosa, sentimental e às vezes firme...


http://www.omundodeangelalopes.blogspot.com/

Geraldo D'Almeida Alves

Quem sou eu
Escritor, pesquisador e palestrante de Filosofia




http://alvesgeraldo2.blogspot.com/;



quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

APENAS OS IDIOTAS CONSEGUEM EXPLICAR O AMOR
para Rejane


Quando ele veio trouxe uma mala velha cheia de livros. Naquele mesmo dia enfiou-a embaixo da nossa cama. Todas as manhãs colocava a mala em cima da cama e ficava a olhar e chorar em meio às páginas dos livros. Um dia tomei coragem e perguntei a razão daquilo e ele respondeu que chorava pelas pessoas tristes que assim eram porque não tinham coragem de chorar. E chorou ainda mais, dia após dia, depois daquele dia.
Quando ele veio, também trouxe consigo uma outra mala, não tão velha, cheia de CDS. Tinha de quase tudo, de jazz a bossa nova passando por MPB, samba e rock. Alguns ele costumava ouvir no carro, mas a maioria escutava em casa quando me mostrava e se entristecia por eu não gostar. Com a música ele não chorava, mas não parava de fazer anotações a cada disco que escutava. Dizia que as músicas acordavam lembranças e que tudo que escrevia resultava dessas recordações, por isso anotava.
Ele gostava de rir, agora eu sei que ele ria para encobrir a tristeza. E ele era triste por tantas coisas, um dia, a garrafa de vinho pela metade, me confessou que tudo o entristecia e que por isso pensava seriamente em se matar. Sei que foi feliz comigo, que foi feliz com o que eu podia lhe dar; não posso almejar mais do que isso. Em primeiro lugar, porque ele não me permitia outras ações, em segundo; porque ele era assim e mais tarde entendi o porquê de ele viver dizendo que as pessoas não mudam. Ele bem que tentava, mas não conseguia mudar.
Uma vez uma amiga o aconselhou a rezar e ele disse que não acreditava em rezas e tampouco em Deus.Como crer em alguém capaz de prometer uma vida eterna à uma criança e logo permitir que ela morra com pouco mais de dois meses de vida.


Anteontem, no começo da noite ele ligou o computador e me chamou.
-Sim.
-Gostaria que você lesse e me desse sua opinião.

Ele tinha acabado de escrever mais um de seus livros. Antes de ler tomamos uma garrafa de vinho.Depois, vim para o computador, ele sentou no sofá e mais uma vez começou a ler o Dom Quixote. Por volta das quatro da manhã terminei de ler o livro. Não sabia o que dizer. Ele dormia no sofá em minha frente, acordei-o.

-Leu?
-Li.
-Está bem escrito?
-Está.
-E da história, você gostou?
-Primeiro quero saber se você gostou? Você gosta das histórias que cria?
-Gostei, gosto.
-Mesmo com tanta dor, tanta morte?
-A morte é o apogeu da dor. Mas dói, escrever me dói tanto, meu amor, me faz sofrer tanto,eu me vingo de mim, eu me vingo... Vivo a me perguntar: será que um dia conseguirei me consertar?, às vezes me canso de mim...queria tanto ser mais útil para aqueles que precisam de mim, principalmente meus filhos. Preciso escrever um livro sem defeitos. E afinal, você gostou?
-Preciso ler de novo.
Mas saiba que essa insatisfação não é sua apenas. Eu poderia fazer muito mais se não fosse tão desorganizada e até certo ponto "irresponsável". Por certo, poderia dar uma condição de estabilidade futura muito melhor a meu filho, uma qualidade e vida melhor a meu pai e mais tranqüilidade a todos que me cercam.
Não seja tão duro com você.
Sofra, porque isso é inevitável, sempre podemos fazer melhor. Sinal de consciência, mas não tanto que aniquile com sua felicidade. Por favor!Por que eu dependo dela.
Seja um pouco mais modesto. Aliás, não. Quem sabe possa escrever o tal livro perfeito, afinal você é você.

-Se você vai precisar ler de novo é sinal que está ruim, um livro bom não precisa de mais de uma leitura para ser entendido.

Levantou e saiu. Fui dormir.
Quando acordei ele estava escrevendo.
-Deixa eu ler de novo?
-Deletei.
-Você está brincando! Tinha umas frases tão bonitas, pena que não anotei.
-Agora é tarde.Estou escrevendo outro.
-Sobre o que é?
-É a história de um homem que tinha dois medos; de amar e de morrer.


Eu sabia que se tratava da história dele. Afinal de contas um homem que se separa cinco vezes é porque tem medo de amar. Se bem que às vezes fico em dúvida. Talvez ele não tenha medo de amar, o que ele faz é assustar com seu jeito de amar.
Lembro do dia em que ele me revelou que se descobrira apaixonado por outra mulher, mas isso não significava que precisasse deixar de me amar. Pedi que explicasse e ele contou que uma antiga colega de faculdade tinha revelado que sempre prestara atenção nele, tinha um interesse especial. Ele estava comigo e me amava, nunca tive dúvida, mas ouvir ele dizer que a ex-colega também lhe despertava interesse, não me fez muito bem. Tentei deixar pra lá, afinal de contas desde o começo de nossa relação me convenci que o que ele mais precisava era de amor e atenção.Nunca vi alguém tão carente e solitário quanto ele. Impressionante! Ele precisava de amor e atenção das pessoas que ele escolhia, não era o amor de quem precisava amá-lo. Coisa de enlouquecer. Não, não foi nem uma nem duas vezes que cheguei a pensar que ele estava ficando louco. Ao mesmo tempo me perguntava como um louco conseguia ser um amante quase perfeito. Louco ou quase louco não importava, eu o queria ao meu lado. Mas eu sofria.
-Querido, vou te amar pra sempre, no que depender de mim essa relação nunca terá fim.
-Deixar de te amar...só se eu enlouquecer.
-Mesmo assim, continuarei a te amar, te amarei feito uma louca.



Ficamos juntos um longo tempo e agora tenho que admitir que foi um erro. A pior escolha que uma mulher pode fazer é essa, viver com um escritor; estão sempre insatisfeitos. A ele tudo incomodava, nunca entendi a facilidade com que chorava, para que serve um escritor, por que não escrevem coisas só para a gente se distrair, por quê? Ele precisava da tristeza, da dor, para escrever.
Quando ele veio me trouxe um medo: que a cada mulher inteligente e culta que conhecesse, seria capaz de amar, afinal de contas tinha me dito que entendia ser amor sinônimo de liberdade. E de vez em quando se punha a falar das ex-mulheres;o que incomodava não eram as lembranças das fartas frustrações de seus relacionamentos e sim a lembrança/saudade dos momentos bons vividos com aquelas mulheres.Por que não as esquecia por completo? É assim, as coisas ruins existem para nos fazer lembrar das coisas boas, eu não suportava, embora ele estivesse aqui, comigo.Sempre muito carinhoso. De tanto sentir medo escrevi um livro de poesia, todas sobre o mesmo tema. Uma é esta.
Acho que é impossível mascarar o medo
...o medo é uma merda...mas
De todos os medos que me castigam
Tem um que é especial
Ele se fantasia
Com as cores da crueldade e da compaixão
É mais triste que o medo da morte
Mais frio que o medo da noite
Ou mais alienante que o sonho da sorte
É o medo louco de não ser ninguém
de virar mendiga
Patética criatura do chão
Onde só fotógrafos sádicos
Conseguem focalizar poesia
Em tamanha degradação

Quando ele veio trouxe um vazio imenso que conseguimos amenizar, tinha dias que ao vê-lo tão triste me dava vontade de queimar aquela mala, parecia que as dores que o castigavam estavam todas ali. E ele fazia questão de renová-las.
Hoje pela manhã ele se foi.
-Por quê?
-Só tenho repetições a lhe oferecer, você merece mais.
-Mas que pretensioso, quem você pensa que é para dizer do que preciso ou deixo de precisar?
-Não sei de mais nada, tenho uma certeza apenas; tudo é muito triste. Em certos dias quase tive certeza do meu amor por você.
-E agora, agora...que dia é hoje? Dia da incerteza? Então quem sabe amanhã você tornará a me amar?

- Não estou brincando. Faz tempo que o amor é só mais um pedaço do meu sofrimento, cansei.
-Porra, mas que merda de amor é esse que opta pela separação?
-Esse é o meu amor, um jeito de amar que me desagrada, mas basta!, apenas os idiotas conseguem explicar o amor.
Hoje pela manhã ele se foi, não levou a mala.
Quando ele voltar...............


Luíz Horácio Rodrigues nasceu em 1957, em Quaraí (RS). É professor de língua portuguesa e literatura, e coordena o curso de pós-graduação Literatura-produção literária, das Faculdades Monteiro Lobato, de Porto Alegre. Colabora com os jornais O Globo, Jornal do Brasil, Rascunho e revistas. É também roteirista, documentarista e autor teatral. Escreveu os livros Perciliana e pássaro com alma de cão - ed. Conex e Nenhum pássaro no céu - ed. Fábrica de Leitura.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

REISADO: PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO



O reconhecimento do reisado como patrimônio brasileiro, foi reinvindicado em seminário no IV Encontro Mestresdo Mundo, encerrado no último sábado 06/12/08. Segundo o pesquisador cearense Oswald Barroso, "O reisado é um folguedo que se desenvolve no Brasil inteiro, com uma variedade imensa e uma importância enorme para as diversas artes. Mapear essa manifestação, para esse processo de registro seria um desafio enorme, dada a sua complexidade e diversidade". Juntamente com a capoeira, agora teremos a certeza que essa bela festa popular, será preservada para o deleite de gerações futuras.

REISADO



O Reisado é uma das pantomimas folclóricas mais ricas e mais apreciadas, principalmente no Nordeste. Faz parte do repertório das Festas Jesuínas, e é apresentado de 24 de dezembro a 6 de janeiro, isto é, pelo Natal, Ano Bom e Reis. O Reisado é formado por um grupo de foliões, de pastores e pastoras que se reúnem numa espécie de rancho, com o fim de visitar as casas das pessoas mais gradas e hospitaleiras da região, a cantar e a dançar. O reisado apresenta diversas modalidades e compõe-se de várias partes: a) abrição da porta; b) entrada; c) louvação ao Divino; d) chamadas do rei; e) peças de sala; f) danças; g) a guerra; h) as sortes; i) encerramento da função. Tem como principais personagens: o rei, o mestre, o contramestre, Mateus, Catarina, figuras e moleques.

Indumentária:


Rei - culote até os joelhos, terminado por franjas, blusa de cetim de cor diferente com mangas compridas; no peito, espelhinhos; manto de cetim dourado que cai até os joelhos; coroa de ouro, cetro.

Mestre - chapéu de palha, forrado de cetim, de aba dobrada na testa (como usam os cangaceiros) adornado com muitos espelhinhos, bordados dourados e flores artificiais; da parte não dobrada da aba pendem fitas compridas de cores variadas, saiote de cetineta até a altura dos joelhos, de cores vivas, com grega de galões largos; por baixo saia branca, com dois ou três babados; blusa, peitoral e capa. Contramestre - idêntica à do Mestre, porém menos pomposa.

Mateus -
paletó e calça de brim com placas de remendos, alpercatas de couro cru, chapéu de palha enfeitado com espelhinhos e franjas, penduricalhos ao peito, como se fossem medalhas, cantil e bornal a tiracolo; pandeiro, espingarda de bambu.




Catarina/Catirina (palhaça) - roupa de tecido xadrez, de maneira a lembrar um palhaço.

Figuras - trajes idênticos ao do mestre, porém mais pobres e mais simples.
Inicia-se o folguedo com o rei seguido do mestre e do contramestre e acompanhado de meninos que trazem grandes candeias de querosene, conduzindo o reisado. Atrás seguem os dançadores de entremeios, com baús cheios de máscaras e trajes. Entoam marchas ao som de violas, harmônicas, maracás, rabeca, pandeiros e vão em demanda das casas onde celebram sua função.

Abrição da porta:

O mestre dirige a evolução do episódio por meio de apitos. Canta-se e dança-se com volteios altivos e elegantes. O reluzir dos espelhos e das lantejoulas produz grande efeito pictórico. Mateus vai aboiando dando uma nota de comicidade à função. Terminam pedindo licença para entrar.













Entrada:
Entram os tocadores, criando animação, seguidos do rei, do mestre, do contra-mestre e das figuras, portando-se todos com garbo e imponência. Cantam a peça da entrada e fazem elogios ao dono da casa. Executam marchas e contramarchas em ritmo ligeiro e com passos arrastados.

Louvação ao Divino:

O reisado dirige-se ao presépio ou à capela da casa visitada. Ajoelham.
Cantam em louvação ao Divino, ao som da música, mas os maracás são abafados com as mãos para produzir um som surdo. Voltam à sala. O rei ocupa o trono. As figuras colocam-se em duas filas. Realizam-se, então, os entremeios, os episódios de guerra e as embaixadas. O mestre dirige a peça.

Chamadas do rei:

Ao fim de uma peça, ou de um entremeio, o rei levanta-se do trono, chama o mestre e com ele cruza sua espada, em ressoantes entrechoques, enquanto estabelece com ele uma série de embaixadas.

Peças de sala:

Antes e depois das embaixadas, são cantadas e dançadas as peças de sala. Estas são críticas, comentários, sátiras sobre fatos ou acontecimentos ligados à vida de pessoas ou do povo da região.

Danças:

As danças são numerosas e variadas, como, por exemplo, a dança do gingá com o entremeio da mamãe velha.

A Guerra:

O mestre apita e o primeiro embaixador atende. Cruza espadas e inicia embaixadas de guerra, primeiro com o mestre, depois com o rei. Quando chega a vez do segundo embaixador, as embaixadas já se tornam cansativas, repetindo-se as batidas de espadas. Por fim, todos os figurantes, inclusive o rei e o mestre se empenham na luta e o combate se torna geral.

As sortes:

Todos os figurantes, até o próprio rei, atiram seus lenços aos donos da casa e à assistência. Estes os devolvem com dinheiro dentro. Recolhidas as sortes, o mestre apita e as filas de dançarinos se afastam para os lados. Então começam os entremeios. Estes são composições teatrais, jocosas, burlescas, como o bumba-meu-boi, o cavalo-marinho, etc.
Encerrados os entremeios, voltam as danças e cantorias de peças, sucedem-se as embaixadas até que sejam apresentados novos entremeios. Note-se, de passagem, que os personagens dos entremeios não tomam parte nas danças das embaixadas.
São os entremeios que dão maior brilho a esta dança dramática e são tão apreciados que alguns são apresentados mesmo fora de sua época como, por exemplo, (o famoso bumba-meu-boi, o boi simboliza o do presépio) que, inicialmente, era o principal entremeio do reisado e é levado agora também nas Festas Juninas.



Muitos destes entremeios, deliciosos quadros independentes, revelam um espirito chistoso, outros se inspiram em motivos míticos ou totêmicos, como o Zabelê.

Folharal:

Nesta dança, o personagem oculta a cabeça sob uma cabaça donde pendem longas folhas de samambaia, traja um camisolão coberto de folhas e capim. Aumenta seu fantástico aspecto quando os longos cabelos de samambaia esvoaçam nos continues rodopios dados pelo bailarino.
Zabelê: O dançarino, disfarçado num saco pintado, usando máscara com bico, dança e assobia, imitando o pássaro jacu.

Curiabá:
O dançarino imita o macaco, se coça dançando e faz mil trejeitos engraçados.


Sapo Cururu:

Agachado no chão, o dançarino coaxa e dá estranhos pulos.




Alma, Diabo e Miguel:


É um entremeio que deixa a assistência suspensa e trêmula de medo. A alma, envolta em lençol branco, desfiando um rosário, gemendo, aparece. Foge do Diabo que, todo vestido de vermelho com rabo e garras afiadas, a persegue. Agarra-a mas quando já a arrasta para o inferno, interpõe-se no seu caminho o anjo São Miguel, geralmente representado por uma moça, de asas brancas e espada em riste. Trava-se uma luta entre ele e o Diabo que é vencido. Há um forte estouro de pólvora na sala e o Diabo aproveita a oportunidade para desaparecer da cena. Suspiros de alívio na assistência.
Entre inúmeros outros, podem-se ainda citar o
Lobisomem, o Matuto e o Fantasma, o Capitão de Campo, o Pescador e a Sereia.


E assim, os artistas que representam os entremeios aproveitam cada embaixada para correrem aos baús por eles trazidos no cortejo, de onde tiram febrilmente suas fantasias inesgotáveis.
Data de registro: meados do século XX (~1950)

Para assistir a festa do Reisado (luta de espadas) , acesse os links: http://br.youtube.com/watch?v=ENSR4NfdjRc; http://br.youtube.com/watch?v=ym4Hbj_vqSI

REISADO NA VISÃO DE LUÍS DA CÂMARA CASCUDO


Luís da Câmara Cascudo, no seu Dicionário do folclore brasileiro, diz que Reisado é a denominação erudita para os grupos que cantam e dançam na véspera e Dia de Reis.
O Reisado chegou ao Brasil através dos colonizadores portugueses, que ainda conservam a tradição em suas pequenas aldeias, celebrando o nascimento do Menino Jesus. Em Portugal é conhecido como Reisada ou Reseiro.



No Brasil é uma espécie de revista popular, recheada de histórias folclóricas, mas sua essência continua a mesma, com uma mistura de temas sacros e profanos.
O Reisado é formado por um grupo de músicos, cantores e dançarinos que percorrem as ruas das cidades e até propriedades rurais, de porta em porta, anunciando a chegada do Messias, pedindo prendas e fazendo louvações aos donos das casas por onde passam.
A denominação de Reisado persiste ainda em Alagoas, Sergipe e Bahia. Em diversas outras regiões o folguedo é chamado de
Bumba-meu-boi, Boi de Reis, Boi-Bumbá ou simplesmente, Boi. Em São Paulo é conhecido como Folia de Reis, onde a festa é composta de apresentações de grupos de músicos e cantores, todos com roupas coloridas, entoando versos sobre o nascimento de Jesus Cristo,liderados por um mestre.
Fazem parte do espetáculo os “entremeios” (corruptela de entremezes), pequenas encenações dramáticas que são intercaladas com a execução de peças, embaixadas e batalhas. Os personagens são tipos humanos ou animais e seres fantásticos humanizados, cheios de energia e determinação.
O folguedo do ciclo natalino é comemorado em várias regiões brasileiras, principalmente no Norte e Nordeste
, onde ganhou cores, formas e sons regionais. Em Alagoas, constitui-se numa representação dramática, normalmente curta e pobre de enredo, acompanhada e precedida de canto.

Em Sergipe, é apresentado em qualquer época do ano e não apenas nas festas de Natal e Reis. Os temas de seu enredo variam de acordo com o lugar e o período em que são encenados: amor, guerra, religião, entre outros.

O Reisado apresenta diversas modalidades e é composto de várias partes: a abertura ou abrição de porta; entrada; louvação ao Divino; chamadas do rei; peças de sala; danças; guerra; as sortes; encerramento da função.

A música no Reisado está sempre presente. O Mestre é o solista, sendo respondido pelo coro a duas vozes. Os instrumentos utilizados alternadamente são: a sanfona, o tambor, a zabumba, a viola, a rebeca ou violão, o ganzá, pandeiros, pífanos e os “maracás”, chocalhos feitos de lata, enfeitados com fitas coloridas.

Há uma grande variedade de passos nas danças do Reisado, entre os quais pode-se destacar: do Gingá, onde os figurantes de cócoras se balançam e gingam; da Maquila, um pulo pequeno com as pernas cruzadas e balanços alternados do corpo para os lados, passo também exibido pelos
caboclinhos; Corrupio, movimento de pião com o calcanhar esquerdo; Encruzado, cruzando-se as pernas ora a direita à frente da esquerda, ora ao contrário.

Tem como personagens principais o Mestre, o Rei e a Rainha, o Contramestre, os Mateus, a Catirina, figuras e moleques.

O Mestre é o regente do espetáculo. Utilizando apitos, gestos e ordens, comanda a entrada e saída de peças e o andamento das execuções musicais. Usa um chapéu forrado de cetim, de aba dobrada na testa (como o dos cangaceiros), adornado com muitos espelhinhos, bordados dourados e flores artificiais, de onde pendem fitas compridas de várias cores; saiote de cetim ou cetineta de cores vivas, até a altura dos joelhos, enfeitado com gregas e galões, tendo por baixo saia branca, com babados; blusa, peitoral e capa.

O traje do Rei deve ser mais bonito e enfeitado. Veste saiote ou calção e blusa de mangas compridas de cores iguais, peitoral, manto de cores diferentes em tecido brilhante (cetim ou laquê);calça sapato tênis (tipo conga), meiões coloridos e na cabeça uma coroa feita nos moldes das dos reis ocidentais, semelhante a das outras figuras, porém encimada por uma cruz; levam nas mãos uma espada e, às vezes, também um cetro. Durante o cortejo os Reis vêm na frente, logo atrás do Mestre e do Contramestre. A Rainha é representada por uma menina, com vestido “de festa”, branco ou rosa, uma coroa na cabeça e um ramalhete de flores nas mãos.




O Contramestre é o responsável pelo Reisado na ausência do Mestre. Seu traje é semelhante ao daquele, só que menos pomposo.

Os Mateus, que sempre aparecem em dupla, usam trajes diferentes dos outros figurantes: vestem paletós e calças de tecido xadrez, usam um grande chapéu afunilado que chamam de cafuringa, com espelhos e fitas coloridas, óculos escuros, rosto pintado de preto, geralmente com tisna de panela ou vaselina e levam nas mãos os pandeiros. São os personagens cômicos do Reisado, junto com a Catirina.

Conhecida antigamente como Lica, a Catirina é a noiva do Mateus. Veste-se de preto, traz um pano amarrado na cabeça, o rosto pintado de preto e um chicote nas mãos, com o qual corre atrás das moças e crianças.

As outras figuras formam o coro do Reisado, que participam ativamente apenas nas batalhas, nas danças e no canto, quando respondem ao solo do Mestre. Formam duas fileiras simétricas, organizadas hierarquicamente e posicionadas uma do lado direito outra do lado esquerdo do Mestre.
É uma das tradições populares mais ricas e apreciadas do folclore brasileiro, principalmente na região Nordeste.

FONTES CONSULTADAS:
.BARROSO, Oswald. Reis de Congo. Fortaleza: Museu da Imagem e do Som, 1996.
.RIBEIRO, José. Brasil no folclore. Rio de Janeiro: Gráfica Editora Aurora, 1970.
.DALWTON MOURA-
http://diariodonordeste.globo.com;
http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/6ritos/reisado.html; http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=316&textCode=5772&date=currentDate